Somália regista "taxa recorde" de deslocados
A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) e o Conselho Norueguês para os Refugiados alertaram para uma "taxa recorde de deslocações" registada entre 1 de janeiro e 10 de maio na Somália, país atingido por uma série de calamidades.
Além de uma seca histórica, causada por cinco estações de chuvas insuficientes desde 2020, ocorreram violentas inundações nas últimas semanas, que mataram pelo menos 22 pessoas naquele país do Corno de África.
O país vive também um recrudescimento da violência, devido a uma ofensiva militar conduzida pelo governo, desde setembro, contra os radicais islâmicos do Al Shebab e a confrontos armados na região separatista da Somalilândia, que mataram pelo menos 210 civis em fevereiro.
Desde o início do ano, os conflitos provocaram a fuga de mais de 433.000 pessoas, "enquanto mais de 408.000 pessoas foram deslocadas pelas inundações que varreram as suas aldeias e outras 312.000 pela seca devastadora", afirmaram o ACNUR e o Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) num comunicado.
Neste país, com cerca de 17 milhões de habitantes, mais de 3,8 milhões de pessoas estão deslocadas, "agravando uma situação humanitária já de si terrível, em que cerca de 6,7 milhões de pessoas lutam para satisfazer as suas necessidades alimentares", segundo a ONU e o NRC. Mais de meio milhão de crianças sofrem de subnutrição grave, acrescentam.
"Estes números são alarmantes", afirmou Mohamed Abdi, representante do NRC na Somália.
"Com um milhão de pessoas já deslocadas em menos de cinco meses, só podemos temer o pior nos próximos meses, uma vez que todos os ingredientes para uma catástrofe estão presentes naquele país", acrescentou.
Uma conferência de doadores para o Corno de África está agendada para hoje na sede das Nações Unidas em Nova Iorque. Segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM), da ONU, mais de 23 milhões de pessoas "enfrentam uma fome grave" nos três principais países da região (Somália, Quénia e Etiópia).
Só na Somália, "as agências de ajuda receberam até à data apenas 22% dos recursos necessários para prestar a tão necessária assistência este ano", lamentam o ACNUR e o NRC.
O representante do ACNUR na Somália, Magatte Guisse, apelou aos doadores internacionais para que "aumentem o seu financiamento".
"Caso contrário, nunca veremos o fim desta tragédia humana em curso", alertou.
Uma mobilização de última hora no ano passado "manteve a fome à distância na Somália", afirmou o PAM na sua declaração, mas, avisou: "Atualmente, o PAM enfrenta uma escassez de fundos e é forçado a reduzir a sua ajuda".