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Secretário-geral da NATO avisa Rússia para não "se imiscuir" na Bielorrússia

por Graça Andrade Ramos - RTP
Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, a 27 de agosto de 2020 Reuters

O recado de Jens Stoltenberg a Moscovo foi deixado numa entrevista que o secretário-geral da NATO deu à versão online do jornal alemão Bild. "A Bielorrússia é um Estado soberano e independente", afirmou Stoltenberg. "E ninguém, e também não a Rússia, deveria lá imiscuir-se", avisou.

A Bielorrússia é palco de manifestações incessantes de milhares de pessoas que protestam contra o resultado oficial das eleições presidenciais de 9 de agosto, os quais atribuíram um sexto mandato ao Presidente Alexander Lukachenko.

Apesar de todas as ameaças e da resposta musculada e violenta das forças da ordem, os manifestantes não desistem de denunciar o que consideram uma fraude gigantesca e de exigir o afastamento definitivo do Presidente que está há 26 anos no poder.

Lukashenko acusou, esta quinta-feira, alguns vizinhos da Bielorrússia de clara interferência nos assuntos do país, ao pressionarem pela realização de novas eleições, no que descreveu como "guerra híbrida" e "carnificina diplomática".

Acusou a Polónia, que é membro da NATO, de ter planos para ocupar a região fronteiriça bielorrussa de Grodno, indicando que tal levou ao reforço das tropas da Bielorrússia na fronteira.

A resposta veio pela voz de Stoltenberg, que desmontou as alegações de Lukachenko, garantindo que a Aliança Atlântica não colocou tropas junto às fronteiras com a Bielorrússia,

Após uma reunião com a chanceler alemã, Angela Merkel, Jens Stoltenberg apelou ainda ao chefe de Estado bielorrusso que respeite as liberdades e garantias da população.

A contestação sem precedentes está a deixar o Governo liderado por Lukachenko à beira de um ataque de nervos, sobretudo depois de ter perdido o apoio dos trabalhadores da todo-poderosa indústria nacional, até agora os seus mais fiéis apoiantes.
Ajuda russa
Durante a campanha eleitoral, Lukachenko agitou a ameaça de intervenção de Moscovo, que lhe valeu subir ao poder em 1994, nos tempos da pós-queda do Muro de Berlim.

Agora, a origem da ameaça é outra, uma vez que, depois da União Europeia ter denunciado o caracter fraudulento dos resultados eleitorais oficiais, o único apoio externo a que Lukachenko pode recorrer é a Rússia.

Moscovo não se tem mostrado muito solícito no socorro mas, esta manhã, o Presidente Vladimir Putin, disse ter "de reserva" um contingente policial pronto a seguir para o país vizinho, ao abrigo de um acordo de defesa entre ambos os Estados e em resposta a um pedido do Presidente bielorrusso.

Vladimir Putin acredita que os serviços secretos dos Estados Unidos e da Ucrânia estão por trás da instabilidade na Bielorrússia e, na mesma entrevista, defendeu que há vários países com interesses políticos no país.

A oposição bielorrussa contestou de imediato a proposta de intervenção russa, e considerou "inaceitável" que Moscovo tenha preparado um contingente de forças armadas de qualquer tipo para ser usado na Bielorrússia.

Em comunicado, o Concelho da Oposição lamentou que o contingente tenha sido preparado a pedido de Lukachenko em "violação da lei internacional".

Esta quinta-feira, testemunhas afirmaram à agência Reuters que a polícia bielorrussa deteve 20 jornalistas que se preparavam para cobrir protestos no centro de Minsk, a capital do país, confiscando telefones e papéis de identidade. Não foi revelado o motivo das detenções.

O fornecimento de internet na Bielorrússia tem conhecido muitas falhas desde o período imediatamente pré-eleitoral, o que impossibilita aos manifestantes publicar nas redes sociais internacionais, como o Twitter, a sua versão do que sucede durante os protestos.

c/agências
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