Seguradora Emose avisa que prejuízos dos protestos em Moçambique não são cobertos

A seguradora estatal moçambicana Emose avisou hoje que os prejuízos provocados pelas manifestações pós-eleitorais no país não são cobertas pelas apólices de seguro, apesar das "solicitações" que tem recebido.

Lusa /

"De forma geral não são cobertas", afirmou o presidente do conselho de administração da Empresa Moçambicana de Seguros (Emose), Janfar Abdulai, embora admita que, pontualmente, algumas empresas têm apólices que contemplam exceções.

"Importa referir que à luz da apólice, as manifestações causadas por eventos políticos não são cobertas", disse o administrador, que falava aos jornalistas, em Maputo, à margem da 34.ª reunião nacional de gestores e quadros daquela seguradora, uma das maiores do país, detida pelo Estado.

A Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA) estimou em 30 de dezembro à Lusa que mais de 500 empresas foram vandalizadas durante as manifestações pós-eleitorais em Moçambique, desde 21 de outubro, e pelo menos 12 mil pessoas ficaram sem emprego.

Pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.

São manifestações e paralisações que têm provocado a destruição generalizada de equipamentos públicos e privados, convocadas pelo então candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados oficiais das eleições gerais de 09 de outubro.

Na intervenção na reunião de hoje da Emose, Janfar Abdulai afirmou que o contexto atual do setor dos seguros em Moçambique exige "uma postura proativa, informada e estrategicamente ajustada à dinâmica do mercado".

"O ano que passou colocou-nos à prova, com desafios complexos impulsionados por fatores sociopolíticos e económicos. No entanto, soubemos responder com rigor e competência, garantindo a continuidade das operações e fortalecendo a confiança dos nossos clientes, parceiros e ` stakeholders`. Mas sejamos claros: o que nos trouxe até aqui não será suficiente para nos levar adiante", afirmou o presidente do conselho de administração.

"O setor segurador está em constante transformação. A concorrência intensifica-se, as exigências regulatórias tornam-se mais rigorosas e os riscos assumem novas configurações. Diante desta realidade, não podemos apenas reagir. Devemos antecipar, planear com precisão e executar com eficiência", apontou ainda.

A Lusa noticiou anteriormente que a Emose reverteu os prejuízos dos últimos anos (até 2022), passando em 2023 a registar lucros, de 43,4 milhões de meticais (65 mil euros), apesar de perder quota de mercado e a liderança.

Segundo o relatório e contas de 2023 da Emose, a que a Lusa teve acesso, a seguradora registou prejuízos de mais de 1.193 milhões de meticais (17,8 milhões de euros) em 2021 e de 52,5 milhões de meticais em 2022 (784 mil euros).

A emissão de prémios brutos nos seguros vida da Emose recuou em 2023 0,5%, para 3.208 milhões de meticais (46,1 milhões de euros), enquanto nos seguros não vida caíram 0,4%, para 19.037 milhões de meticais (274 milhões de euros).

Com isto, a quota da Emosa no mercado segurador moçambicano caiu 3,6 pontos percentuais, de 18 para 14,4% (em 2023), ficando atrás da Hollard (16,5% de quota) e da portuguesa Fidelidade (14,8%).

O Estado moçambicano detém uma participação de 31% diretamente no capital social da Emose e, através do Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE), outra de 39%. Entre outros pequenos acionistas, contam-se ainda a Cooperativa dos Gestores Técnicos e Trabalhadores da Emose, com uma quota de 20%.

O mercado segurador de Moçambique conta com 19 empresas autorizadas e era liderado há mais de 40 anos pela Emose, criada dois anos após a independência nacional através da nacionalização e fusão das seguradoras Lusitânia, Tranquilidade de Moçambique e a Nauticus.



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