Simon Weisenthal - Reacções à sua morte e Biografia
O "caçador de nazis" Simon Wisenthal, que hoje faleceu em Viena aos 96 anos, era um "soldado da justiça, da liberdade e da paz", declarou hoje em comunicado o Conselho da Europa.
"A sua perseguição de mais de mil criminosos de guerra não foi uma vingança, mas uma procura da justiça", lê-se no comunicado, assinado pelo secretário-geral do Conselho da Europa, Terry Davis.
Na avaliação de Davis, "o que (Wiesenthal) conseguiu reveste- se ainda de enorme importância, tanto para a memória e dignidade das vítimas, como para a protecção e bem-estar dos sobreviventes".
"Sem a sua combatividade e o seu combate contra o anti-semitismo, a Europa nunca teria sarado as suas feridas e conseguido reconciliar-se. Era um soldado da justiça, indispensável para a nossa liberdade, para a paz e estabilidade", disse.
Por sua vez, o presidente francês, Jacques Chirac, saudou Wiesenthal, considerando-o "um combatente infatigável da justiça e do direito".
"Com (a morte de) Simon Wiesenthal desaparece um combatente infatigável da justiça e do direito", afirmou o chefe de Estado, em comunicado, saudando "o ardor do empenho" e "a tenacidade do combate" do "caçador de nazis" austríaco.
Wiesenthal levou perante a justiça 1.100 criminosos de guerra nazis, entre os quais Adolf Eichmann, um executante zeloso da "solução final do problema judeu".
"O que eu fiz foi tanto para os jovens como para os seus mortos. Porque eu sobrevivi e esse privilégio implica um dever", afirmou um dia Wiesenthal, sobrevivente de campos de concentração do Terceiro Reich de Adolf Hitler.
Preso em cinco campos de extermínio, incluindo Mauthausen (noroeste), de onde saiu em Maio de 1945, com menos de 50 quilos, Wiesenthal criou em 1947 o centro de informação e documentação sobre criminosos nazis, ponto de partida para a procura de nazis.
Após anos de perseguição obstinada na Argentina, localizou Eichmann, que os serviços secretos israelitas raptaram em Buenos Aires em 1960. Levado perante a justiça em Israel, em 1961, o dirigente nazi foi condenado à morte e executado pelo Estado hebraico a 31 de Maio de 1962.
Em 1967, Simon Wiesenthal desferiu mais um golpe de mestre com a detenção do comandante do campo de concentração de Treblinka, Franz Stangl.
"Para que Auschwitz não se interponha sempre entre os judeus e os alemães é preciso que os criminosos de guerra sejam condenados", defendia Wiesenthal.
Ao retirar-se, em 2003, observou: "Os criminosos que procurei, encontrei-os. Sobrevivi a todos eles" Nascido a 31 de Dezembro de 1908, numa família judia, em Buczacz, perto de Lvov, actual Ucrânia, então parte do império austro-húngaro, candidatou-se ao Instituto Politécnico de Lvov, tendo-lhe sido negada a entrada devido a restrições no número de admissão de estudantes judeus.
Frequentou a Universidade Técnica de Praga, onde se licenciou em arquitectura em 1932. Em 1936, casou-se com Cyla Mueller e trabalhou num gabinete de arquitectura em Lvov.
Em 1939, a Alemanha e a Rússia assinaram o pacto de não-agressão e concordaram em dividir a Polónia entre si. O exército russo logo entrou em Lvov.
O padrasto de Wiesenthal foi detido pelo NKVD (Comissariado do Povo para os Assuntos Internos - polícia soviética) morrendo na prisão.
O meio-irmão foi abatido a tiro e o próprio Wiesenthal viu-se obrigado a encerrar o seu gabinete, tornando-se mecânico numa fábrica.
Mais tarde conseguiu salvar-se, e à mulher e à mãe, da deportação para a Sibéria subornando o comissário do NKVD.
No início de 1942, os nazis decidiram pôr em prática a "Solução Final" para o "Problema judeu " - Aniquilação.
Em Agosto de 1942, a mãe de Wiesenthal foi enviada para o campo de morte de Belzec. Em Setembro, a maior parte da família da mulher estava morta. No total, sucumbiram 89 elementos de ambas as famílias.