Sociedade britânica protetora de animais alia-se a campanha para fechar Canídromo de Macau

Macau, China, 02 fev (Lusa) - A mais antiga sociedade protetora de animais do mundo aliou-se à campanha internacional pelo encerramento do Canídromo de Macau, acusado de determinar a morte de galgos , que deixaram de ser competitivos nas corridas de cães.

Lusa /

Paul Littlefair, da "Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals" (RSPCA), do Reino Unido, esteve, esta semana, pela primeira vez no território, para se inteirar do caso. "O meu instinto será dizer que não há verdadeiramente outra opção que não a do encerramento" do espaço, afirmou.

A Anima - Sociedade Protetora dos Animais de Macau - lançou, em conjunto, com a GREY2K (EUA), a Animals Australia e a Animals Asia, uma campanha para acabar com as corridas de galgos, notificando mais de 165 organizações para se juntarem à causa.

"O que está a acontecer é que mais de 300 cães por ano são trazidos para Macau e uma taxa equivalente está a ser abatida, pelo que o fornecimento e a constante aniquilação de animais, em forma e saudáveis, mas que não são ou deixaram de ser competitivos não faz nada pela imagem internacional de Macau e é até paradoxal", avaliou Littlefair.

Apesar de o contrato de concessão de exploração da Companhia de Corridas de Galgos de Macau (Yat Yuen), do universo da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), fundada pelo magnata Stanley Ho, só terminar a 31 de dezembro de 2015, a licença pode ser suspensa. O problema, segundo a Anima, é a falta de "coragem política".

"O Governo pode fechá-lo quando quiser, porque há uma cláusula do contrato que diz claramente que, por motivos de força maior, o pode encerrar, sem qualquer direito de indemnização", sustentou Albano Martins, frisando não acreditar que as autoridades ativem essa cláusula do contrato. "Pelo menos não o renovem em 2015", defendeu.

Em 2012, as receitas das corridas de galgos cifraram-se em 205 milhões de patacas (19 milhões de euros), menos 30 % face a 2011, representando 0,06 % do arrecadado pelo setor do jogo, pelo que o fim do Canídromo não teria impacto no tecido económico de Macau.

"A mensagem que Macau está a passar é a de uma cidade pulsante, um destino de classe mundial e o Canídromo é anacrónico neste quadro", constatou o representante máximo da área internacional da RSPCA, uma das maiores do mundo, com quase 200 anos, que tem a rainha de Inglaterra como patrona.

A seu ver, "o que não se pode fazer é gerar uma procura para os galgos em final de `carreira` ou para os que não estão em forma para correr ou não são competitivos ou rápidos o suficiente num território do tamanho de Macau".

No ano passado, a Anima chegou a um acordo com a Yat Yuen para a adoção de cães após a vida ativa. Mas a medida não se concretizou, já que o primeiro animal prometido não foi libertado.

Antes e depois, uma enxurrada de petições e cartas abertas girou mundo. No final de 2011, arrancou a campanha `Salvem o Brooklyn`, um galgo que ficou ferido, lançada pela Grey2K, que trabalha há 12 anos pela extinção das corridas.

A campanha foi ganhando força e fixou-se um objetivo maior: pressionar Camberra a impedir a exportação de galgos.

Em Macau, Paul Littlefair foi assistir às corridas para ver a dimensão na assistência e o interesse pelo peculiar desporto. "Reparei em feridas antigas e cicatrizes e também em algumas mordidelas de animais, por isso, alguns tinham ligaduras e evidenciavam sinais de cansaço e lesões", contou.

"Organizações especialistas em galgos são muito claras [ao indicar] que o canídromo de Macau tem um nível relativamente elevado de lesões quando comparado com outros a nível mundial", pelo que "sou tentado a pensar que isso é provavelmente verdade e que há questões relacionadas com o tratamento, com a rapidez da recuperação e com a frequência com que correm", apontou.

Segundo a imprensa de Hong Kong, um galgo está condenado ao abate quando fica excluído dos três primeiros lugares, por cinco vezes consecutivas.

As corridas realizam-se cinco vezes por semana.

A agência Lusa contactou o Canídromo há uma semana, mas não obteve resposta às perguntas, nem ao pedido de entrevista com o diretor, tendo-lhe sido recusada a recolha de imagens.

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