Sonda Chang’e-4. China é o primeiro país a chegar ao lado oculto da Lua

por Joana Raposo Santos, Nuno Patrício - RTP
Em 2020, a China planeia ainda enviar a sonda Chang'e-5, com o objetivo final de regressar à Terra com amostras de matéria recolhida na Lua DR

A sonda chinesa não tripulada Chang’e-4 pousou no lado oculto da Lua esta quarta-feira, às 10h26 (2h26 em Lisboa). Foi a primeira a ser bem-sucedida numa alunagem deste tipo. Munida de instrumentos com os quais irá analisar a geologia da região, nunca antes explorada, a sonda irá também fazer experiências biológicas.

De acordo com os meios de comunicação chineses, a sonda alunou na Bacia do Pólo Sul-Aitken, cratera que possui cerca de 2.500 quilómetros de diâmetro e 13 de profundidade e onde se situa a mais pequena cratera Von Kármán, o principal alvo de exploração deste dispositivo.A Chang'e-4 ajudará a compreender melhor a estrutura, a formação e a evolução do satélite natural da Terra.

A equipa responsável pelo lançamento da Chang’e-4 pretende estudar partes da camada de rocha derretida que se encontra na Bacia, de modo a identificar as variações na sua composição.

Está ainda previsto o estudo do pó e fragmentos de rochas que se encontram à superfície, o que poderá permitir entender como a Lua foi formada.

A Bacia do Pólo Sul-Aitken é a maior, mais profunda e mais antiga cratera da Lua e terá sido originada por um impacto gigante nos primórdios do satélite natural. Os especialistas acreditam que o acontecimento responsável por esta formação foi tão poderoso que perfurou a crosta da Lua e chegou ao manto.


A Chang’e-4 foi lançada a partir do Centro de Lançamento de Satélites de Xichang a 7 de dezembro de 2018, tendo alcançado a órbita lunar cinco dias depois. A sonda leva consigo duas câmaras, equipamento alemão que emite radiações e um espectrómetro, instrumento que mede as propriedades da luz.

O dispositivo transporta ainda um recipiente com três quilogramas de sementes de batata e da planta arabidopsis, assim como ovos de bichos-da-seda, elementos com os quais serão realizadas experiências biológicas que se inserem num projeto elaborado por 28 universidades chinesas.
Nova sonda em 2020
Esta missão faz parte de um programa de exploração lunar que engloba várias fases. As duas primeiras sondas Chang’e destinaram-se a recolher dados da órbita da Lua, enquanto a terceira e a quarta sondas foram construídas para operações na superfície.A Chang’e-4 pesa 1200 quilos e tem metro e meio cúbico. Transportou até à superfície lunar um pequeno veículo motorizado de 400 quilos.

As sondas Chang’e-5 e 6 serão utilizadas como dispositivos de recolha, que realizarão viagens ao satélite natural para colher amostras do solo e de rochas e depois regressarão para que estas possam ser estudadas em laboratório. A Chang’e-5 deverá ser lançada em 2020.

Ye Quanzhi, astrónomo do Instituto de Tecnologia da Califórnia Caltech, avançou à britânica BBC que esta é a primeira vez que a China “tentou algo que outras potências espaciais nunca tentaram”.

O feito singular já foi saudado no Twitter pelo diretor da NASA, Jim Bridenstine: "Parabéns à equipa chinesa Chang'e-4 pelo que parece ser uma alunagem bem-sucedida no outro lado da Lua. Esta uma primeira vez para a humanidade e uma conquista impressionante!".


A Lua tem sido alvo de várias missões nos últimos anos, mas a maioria delas realizou-se apenas na órbita deste satélite natural ou por impacto. A missão Apollo 17 foi a última a conseguir alunar, em 1972.

A passagem do ano começa assim de forma positiva para a exploração espacial: primeiro com a chegada, no dia 31 de dezembro, da sonda OSIRIS-Rex ao asteróide Bennu, depois com a passagem da New Horizons pelo asteróide promordial Ultima Thule e agora com a alunagem chinesa.
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