Sudão. Líder dos paramilitares reconhece "catástrofe" em Al-Fashir

O líder dos paramilitares sudaneses, general Mohamed Daglo, reconheceu esta quarta-feira uma "catástrofe" em Al-Fashir, cidade-chave do Darfur tomada no domingo pelas suas forças, onde se multiplicam as informações sobre violações em massa.

Lusa /

"Habitantes de Al-Fashir, lamentamos a catástrofe que vos aconteceu (...) mas a guerra foi-nos imposta", declarou Dgalo num discurso transmitido no seu canal Telegram, acrescentando: "Exigimos que todos aqueles que cometeram erros prestem contas". Dgalo afirmou, sem entrar em detalhes, que "comissões de inquérito" chegaram ao local.

Após 18 meses de cerco, as Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla inglesa), de Daglo, tomaram no domingo a última grande cidade que escapava ao seu controlo na região do Darfur, no oeste do Sudão, onde "os massacres continuam", de acordo com imagens de satélite analisadas pelo Laboratório de Investigação Humanitária (HRL) da Universidade de Yale.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou-se hoje "consternada e profundamente chocada com as informações que dão conta do trágico assassinato de mais de 460 pacientes e acompanhantes na maternidade saudita de Al-Fashir, na sequência dos recentes ataques".

A União Europeia denunciou igualmente a "brutalidade" das RSF e o alvo "étnico" de civis.

Também a Cruz Vermelha se declarou "profundamente chocada com as crescentes informações da comunicação social, fontes públicas e testemunhos diretos sobre as atrocidades horríveis e o imenso sofrimento" infligido aos habitantes de Al-Fashir.

"Mais de 2.000 civis foram mortos durante a invasão da milícia [das RSF] em Al-Fashir, que teve como alvo mesquitas e voluntários da Cruz Vermelha", afirmou Mona Nour Al-Daem, responsável pela ajuda humanitária do Governo pró-exército.

Em Al-Fashir, o comité de resistência local, que documenta as violações desde o início do conflito, relatou ao final do dia de hoje ter ouvido tiros na zona oeste da cidade, "onde alguns soldados remanescentes lutam com uma tenacidade rara".

No mesmo discurso, transmitido a partir de um local não especificado, o líder dos paramilitares disse que quer "a unidade do Sudão pela paz ou pela guerra".

Na segunda-feira, o general rival e chefe do exército, Abdel Fattah al-Burhane, reconheceu a retirada das suas tropas de Al-Fashir, a única cidade que controlavam no Darfur.

Desde a queda de Al-Fashir, as acusações de abusos --- alimentadas por uma série de vídeos violentos nas redes sociais --- multiplicaram-se contra os combatentes das RSF.

Mais de 36.000 pessoas fugiram da violência desde domingo, principalmente para os arredores de Al-Fashir e para Tawila, localizada 70 quilómetros mais a oeste, que já abrigava, segundo a ONU, mais de 650.000 deslocados.

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