"Situação moralmente errada". Reino Unido suspende negociações comerciais com Israel

por Inês Moreira Santos - RTP
Kin Cheung - Reuters

O Governo britânico suspendeu negociações sobre comércio com Israel e anunciou a convocação do embaixador israelita em Londres para mostrar desagrado com o bloqueio à entrada de ajuda humanitária na Faixa de Gaza. Em reação à decisão do Reino Unido, as autoridades israelitas afirmaram que não vão mudar de objetivos por pressão externa.

“Suspendemos as negociações com o Governo israelita sobre um novo acordo de livre comércio. Vamos rever esta cooperação no âmbito do roteiro bilateral para 2030", afirmou o David Lammy. “As ações do Governo de Netanyahu tornaram isto necessário".

Numa declaração no Parlamento, o ministro britânico dos Negócios Estrangeiros acrescentou que será revista a cooperação bilateral futura e não excluiu mais medidas.

Nas palavras do chefe da diplomacia britânica "estamos a entrar numa nova fase sombria deste conflito" e Benjamin Netanyahu pretende "expulsar os habitantes de Gaza das suas casas para um canto da Faixa ao sul e permitir que recebam apenas uma fração da ajuda de que precisam". Ainda de acordo com o ministro britânico, entraram em Gaza menos de 10 camiões em Gaza na segunda-feira, descrevendo a situação humanitária no território como "intolerável" e "abominável".

"Existe um plano da ONU pronto para prestar ajuda em grande escala, necessário com medidas de mitigação contra o desvio da ajuda. Há humanitários corajosos prontos a fazer o trabalho. Há 9.000 camiões na fronteira. Primeiro-ministro Netanyahu: acabe já com este bloqueio e deixe entrar a ajuda", declarou.

David Lammy declarou ainda que o Reino Unido suspendeu as negociações comerciais com Israel devido ao bloqueio de Gaza, acrescentando que o embaixador israelita no páis foi convocado. Decisão anunciada um dia depois de o Reino Unido, juntamente com a França e o Canadá, terem condenado a maneira como Israel está a coduzir a guerra em Gaza.

"Não ficaremos parados enquanto o governo de Netanyahu mantém estas ações flagrantes. Se Israel não cessar a nova ofensiva militar e suspender as restrições à ajuda humanitária, teremos de tomar novas medidas concretas em resposta", declararam os três governos aliados num comunicado na segunda-feira.

Em resposta, Israel afirmou que a pressão externa não mudará os seus objetivos em Gaza e anunciou novas sanções aos colonos na Cisjordânia ocupada .

“Se, devido à obsessão anti-Israel e a considerações políticas internas, o Governo britânico estiver disposto a prejudicar a economia britânica, isso é prerrogativa sua”, disse o porta-voz do Ministério israelita dos Negócios Estrangeiros, Oren Marmorstein, num comunicado.

“A pressão externa não desviará Israel do seu caminho na defesa da sua existência e segurança contra inimigos que querem a sua destruição".


O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel denunciou o facto de, antes do anúncio, as negociações sobre este acordo de comércio livre não estarem "a ser impulsionadas de todo pelo atual Governo britânico". Israel também criticou as sanções anunciadas pelo Governo britânico contra os colonos israelitas que vivem em colonatos, classificados como ilegais pela comunidade internacional, na Cisjordânia ocupada.

"O mandato britânico terminou há 77 anos", afirmou Oren Marmorstein, referindo-se à administração britânica da Palestina a que se seguiu a criação do Estado de Israel.

Por seu lado, Londres salientou que, embora o Governo britânico continue empenhado no acordo comercial existente, “não é possível fazer progressos nas conversações sobre um novo e atualizado acordo com o executivo de Netanyahu”.

“Netanyahu está a promover políticas particularmente más na Cisjordânia e em Gaza",
afirmou hoje o executivo britânico, num comunicado.

Israel foi acusado de cometer genocídio em Gaza e de realizar uma operação de limpeza étnica no território.
Situação "intolerável"

Também esta terça, o primeiro-ministro britânico descreveu a situação em Gaza como "intolerável".

Keir Starmer afirmou ainda que o Reino Unido e os aliados franceses e canadianos estão "horrorizados com a escalada de Israel".

Falando na Câmara dos Comuns, o chefe de Governo britânico repetiu a exigência de um cessar-fogo como a “única maneira de libertar os reféns” e frisou que a assistência humanitária à população de Gaza deve ser ampliada.

O primeiro-ministro acrescenta que a quantidade de alimentos permitida na Faixa de Gaza por Israel nos últimos dias tem sido “total e completamente inadequada”.

"Esta guerra já dura há muito tempo"
, continuou. "Não podemos permitir que o povo de Gaza morra de fome".

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