Solzhenitsyn acusa o Ocidente de relegar a Rússia para segundo plano
O laureado com o Prémio Nobel da Paz Alexander Solzhenitsyn acusou o Ocidente de ignorar e relegar a Rússia para segundo plano e elogiou o presidente russo, Vladimir Putin, por reconstruir o país.
O escritor, 88 anos, que documentou o sistema de campos prisionais soviéticos baseado na sua própria experiência de sete anos como prisioneiro, disse que as críticas ocidentais à Rússia eram muitas vezes injustas, de acordo com uma entrevista à revista alemã Der Spiegel que voltou a ser publicada terça-feira pelo diário russo Izvestia.
"Evidentemente, a Rússia não é um país democrático ainda, está apenas a construir a democracia e é muito fácil apontar uma longa lista de omissões, violações e erros", disse Solzhenitsyn citado pela revista.
"Mas não foi a Rússia que claramente e sem ambiguidades ofereceu a sua ajuda ao Ocidente após o 11 de Setembro? Só alguém psicologicamente instável ou de vistas curtas pode explicar a recusa irracional dessa ajuda pelo Ocidente", acrescenta.
Putin saudou a instalação de tropas norte-americanas em países da antiga Ásia Central Soviética para operações no Afeganistão depois dos atentados terroristas de 11 de Setembro de 2001 - um gesto sem precedente que ajudou a reforçar as relações com Washington.
Mas as relações bilaterais depressa esfriaram devido às divergências sobre a guerra no Iraque e outras crises internacionais, às preocupações de Washington sobre os recuos do Kremlin face à democracia e à oposição do Kremlin aos planos de defesa antimíssil norte-americano,
Solzhenitsyn censurou Washington por demonstrar falta de boa vontade em resposta às iniciativas amistosas de Putin.
"Depois de aceitar a nossa assistência vital no Afeganistão, os Estados Unidos começaram imediatamente a fazer novas exigências à Rússia", disse.
"E as exigências da Europa à Rússia são claramente fundadas nos seus receios energéticos, acrescentou, numa referência às preocupações da União Europeia sobre a crescente dependência dos fornecimentos energéticos de Moscovo e o receio de que possa usá-la para fins políticos.
"Não é demasiado luxo para o Ocidente pôr de lado a Rússia, especialmente tendo em visita novas ameaças", interrogou-se Solzhenitsyn.
Acrescentou que a admiração pelo Ocidente, partilhada por muitos russos depois do colapso soviético, depressa deu lugar à conclusão decepcionante de que as políticas ocidentais são baseadas no pragmatismo, com frequência cínico e egoísta, disse Solzhenitsyn.
"Para muitos russos, foi uma experiência dura, o colapso dos ideiais", comenta o escritor.
Solzhenitsyn tem aparecido com pouca frequência em público, nos últimos anos, e especula-se que esteja doente. Nas raras entrevistas publicadas, lamentou o estado da política e do governo russos mas também elogiou Putin apesar do passado KGB do presidente.
No mês passado, Putin distingiu Solzhenitsyn com um Prémio do Estado por actividade humanitária.