Sudão. Amnistia acusa rebeldes de crimes de guerra em campo de deslocados

As Forças de Apoio Rápido (RSF) terão massacrado civis no campo de deslocados internos de Zamzam, em Darfur do Norte.

RTP /
Amr Abdallah Dalsh - Reuters

A denúncia parte da Amnistia Internacional, num relatório publicado esta quarta-feira, que acusa as RSF de terem cometido crimes de guerra.

No relatório intitulado “Um refúgio destruído: violações das RSF no campo de Zamzam para pessoas deslocadas internamente no Darfur”, a organização recolhe testemunhos oculares, fontes como a ONU, vídeos e fotografias, dos acontecimentos que tiveram lugar entre 11 e 13 de abril de 2025.As forças rebeldes lançaram então um ataque em larga escala na região, como parte da campanha para capturar El-Fasher, conquistada em outubro.

“A Amnistia Internacional encontrou um padrão nos relatos de combatentes das RSF a agredir e a matar deliberadamente civis”,
denuncia a organização, que acrescenta que “testemunhas oculares relataram ter visto combatentes das RSF alvejarem e matarem 47 civis escondidos nas casas, a fugir à violência, numa clínica de uma organização humanitária e enquanto procuravam refúgio numa mesquita durante os ataques".

As forças rebeldes também terão, de acordo com vídeos e relatos recolhidos pela Amnistia, assassinado civis com base numa “afiliação percecionada às Forças Conjuntas dos Movimentos de Luta Armada (JFASM, ou Forças Conjuntas) – uma aliança de antigos grupos rebeldes de Darfur, que lutam ao lado das Forças Armadas Sudanesas (SAF) – e às SAF”.Também terão pilhado, incendiado e destruído casas, uma mesquita, pequenos negócios e infraestruturas médicas, civis e religiosas, protegidas pelo Direito Internacional.

O ataque obrigou à fuga de 400 mil pessoas do campo de deslocados internos de Zamzam, com os refugiados ainda a sofrerem de fome e de sede durante a fuga, para além de falta de assistência médica. A Amnistia também denuncia casos de pilhagens, violações e assassinatos de deslocados.

“O ataque horrível e deliberado das RSF contra civis desesperados e famintos no campo de Zamzam revelou, mais uma vez, o seu alarmante desrespeito pela vida humana”, lamenta a secretária-geral da Amnistia Internacional, Agnès Callamard, que acusa países como os Emirados Árabes Unidos de alimentar o conflito através do negócio de armas entre o país e as RSF.

Callamard apela, ainda, ao alargamento do embargo de armas “que atualmente se aplica ao Darfur ao resto do país”, exortando organizações como a União Africana, a União Europeia e a Autoridade Intergovernamental para o Desenvolvimento (IGAD), e países como os Emirados Árabes Unidos, os Estados Unidos, o Reino Unido, a China e a Rússia a “absterem-se de transferir armas e munições para as RSF, as Forças Armadas Sudanesas (SAF) e outros intervenientes”.O Sudão está a viver uma guerra civil desde abril de 2023, quando rebentou uma luta de poder entre as Forças Armadas Sudanesas e as RSF, unidas após o golpe de Estado que depôs o presidente Abdel Fattah al-Burhan, em 2021.


Os episódios mais recentes deste conflito incluem a tomada de El-Fasher, em Darfur do Norte, em outubro, por parte das RSF, após um cerco de 18 meses, e na alegada tomada de Babnusa, no Cordofão Ocidental, pelos rebeldes, algo que as Forças Armadas rejeitam.

Já foram apresentadas várias propostas de cessar-fogo. A mais recente, apresentada na segunda-feira pelos Estados Unidos, Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita, apresentada, foi aceite pelas RSF, mas rejeitada pelo exército sudanês, por considerar desequilibrada a favor dos rebeldes.
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