Sudão. Agências da ONU apelam a uma atenção internacional urgente à crise
Agências das Nações Unidas apelaram hoje a uma atenção internacional urgente à crise no Sudão, onde existem, há mais de 900 dias, combates brutais, violações generalizadas dos direitos humanos, fome e o colapso de serviços essenciais.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM), a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Programa Alimentar Mundial (PAM) pedem, num comunicado conjunto, a cessação imediata das hostilidades, a proteção dos civis, nomeadamente crianças, o acesso de ajuda humanitária a toda a população, um financiamento urgente e apoio a deslocados internamente e a refugiados.
Segundo o comunicado, os representantes das quatro agências "testemunharam o impacto devastador da crise em todo o país, incluindo em Darfur, Cartum e outras áreas afetadas pelo conflito".
"O Sudão enfrenta uma das emergências mais graves do mundo, com mais de 30 milhões de pessoas a necessitar de assistência humanitária, incluindo mais de 9,6 milhões de pessoas deslocadas internamente e quase 15 milhões de crianças", sublinham.
Com o abrandamento dos conflitos em Cartum, capital do Sudão, e noutras partes do país, cerca de 2,6 milhões de pessoas regressaram às suas casas, sendo que muitas estão a encontrar a sua habitação e os seus bairros danificados ou destruídos e sem acesso a serviços essenciais.
No comunicado descreve-se que o conflito, que vai para o seu terceiro ano, destruiu serviços essenciais como a educação, que deixou cerca de "14 dos 17 milhões de crianças em idade escolar" fora da escola, e a saúde.
A guerra entre o exército sudanês e as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês) também provocou o deslocamento de comunidades inteiras, fome em algumas partes do país e um aumento da taxa de desnutrição, pondo as pessoas, maioritariamente crianças, em risco iminente de morte sem assistência alimentar e nutricional.
"O que testemunhei em Darfur e noutros locais esta semana é um forte lembrete do que está em jogo: crianças a enfrentar a fome, doenças, [como a cólera, dengue e malária], e o colapso de serviços essenciais", afirmou o diretor executivo adjunto da Unicef, Ted Chaiban, acrescentando que "comunidades inteiras estão a sobreviver em condições que desafiam a dignidade".
"A ONU e os seus parceiros estão a responder, mas a determinação das famílias deve ser acompanhada por uma ação global urgente para garantir o acesso, mobilizar recursos e, em última instância, pôr fim ao conflito", acrescentou.
Desde o início de 2025, mais de um milhão de pessoas regressaram apenas a Cartum.
Este regresso "é tanto um sinal de resiliência como um aviso", disse o diretor-geral adjunto de Operações da OIM, Ugochi Daniels, apelando a um investimento urgente "em água potável, cuidados de saúde e outros serviços essenciais para que as pessoas possam realmente recomeçar".
As famílias que regressam ao Sudão, muitas delas motivadas pela determinação de reconstruir as suas vidas após anos de conflito incessante, refletem uma mudança frágil, mas esperançosa. No entanto, o Sudão continua a ser um país em profunda crise, alertam.
A ajuda humanitária às populações mais afetadas continua severamente limitada e a falta de financiamento está a agravar ainda mais a crise, refere-se no comunicado.
A guerra, iniciada em 15 de abril de 2023, já matou dezenas de milhares de pessoas e deslocou mais de 14 milhões, dentro e fora das fronteiras.
O conflito mergulhou o terceiro maior país de África na "pior crise humanitária do mundo", segundo a ONU.