Sistemas de saúde em África ainda não refletem crescimento económico do continente
Luanda, 19 nov (Lusa) - O crescimento económico em África ainda não se reflete no desenvolvimento dos sistemas de saúde africanos, defendeu hoje em Luanda o diretor regional da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o continente.
Luís Gomes Sambo, que intervinha na sessão de abertura dos trabalhos da 62.ª sessão do Comité Regional Africano da OMS, acrescentou que o crescimento económico oferece novas oportunidades de reformas bem-sucedidas, e reconheceu a contínua melhoria da saúde em África.
Na reunião de Luanda, que termina sexta-feira, vai ser debatido o reforço dos sistemas de saúde, o financiamento e coordenação da investigação e desenvolvimento para a inovação da saúde e o roteiro para o reforço dos recursos humanos.
Segundo o angolano Luís Gomes Sambo, a tendência da melhoria do estado de saúde das populações africanas é para continuar mas, apesar dos sucessos alcançados, as doenças transmissíveis representam ainda 63 por cento do total de óbitos no continente.
A sida, as doenças diarreicas, o paludismo, a tuberculose e as chamadas doenças da infância provocam 88 por cento destas mortes.
"Só o VIH/SIDA é responsável por 15,6 por cento do total de óbitos. Apesar destes factos a região africana registou progressos no domínio da luta contra o VIH/SIDA. A cobertura para a redução da transmissão vertical aumentou (de mãe para nascituro), a cobertura de tratamento antirretroviral também aumentou de 100 mil pessoas, em 2003, para 6,2 milhões, em 2011", salientou.
Luís Gomes Sambo defendeu ainda que as reformas no setor da saúde devem incidir sobre as componentes dos sistemas com menor desempenho, e deu como exemplo as áreas de financiamento, recursos humanos, sistemas de informação sanitária e vigilância epidemiológica, tecnologias de saúde, investigação e inovação.
"O financiamento da saúde continua a ser uma preocupação, uma vez que a melhoria do estado de saúde das populações dele depende em grande medida", disse o diretor regional da OMS, salientando que o compromisso assumido pelos chefes de estado e de governo da União Africana, de consagrar 15 por cento do orçamento nacional ao setor da saúde, foi apenas alcançado por cinco países.
Outros 24 países, segundo Luís Gomes Sambo, conseguiram alcançar o valor de 34,4 euros de despesa de saúde anual por habitante, recomendada pelo Grupo de Trabalho Internacional sobre Financiamento Inovador.
De acordo com Luís Gomes Sambo, a crise dos recursos humanos para a saúde "perdura e é sem dúvida um dos fatores que fragilizam os sistemas de saúde".
A título de exemplo salientou que África representa mundialmente cerca de 26 por cento no registo de doenças, e apenas 3 por cento dos profissionais de saúde, quando necessita, em média, de um aumento de 140 por cento dos efetivos para cobrir o défice.
Relativamente às tecnologias de saúde, referiu que o acesso às vacinas de rotina melhorou consideravelmente, mas há ainda a necessidade de se acelerar a introdução de novas vacinas.
"O acesso das populações a medicamentos de qualidade continua problemático. Alguns países iniciaram ou reforçaram a sua capacidade de produção local de medicamentos e a União Africana concebeu recentemente um plano que visa o reforço da indústria farmacêutica em África", frisou.
A reunião de Luanda é a segunda do Comité Regional Africano da OMS em Angola. A primeira realizou-se em 1956, em pleno regime colonial, que debateu então nessa 6.ª sessão a saúde maternoinfantil, ambiente e saúde, a luta contra a schistosomíase, oncocercose, lepra, febre-amarela, varíola e paludismo.
Gomes Sambo sublinhou que a resolução da maioria deste problemas evoluiu favoravelmente, tendo alguns deles sido erradicados ou controlados, como a varíola, o controlo da febre-amarela, da oncocercose e a melhoria da saúde maternoinfantil.