SpaceX e a NASA assinam acordo para reforçar segurança das viagens espaciais

O espaço em redor da Terra está cada vez mais "povoado". São cada vez mais os satélites enviados para órbita terrestre, quer pelas agências espaciais dos vários países, quer pelas companhias privadas com essa capacidade tecnológica. A SpaceX, de Elon Musk, é neste momento a principal protagonista dessa ocupação, com a designada constelação Starlink.

Nuno Patrício - RTP /
Foto: ESA/DR

Projetada para fornecer internet a partir do espaço, a constelação Starlink tinha, no início (2017/18), o objetivo de colocar em órbita terrestre cerca de dez mil mini-satélites que, implementados num sistema em rede (V), poderiam fornecer o sinal de internet para qualquer parte do globo. A construção e colocação em órbita tornou-se tão simples e eficaz, que esse número rapidamente foi ampliado, podendo a ambição deste projecto atingir uma rede de 30 mil satélites.

A ideia até é bem-vinda, mas torna-se um problema quando estes satélites podem formar uma barreira “invisível” a todos os outros engenhos em órbita.

Saiba onde estão os satélites Starlink (clique na foto)

Ao abrigo de um acordo agora celebrado com a NASA, a SpaceX aceita desviar qualquer um dos seus satélites Starlink que se aproxime da Estação Espacial Internacional, ou de outro engenho na órbita baixa da Terra.
Além da SpaceX, que pretende instalar a constelação de 15 a 30 mil mini-satelites, também a Amazon anunciou recentemente planos para lançar uma constelação de mais de três mil satélites com o mesmo intuito da SpaceX: fornecer conexão à internet em estratégia concorrencial. Mas não só. Estão em marcha novas constelações de satélites de internet russa e de orientação GPS europeu (Galileo).
O anúncio deste acordo foi divulgado na passada quinta-feira, através de um comunicado emitido pela NASA, revelando que a agência espacial norte-americana tem como objetivo “formalizar o forte interesse de ambas as partes no compartilhamento de informações para manter e melhorar a segurança espacial”.

“Com as empresas comerciais a lançar mais e mais satélites, é fundamental que aumentemos as comunicações, trocemos dados e estabeleçamos as melhores práticas para garantir que todos nós mantenhamos um ambiente espacial seguro”, refere Steve Jurczyk, administrador interino da NASA, citado no mesmo comunicado.

De acordo com o estabelecido e para que não haja uma eventual dúvida, ficou estabelecido que a SpaceX usará o recurso de prevenção de colisão autónoma de seus satélites Starlink para os mover, no caso de qualquer aproximação com um engenho da NASA, com clara colaboração das empresas visadas.

Um acordo que não é novidade para a NASA, pois outros semelhantes têm sido estabelecidos com outras entidades promotoras deste tipo de eventos espaciais.

Constelação Starlink
Desde fevereiro de 2018, data em que foram lançados os primeiros dois mini-satélites de teste (Tintin A e B), a constelação Starlink já cresceu muito além das expectativas iniciais para o projeto.


Atualmente, esta rede da SpaceX soma já um total de 1200 mini satélites em órbita, sendo que 310 foram lançados só este ano.

Se tivermos em conta que, com a aprovação da Federal Communications Commission, agência reguladora de telecomunicações nos Estados Unidos, a SpaceX tem, para já, carta branca para instalar cerca de 12 mil satélites em diversas altitudes e inclinações, rapidamente o espaço vai ficar “recheado” com objetos artificiais. À falta de uma coordenação eficaz, tal quadro pode tornar-se uma verdadeira bomba-relógio, caso exista uma colisão no espaço.

De recordar que muitos dos satélites, a Estação Espacial Internacional e lixo espacial que envolve as várias camadas da órbita terrestre se deslocam a velocidades elevadíssimas, podendo atingir em média os 21 mil quilómetros por hora. Ora, uma colisão entre objetos a esta velocidade poderia comprometer as vias de comunicação entre os diversos pontos da Terra, além das estações de vigia e controlo científico, meteorológico e de navegação.
Fornecer internet para todos
Na página do grupo SpaceX, podemos ler que o fornecimento e serviço de internet Starlink está já a funcionar numa versão “beta inicial”, a nível internacional, e pretende continuará a expansão até à cobertura global ainda este ano.

Durante esta versão beta, os utilizadores contam já com velocidades de dados a variar entre os 50 megabytes por segundo(Mb/s) a 150 Mb/s e a latência de 20 milissegundos(ms) a 40 ms na maioria dos locais. Embora alertem também para breves períodos sem conetividade.

A SpaceX refere que, “à medida que lançamos mais satélites, instalamos mais estações terrestres e melhoramos nosso software de rede, a velocidade de dados, a latência e o tempo de atividade melhorarão drasticamente”.

Com estes valores, a internet por fibra, fornecida pelas operadoras terrestres, tem clara vantagem. Mas a questão aqui é fazer chegar para já a internet a qualquer parte da superfície do planeta, sem recurso a grandes instalações.

Se a SpaceX conseguir concretizar este projeto - e com provas dadas do seu funcionamento com 1200 mini-satélites, com doze mil já autorizados (com eventual ampliação para 30 mil) - o fornecimento do sinal internet global via espaço será uma realidade a breve prazo.
Perigos de uma colisão no espaço
Muitas vezes olhamos para cima e não nos damos conta do que paira sobre as nossas cabeças. Sabemos que existem satélites artificiais e são eles que nos fornecem muitos dos serviços que utilizamos. Mas será que nos apercebemos dos riscos, caso ocupemos demais o céu?

Podemos sempre pensar que o céu “é tão grande e os satélites tão pequenos”. Contudo, se se considerar que desde 1957, ano em que foi lançado o primeiro satélite artificial (Sputnik I), já foram enviados para órbita terrestre milhares de satélites, fora o lixo que por lá paira, essa conceção pode alterar-se.

Segundo a Union of Concerned Scientists (UCS), que mantém uma lista de dados de satélites ativos em órbita, até 1 de abril de 2020 havia um total de 2666 satélites no espaço, dos quais 1918 estavam em órbita baixa da Terra (LEO).


Valores de há um ano que foram precedidos de muitos mais lançamentos, entre eles as dezenas e dezenas de satélites da SpaceX.
 
A empresa de pesquisa Euroconsult prevê que a década de 2020 seja dos pequenos satélites, com uma média de mil lançamentos de pequenos satélites por ano. Para colocar esta visão em perspetiva, em 2019 foram lançados 385 mini-satélites. Só a SpaceX, entre 2020 e a data atual, já lançou mais de 750 mini-satélites.

O número dos cerca de 3500 satélites estimados em órbita atualmente, são apenas os considerados ativos, pois há mais do que o dobro desse número de satélites perdidos, desativados e a voar incomunicáveis.

Depois, há todo um outro mundo de engenhos espaciais: a Estação Espacial Internacional, o Telescópio Espacial Hubble, estágios de foguetes, ou mesmo porcas, parafusos e ferramentas deixados ou perdidos pelos astronautas, sem mencionar os milhões de objetos menores e mais difíceis de rastrear, como manchas de tinta e pedaços de plástico.

A ESA estima que o número total de objetos espaciais na órbita da Terra ronde os 29 mil para tamanhos maiores do que dez centímetros, 670 mil para tamanhos maiores do que um centímetro e mais de 170 milhões para tamanhos menores que um milímetro.
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