"Sinal de fraqueza" e "desespero". As reações à mobilização parcial anunciada por Putin

por Andreia Martins - RTP
A Praça Vermelha, em Moscovo, na manhã em que Vladimir Putin anunciou a mobilização parcial de tropas. Evgenia Novozhenina - Reuters

Em resposta ao discurso do presidente russo esta quarta-feira, vários líderes ocidentais criticaram a escalada no conflito na Ucrânia. O ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, lê nas palavras de Vladimir Putin uma admissão de que a invasão russa "está a falhar". Bridget Brink, embaixadora dos Estados Unidos na Ucrânia, considerou que a mobilização parcial é "um sinal de fraqueza" das autoridades russas. Na Rússia, a oposição apela aos protestos nas ruas das principais cidades.

No Ocidente, o discurso de Vladimir Putin, esta quarta-feira, é interpretado no contexto das recentes perdas territoriais das tropas russas no leste da Ucrânia perante os avanços da contraofensiva de Kiev nas últimas semanas.

Peter Stano, porta-voz de política externa da Comissão Europeia, considerou esta quarta-feira, em conferência de imprensa, que as recentes declarações de Vladimir Putin mostram que o presidente russo está "desesperado" e apenas a tentar escalar a situação de guerra.

"Esta é mais uma prova de que Putin não está interessado na paz, ele está interessado em escalar esta guerra de agressão. Isto é também um sinal de desespero perante a forma como a agressão contra a Ucrânia está a correr", considerou o responsável numa conferência de imprensa.
Em comunicado, o ministro britânico da Defesa, Ben Wallace, considera que as palavras do presidente russo são uma admissão pública de que “a invasão está a falhar”.

“Putin e o seu ministro da Defesa enviaram dezenas de milhares dos seus cidadãos para a morte, mal equipados e mal liderados. Não há nenhuma quantidade de ameaças ou de propaganda que possa esconder o facto de que a Ucrânia está a ganhar esta guerra. A comunidade internacional está unida e a Rússia está a transformar-se num pária global”, vincou o ministro britânico.

Por sua vez, a embaixadora norte-americana na Ucrânia, Bridget Brink, considerou que o anúncio da mobilização parcial de cidadãos na Rússia é um "sinal de fraqueza, de fracasso” das autoridades russas.


"Os referendos falsos e a mobilização são sinais de fraqueza, do fracasso russo", afirmou através do Twitter, acrescentando que os Estados Unidos “nunca vão reconhecer as alegações da Rússia” de anexação de território ucraniano. “Vamos continuar com a Ucrânia durante o tempo que for necessário”, vincou.

No mesmo sentido, o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, considerou numa declaração televisiva que a mobilização hoje anunciada e os referendos nos territórios ucranianos são “um sinal de pânico”.

Mateusz Morawiecki, primeiro-ministro polaco alertou, na sequência do discurso, que a Rússia vai tentar destruir a Ucrânia e alterar definitivamente as suas fronteiras.

“Os relatos de uma mobilização parcial confirmam-se. A Rússia vai tentar destruir a Ucrânia e ficar com algum território. Não podemos permiti-lo”, frisou o líder polaco. Prometeu ainda que Varsóvia fará “tudo” para que os seus aliados - NATO incluída - continuem a apoiar Kiev.
Em Helsínquia, o ministro da Defesa indicou que o país está a monitorizar a situação no país vizinho na sequência da mobilização parcial. A Finlândia tem uma fronteira de cerca de 1.340 quilómetros com a Rússia e pediu a adesão à NATO na sequência do conflito na Ucrânia, em curso há quase sete meses.

“Posso dizer que a situação militar é estável e calma. As nossas forças de defesa estão bem preparadas e a situação está a ser monitorizada de perto”, garantiu Antti Kaikkonen, ministro finlandês da Defesa.


A Lituânia, também com fronteira terrestre em relação à Federação Russa, elevou esta quarta-feira o nível de prontidão da força de resposta rápida do seu Exército de forma a “evitar qualquer provocação do lado russo”.

“Uma vez que a mobilização militar russa também irá ocorrer na região de Kalingrado, às nossas portas, a Lituânia não pode simplesmente ficar a assistir”, escreveu o ministro lituano da Defesa no Facebook,
Retirada em massa?

Outro país dos Bálticos, a Letónia, já comunicou que não vai oferecer refúgio aos russos que fujam da mobilização parcial, anunciada por Moscovo. A decisão foi comunicada esta manhã pelo ministro letão dos Negócios Estrangeiros, Edgars Rinkevics, através do Twitter.


Entretanto, na Rússia, a oposição apela aos protestos dos russos contra a mobilização parcial de 300 mil reservistas. Alexei Navalny, o principal nome da oposição da Vladimir Putin, reagiu numa mensagem de vídeo a partir da prisão.

“Tornou-se claro que esta guerra criminosa está a piorar, está a aprofundar-se e Putin está a tentar envolver o maior número possível de pessoas”, afirmou o opositor russo.

O grupo russo de protesto anti-guerra, Vesna, apelou aos protestos generalizados nas principais cidades russas ainda esta quarta-feira, até porque a guerra “chegou agora a cada casa e a cada família”.

“Isto significa que milhares de homens russos – os nossos pais, irmãos e maridos – vão ser atirados para este moedor de carne que é a guerra", afirmaram estes opositores.


Nas últimas horas desde o discurso de Vladimir Putin, a procura por voos a partir da Rússia disparou. De acordo com os dados do Google Trends, houve um aumento significativo no Aviasales, o site mais popular da Rússia para a compra de bilhetes de avião.

De acordo com este site, os voos de Moscovo para as cidades de Istambul, na Turquia, e para Yerevan, na Arménia, estavam esgotados esta quarta-feira. Ambos os destinos permitem a entrada de cidadãos russos sem a necessidade de apresentar visto.

Para a capital turca todos os voos estão completos até sábado, indicou hoje a Turkey Airlines.

Também algumas rotas com escalas, incluindo entre Moscovo e Tiblissi, na Geórgia, estavam indisponíveis. Na AirSerbia, só era possível comprar um voo de Moscovo para Belgrado para a próxima segunda-feira, dia 26 de setembro.

De acordo com a agência Reuters, os voos mais baratos a partir da capital russa para o Dubai custavam mais de 300 mil rublos (cerca de cinco mil dólares, ou seja, cinco vezes o salário médio mensal na Rússia).
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