Síria. Reveladas provas de tortura e assassinatos nas prisões de Assad

O Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) e 24 meios de comunicação analisaram milhares de ficheiros, conseguidos pela televisão pública alemã NDR, com provas de tortura e execução sumária de mais de milhares de dissidentes do regime de Assad.

RTP /
Foto: Bakr Al Kasem - Anadolu via AFP

Cerca de 160 mil sírios foram presos, torturados e assassinados durante o regime de Bashar al-Assad, concluiu uma investigação do Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ) em conjunto com 24 meios de comunicação de 20 países, tendo por base dados obtidos pela estação pública alemã NDR.

Os cerca de 134 mil ficheiros que chegaram às mãos da NDR – equivalente a 243 gigabites de dados – fornecem provas de tortura e execução sumária de mais de 10 mil dissidentes do regime. A Rede Síria para os Direitos Humanos estima que pelo menos 160 mil pessoas tenham desaparecido às mãos do regime de Assad.

De acordo com a investigação, “muitos certificados de óbito assinados pelos médicos dos hospitais militares de Harasta e Tishreen, para onde as vítimas de tortura eram enviadas, registavam ‘paragem cardiorrespiratória’ ou ‘paragem cardíaca’ como a causa de morte”.

“Cada ficheiro representa uma família deixada à sua sorte, uma vida apagada e um sistema desenhado para conciliar assassinatos em massa por trás de ordens burocráticas”, denuncia o consórcio de jornalistas, que também descreve fotos de pessoas subnutridas, gravemente feridas ou de cadáveres empilhados. As fotografias aos detidos eram tiradas de vários ângulos e com um papel branco a identificar cada pessoa através de um código.

De acordo com um antigo oficial militar que chefiou a Unidade de Preservação de Provas da Polícia Militar de Damasco entre 2020 e 2024, as fotografias eram enviadas para os tribunais militares e os certificados de óbito confirmados, “garantindo aos membros do regime de Assad imunidade judicial pelos seus crimes”.

O consórcio sublinha que as informações divulgadas pela investigação ainda não foram disponibilizadas ao público sírio.

A investigação envolveu a análise 134 mil ficheiros, que abrangem cerca de três décadas, entre meados dos anos 90 e dezembro de 2024, e envolveu 24 órgãos de comunicação de 20 países.

A Guerra Civil Síria começou em 2011, após protestos contra o regime autoritário de Bashar al-Assad, com o esmagamento dos protestos por parte das forças do regime. O conflito rapidamente escalou para uma guerra entre várias fações e com ingerência de países como a Rússia, os Estados Unidos e a Turquia.

Durante a guerra civil, Assad foi acusado de usar armas químicas contra a própria população e de liderar uma estratégia estatal de rapto, tortura e morte de milhares de dissidentes, com a situação nas prisões do regime a ser denunciada por organizações não-governamentais.
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