Sobreviventes de Fukushima, filhos do tsunami
Há uma geração de jovens japoneses marcada pelo desastre triplo de 2011 que atingiu a costa nordeste do país. A cadeia de acontecimentos começou com o terramoto de magnitude 9.0, seguido de um devastador tsunami e do acidente nuclear de Fukushima. Houve pelo menos 22 mil vítimas, entre mortes confirmadas ou desaparecimentos. Dez anos passados, quatro jovens sobreviventes recordam os familiares que perderam. A catástrofe roubou-lhes a mundo que conheciam. Hoje, adultos, estão determinados a ajudar crianças que sofreram perdas traumáticas.
Na Escola Primária de Okawa, em Ishinomaki, com o irmão estavam mais 74 crianças e dez funcionários que não tiveram tempo de fugir para terreno mais elevado.
Naganuma viveu os anos seguintes a perguntar-se por que razão teria sido poupado. Concentrou forças para matricular-se no ensino universitário. Escolheu a área de estudo de gestão de desastres.
"Todos nós vivemos num período entre desastres, seja no Japão ou noutro lugar", disse Yuto. E acrescenta: "A maneira como passamos esse tempo muda significativamente a probabilidade de sobrevivência quando enfrentarmos o próximo desastre."
Japan’s children of the tsunami shaped by tragedy. #AFP
— AFP Photo (@AFPphoto) March 5, 2021
📸 @BEHROUZZZZhttps://t.co/QrIvYQqi9V
More pictures on AFPForumhttps://t.co/DmEwFkiKez pic.twitter.com/mCXN1hW0lE
Nayuta Ganbe estava junto da mãe e da irmã quando foi noticiado o alerta de tsunami, após o terramoto, para a região de Miyagi. Abrigaram-se na escola que tinha três pisos.
Ganbe ainda foi buscar os sapatos à entrada quando viu cinco homens serem engolidos por uma torrente de água e lama, cheia de entulho e carros. Diz ter ficado paralisado, mas ao sentir a água a chegar-lhe aos pés conseguiu fugir para o ultimo andar.
Nayuta tem agora 21 anos e estuda sociologia de desastres. Investiga as características das pessoas mais propensas a serem assertivas nos passos para se salvarem perante uma crise. Destaca a necessidade de preservar a memória da catástrofe e partilha de conhecimento, para aumentar competências emocionais.
A poucos quilómetros dos reatores nucleares de Fukushima, morava Hazuki Shimizu. Depois da explosão do reator 1, devido ao impacto do tsunami que sobrecarregou o sistema de arrefecimento da central, Hazuki, a mãe e a irmã fugiram da região com receio da radioatividade.
Sacos plásticos com solo e escombros radioativos recolhidos ao redor da central nuclear de Fukushima, permanecem nos campos | foto: Franck Robichon - EPA
Agora com 27 anos, Shimizu regressou à terra da infância e trabalha numa organização que ajuda a preservar as memórias do tsunami, o Centro para Crianças da Cidade de Ishinomaki.
Yokoyama Wakana tinha 12 anos, vivia em Ukedo e, quando a onda atingiu as casas, muitos residentes não conseguiram fugir. Perdeu os avós no tsunami.
Foto: Irwin Wong
A localidade de Ukedo fica muito perto da central nuclear de Fukushima. Depois da fuga radioativa dos reatores danificados, as cinzas provenientes das reações nucleares cobriram os solos das redondezas, contaminando-os.
A população foi retirada, ficando muitos corpos abandonados na inabitável Ukedo.