Síria. EUA ameaçam recorrer à força contra a Turquia

por RTP

A crer no chefe do Departamento de Estado, depois de terem aberto as portas à invasão turca no Curdistão sírio, os Estados Unidos estariam dispostos a intervir militarmente contra a Turquia, se esta retomar nas próximas horas a ofensiva suspensa por um frágil cessar-fogo.

As declarações do secretário de Estado Mike Pompeo, ontem emitidas pela cadeia de televisão CNBC, começavam por justificar a decisão do presidente Donald Trump, no sentido de retirar tropas norte-americanas estacionadas na Síria, mas prosseguiam com a afirmação de que, em caso de necessidade, os Estados Unidos recorrer à força militar contra a Turquia.

O entrevistador Wilfred Frost confrontou Pompeo com uma afirmação que fizera, e segundo a qual os aliados dos Estados Unidos devem poder confiar em que estes vão até ao fim das suas campanhas. O secretário de Estado replicou que este é um caso "fundamentalmente diferente", porque "o país que a Turquia invadiu, ou onde levou a cabo uma incursão, é a Síria, uma nação soberana. Nós trabalhámos com amigos curdos, o SDF".

E acrescentou: "Conjuntamente, enfrentámos a ameaça do Califado do Estado Islâmico. Foi no interesse do SDF e foi o interesse dos Estados Unidos da América, e na verdade no interesse do mundo. Nós cumprimos inteiramente os compromissos que tínhamos assumido de trabalhar conjuntamente com eles".

Pompeo explicou tambémque a "incursão" turca contraria a vontade do presidente Trump e que os EUA entraram em contacto com o Governo de Erdogan para "reduzir os riscos para essas mesmas pessoas que você insinua termos abandonado".

Apesar das insistências do entrevistador, Pompeo não quis precisar em que condições os EUA poderiam passar a vias de facto contra a Turquia, até agora sua parceira na NATO. As suas palavras textuais foram: "Preferimos a paz e não a guerra. Mas na eventualidade de ser necessária uma acção cinética ou militar, você deve saber que o presidente Trump está disposto a empreender essa acção".

O responsável da política externa norte-americana alargou ainda a explicação, para fundamentar a hipótese de um conflito militar com um país membro da NATO, lembrando que fazer parte da aliança nem sempre implicava estar em sintonia com a política norte-americana: "Temos visto parceiros da NATO a adoptarem uma atitude muito diferente [da nossa] em relação ao JCPOA, o acordo nuclear com o Irão. Achamos que isso é terrível. Trêsou quatro dos nossos amigos mais próximos escolheram um caminho diferente. Isso não quer dizer que rompamos a relação com eles".
Turquia ameaça retomar a ofensiva nas próximas horas
Segundo a agência Reuters, o presidente turco, Tayyip Erdogan, afirmou no aeroporto, ao partir para conversações em Moscovo com o presidente Putin, que um número apreciável de milícias curdas permanece na zona que era suposto evacuarem. A trégua de cinco dias, que termina às 19h de hoje (GMT), poderia portanto não ser renovada.

Erdogan precisou que, segundo as informações recebidas do ministro turco da Defesa, "estamos a falar de uns 700 a 800 [membros da milícias] que já retiraram e o resto, uns 1.200 a 1.300 que continuam a retirar. Disseram-nos que eles vão retirar".

Segundo o presidente turco, "todos têm de retirar, o processo não terminará enquanto eles não tiverem todos saído".

A Turquia reclama o estabelecimento de uma faixa desmilitarizada em território sírio, com 440 Km de extensão, mas por agora a ofensiva militar turca não tem abarcado toda essa área.

Forças sírias e russas já ocuparam duas cidades fronteiriças dentro da área referida pela Turquia, Manbij and Kobani. Erdogan manifestara acordo com a entrada de forças sírias, desde que as milícias curdas retirassem.

Aparentemente, nas conversações em curso no Kremlin, ir-se-á procurar um acordo semelhante. Os contactos da Turquia com o Governo de Damasco têm decorrido por intermediação russa.
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