SpaceX ergue plataforma de lançamento da Starship em Cabo Canaveral

A empresa espacial de Elon Musk, SpaceX, já recebeu luz verde para a construção de uma plataforma de lançamento para as "Starships" a partir do Complexo Espacial de Cabo Canaveral, na Florida. O local escolhido é a antiga plataforma SLC-37, local onde foram lançados os agora afastados foguetes Delta IV, da United Launch Alliance.

Nuno Patrício - RTP /
O histórico complexo de lançamento SLC-37, em Cabo Canaveral, na Florida vai ser reconvertido para ser mais um local de lançamento da "Starship" da SpaceX | Foto: SpaceX

Com este novo local, a SpaceX pode realizar até 76 lançamentos da Starship/Super Heavy, por ano, e até 152 aterragens do foguete Super Heavy e do estágio superior da Starship.

O Departamento da Força Aérea dos Estados Unidos (DAF) aprovou oficialmente a proposta da SpaceX para transformar o histórico Space Launch Complex 37 (SLC‑37), em Cabo Canaveral, num complexo dedicado às operações da Starship.

A decisão, assinada a 20 de novembro, encerra o processo do Estudo de Impacto Ambiental (EIS) e autoriza a demolição final, a construção e as atividades de pré‑lançamento necessárias à entrada em operação do local. Os documentos foram disponibilizados no portal público do projeto, sem anúncio adicional pelo DAF, o que é comum em decisões administrativas desta natureza.
A decisão, formalizada num Record of Decision (ROD) datado de 20 de novembro de 2025, conclui o Estudo de Impacto Ambiental (EIS) e autoriza a construção e as atividades de pré‑lançamento no local. Os documentos oficiais foram publicados no site do projeto.

Com esta medida aprovada, a SpaceX fica autorizada a redesenhar integralmente o complexo histórico SLC‑37, construido em 1960 para o lançamento dos foguetes Saturno I, para acomodar o maior sistema de lançamento do mundo, com duas plataformas e torres de integração, sistemas de deflexão e supressão de chamas, infraestrutura de catch tower para captura do booster, depósitos e fábricas de propelentes (metano e oxigénio líquidos), além de utilidades e áreas de apoio logístico.



Um projeto ambicioso que na avaliação do Estudo de Impacto Ambiental, contempla uma cadência máxima de até 76 lançamentos por ano e 152 aterragens (76 do primeiro estágio Super Heavy e 76 da própria Starship), incluindo ensaios de motores (fogo estático) antes das missões, um cenário que reforça a ambição da SpaceX em operar numa frequência semelhante à de um aeroporto.

Esta arquitectura, de acordo com a empresa espacial de Musk, visa maximizar a reutilização e reduzir custos por missão, uma condição essencial para objetivos de segurança nacional e para programas como o Artemis, que requerem capacidades de transporte de grande massa e elevado volume.Cabo Canaveral. Um desejo de Musk
A vontade de Elon Musk em trabalhar a partir de Cabo Canaveral, no complexo espacial onde a NASA - Agência Espacial Norte Americana opera, já era conhecida. Esta aproximação teve um maior impulso com o regresso de Donald Trump aos comandos do país.

Agora, com esta autorização, a SpaceX  consegue a oportunidade de ter mais duas plataformas de lançamento para a Starship no SLC-37, que se vão juntar às duas plataformas já existentes na Starbase, no Texas, além de uma outra em construção no Complexo de Lançamento 39A, no Centro Espacial Kennedy.

"Com três plataformas de lançamento na Florida, a Starship estará pronta para apoiar a segurança nacional dos Estados Unidos e os objetivos do programa Artemis, à medida que o principal porto espacial do mundo continua a evoluir para permitir operações semelhantes às de um aeroporto", disse a SpaceX em comunicado, após a aprovação.


Entre as alternativas analisadas, a Força Aérea norte-americana considerou inicialmente a construção de um novo complexo numa área virgem, designada SLC‑50, situada entre o SLC‑37 e o SLC‑40 (onde operam os Falcon 9). Contudo, levantamentos arqueológicos e ambientais eliminaram o SLC‑50 do estudo por revelar elevado potencial para achados arqueológicos e presença de espécies ameaçadas, fator que, aliado à eficiência de aproveitar infraestrutura já existente, favoreceu a escolha do SLC‑37 para a Starship.
Legado histórico do complexo SLC-37: este local de lançamento foi construido nos anos 1960 para os foguetes Saturn I/IB e, após décadas de inatividade, foi adaptado aos Delta IV da ULA; o último Delta IV Heavy partiu desta plataforma em abril de 2024, fechando um ciclo e libertando espaço para a nova era dos foguetes super heavy.
Apesar do balanço ambiental ter concluído que a construção e operação no complexo SLC‑37 não acarreta impactos significativos, na maioria dos domínios avaliados, o ruído e a sobrepressão gerados por lançamentos e aterragens são um ponto que levanta apreocupações.

O documento reconhece que as comunidades próximas poderão experimentar níveis elevados de incómodo, especialmente durante os lançamentos que ocorram à noite, e exige, por isso, sistemas de supressão sonora, comunicação prévia à população sobre eventos de ruído, programa formal de reclamações e seguro para eventuais danos, além de monitorização contínua e adaptação das medidas ao longo do tempo.

Uma obra que, de acordo com a SpaceX, já começou, com a remoção das estruturas remanescentes do Delta IV. As próximas fases passam pela inclusão das fundações para as torres e para a zona de deflexão de chamas.

Em paralelo, a empresa prossegue a adaptação do LC‑39A, no Centro Espacial Kennedy, sob processo ambiental próprio, com a estratégia de garantir redundância e resiliência de infraestrutura na Space Coast.

Com a contrução desta plataforma, passam a ser cinco os locais onde a Starship podem ser lançados | Foto: Reuters

Em suma, a conversão do SLC‑37 sinaliza um salto estrutural na capacidade de lançamento da SpaceX, bem como da costa leste dos EUA.

A janela para o primeiro voo a partir do SLC‑37 depende agora da rapidez da obra, da conclusão da análise da FAA e da integração operacional na Eastern Range. Se cumprir o calendário regulatório e técnico, a Starship poderá transformar o SLC‑37 num dos principais spaceports de reutilização rápida do mundo, com implicações diretas para missões civis, comerciais e de defesa.
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