Síria e Irão fornecem eixo xiita para fazer frente a rebeldes sunitas no Iraque

O secretário de Estado John Kerry viu-se obrigado a pedir contenção a Damasco e Teerão depois das indicações que apontam para uma intervenção destes dois países no vizinho Iraque. Temendo uma escalada de violência sem precedentes na região, Kerry procurou por ocasião de uma reunião da NATO colocar água na fervura e prevenir um conflito globalizado quando aparenta estar a organizar-se um eixo xiita Damasco-Bagdad-Teerão para fazer frente à rebelião sunita que avança para a capital iraquiana.

RTP /
Reuters

É a própria parte norte-americana que fala numa ofensiva lançada por iniciativa do Presidente sírio Bashar al-Assad contra os rebeldes do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).

Nas palavras de John Kerry, Washington dispensa este tipo de interferências no terreno, tendo “deixado claro para toda a gente na região que que não precisamos deste tipo de desenvolvimentos que possam vir a exacerbar as divisões sectárias que já agora se encontram num nível de tensão altíssimo”.

Durante uma reunião em que se encontrou com vários diplomatas da Aliança Atlântica, Kerry acrescentou a visão política que Washington vem aplicando em relação ao Iraque, relembrando essa teoria oficial que aponta no sentido de Bagdad se tornar capaz por si só de defender o país.

O chefe da diplomacia americana volta a defender que as forças militares iraquianas não devem esperar ajuda externa, não obstante a decisão tornada pública na semana anterior pelo próprio Presidente Barack Obama de enviar para o Iraque 300 conselheiros militares que poderão acompanhar as divisões iraquianas no terreno.

A preocupação maior dos Estados Unidos recai no entanto no que diz serem as últimas intervenções externas no conflito iraquiano: as forças sírias de al-Assad, também elas a braços com uma sublevação de islamitas radicais, terá lançado ataques aéreos contra o outro lado da fronteira que tem com o Iraque, na cidade iraquiana de Qaim, onde teria abrigo a sublevação sunita do EIIL, que está a varrer o país de forma impiedosa. A estas notícias acrescentam-se os relatos do sobrevoo no país de drones de vigilância iranianos.

O complicado xadrez militar que se está a viver no terreno traduz o desnorte político que dia após dia mina a legitimidade do primeiro-ministro Nouri al-Maliki. Barack Obama instava há dias o chefe do governo de Bagdad a redesenhar o poder executivo no sentido de dar posse a uma equipa mais inclusiva, onde estejam representados todos os sectores, etnias e eixos religiosos da população.

Ainda hoje, al-Maliki rejeitou liminarmente a constituição de um “governo de salvação nacional”, ignorando esse apelo de Obama. O primeiro-ministro faz assentar a sua força na vitória conseguida nas recentes eleições de 30 de Abril, mostrando que não está disponível para ceder um poder que lhe foi confirmado no escrutínio nacional de há dois meses.
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