A força aérea britânica publicou uma estimativa das baixas que os seus bombardeamentos causaram em território sírio controlado pelo "Estado Islâmico": 4.315, dos quais apenas um civil. A Amnistia Internacional diz que houve centenas de mortos civis em Raqqa e milhares em Mossul.
A confirmar-se esta estimativa, ela constituiria uma façanha sem paralelo na moderna história militar. Mesmo os relatórios norte-americanos sobre bombardeamentos "cirúrgicos" dos últimos anos admitem como "dano colateral" um civil em cada 4 a 15 raides aéreos.
O director executivo da AOAV, Iain Overton, citado por The Guardian, ironizou por isso que "a alegação da RAF de um rácio de uma baixa civil para 4.315 inimigos deve ser um record mundial da guerra moderna".
Por seu lado, o deputado trabalhista Russell-Moyle afirmou que os processos da RAF para calcular baixas civis "são insuficientes para encontrar os civis que inevitavelmente foram mortos pela RAF numa campanha em áreas urbanas, nomeadamente nas áreas densamente povoadas de Mossul ocidental".
E aconselhou o Ministério da Defesa a, simplesmente, "dizer que não sabe os números, porque esta posição vem minar a confiança do público nas Forças Armadas. Mais, ela é perigosa porque tenta vender ao público britânico a ideia de que a guerra não tem custos".
Chris Woods, o director da ONG Airwars, também não poupou sarcasmos com o Ministério: se este, disse, "deu um salto sobre milhares de anos de história militar para criar um campo de batalha sem mortes civis, deveria partilhar essa experiência com o mundo".
E lembrou que a RAF lançou 4.000 munições, 70 por cento das quais eram bombas de mais de 200 Kg, em áreas predominantemente urbanas e, sendo assim, não pode esperar que não tenham sido atingidos civis.
Enfim, uma das responsáveis da Amnistia Internacional, Donatella Rovera, considerou a estimativa da RAF como "ridícula" e acusou a força aérea de não fornecer detalhes para não ter de prestar contas.
Rovera acrescentou ainda: "Sabemos que muitas centenas de civis foram mortos [em raides da coligação] em Raqqa e milhares em Mossul. Há um princípio simples de comportamento moral. Quem leva a cabo qualquer tipo de acção, neste caso bombardeamentos aéreos, tem o dever de ser transparente e de prestar contas das suas acções".