Shaolin - Milenar berço do kung fu convertido à gestão capitalista

Pequim, 28 Nov (Lusa) - A economia de mercado, quando nasce, é para todos, incluindo para os monges budistas de Shaolin, o milenar berço do kung fu.

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Num rasgo empresarial sem precedentes, o mais famoso centro de artes marciais da China assumiu esta semana a gestão de quatro templos de Kunming, na província de Yunnan, por um período de 20 anos.

"O avançado sistema de gestão de Shaolin deve alargar-se a mais templos da China para ajudar a promover o budismo zen", disse o abade-chefe do mosteiro, Shi Yongxin.

Antigo estudante de gestão, Shi Yongxin é conhecido também como "abade director-geral", ou "Shaolin CEO" em inglês.

Dez monges já se transferiram para Kunming, onde além de obras de caridade e manutenção, vão assegurar a preservação do património cultural dos quatro templos, disse mestre Yanlu, responsável pelas relações públicas de Shaolin.

É a segunda vez em menos de seis meses que o mosteiro de Shaolin é noticia por razões pouco místicas.

Em Junho passado, a direcção do templo anunciou a abertura de uma loja no "e-bay chinês" (taobao.com), que vende desde manuais de kung fu a pauzinhos "amigos do ambiente".

O stock inclui também t-shirts, sapatos, chá, livros e DVD - tudo com a designação "Templo Shaolin".

Shaolin foi mesmo o primeiro templo chinês a registar as suas marcas comerciais, em 1994, e já tem institutos na Alemanha, Austrália e Itália.

Fundado no século V, o mosteiro de Shaolin fica em Songshan, uma das cinco montanhas sagradas da China, situada na província de Henan, a cerca de 600 quilómetros a sul de Pequim.

A lendária destreza dos seus monges no domínio das artes marciais tem inspirado dezenas de filmes e, além de praticantes de kung fu vindos de várias partes do mundo, Shaolin atrai anualmente milhares de turistas.

Críticos da orientação de Shi Yongxin afirmam que "os monges de Shaolin já não praticam o verdadeiro kung fu e tudo o que fazem é para ganhar dinheiro".

O templo devia ser "uma instituição cultural e não uma cadeia de lojas franchisadas", disse um estudante.

A conversão do templo de Shaolin à economia de mercado não é um fenómeno isolado na China. Pelo contrário: o Partido Comunista Chinês já abandonou o sistema de planificação central, típico dos países socialistas, e encoraja abertamente a iniciativa privada.

Desde 2002, os próprios empresários, vistos outrora como "inimigos de classe", já podem filiar-se no Partido Comunista.

A evolução de Shaolin pode ser considerada um símbolo da nova China, mas o simbolismo, neste caso, não é gratuito: em homenagem ao 9, o maior número simples, venerado pelos antigos imperadores, o manual de kung fu à venda na loja on line do templo custa 9.999 yuan (860 euros) - o dobro do que muitos professores chineses ganham por mês.

AC.

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