Sudão. Suspensão das negociações não deve "desencorajar" mediadores, diz UA

por Lusa

A suspensão das conversações na Arábia Saudita entre as partes beligerantes da crise no Sudão não deve "desencorajar" os esforços de mediação, afirmou hoje a União Africana (UA), acrescentando que proporá em breve um diálogo político mais alargado.

O exército sudanês anunciou hoje de manhã que suspendia a sua participação nas negociações na Arábia Saudita que visavam eventuais tréguas com o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido (RSF, na sigla em inglês).

"O Comando Geral das Forças Armadas decidiu suspender as conversações em curso em Jeddah", declarou o exército em comunicado, referindo-se às negociações que decorrem na Arábia Saudita desde 06 de maio entre representantes das duas partes no conflito iniciado em 15 de abril.

As forças armadas acrescentam no comunicado que a decisão foi tomada devido "à falta de empenhamento das milícias rebeldes em aplicar os termos estipulados no pacto e às contínuas violações da trégua", a última das quais foi prolongada por um período de cinco dias na segunda-feira.

"Em negociações difíceis, é um fenómeno muito clássico uma das partes suspender ou ameaçar suspender" a sua participação, declarou à agência de notícias AFP Mohamed El Hacen Lebatt, chefe de gabinete do presidente da Comissão da UA e porta-voz da UA para a crise sudanesa.

"Mas isso não deve de forma alguma desencorajar os mediadores (...), os Estados Unidos e a Arábia Saudita, que apoiamos fortemente, a prosseguirem os seus esforços", prosseguiu, no final da terceira reunião do "mecanismo alargado" sobre a crise no Sudão, que reúne a UA, a ONU, a Igad (organização regional da África Oriental), a Liga Árabe, a União Europeia e os países vizinhos do Sudão.

Os participantes decidiram que um "plano concreto" para a organização de um amplo diálogo político "será proposto o mais rapidamente possível, talvez em dois ou três dias", uma vez adotado pelos membros do "mecanismo", anunciou Lebatt à imprensa no final da reunião.

Este processo deverá "incluir (...) todos os setores" da sociedade sudanesa e ser o "encontro de uma nação, sem referência a quaisquer diferenças ideológicas ou outras", explicou.

As tréguas regulares acordadas entre o exército sudanês, chefiado pelo general Abdel Fattah al-Burhan e as RSF, lideradas pelo general Mohamed Hamdane Daglo, nunca foram respeitadas.

A última, que começou em 22 de maio, foi prolongada na segunda-feira por cinco dias, mas na terça-feira voltaram a registar-se combates em Cartum e na região ocidental de Darfur.

Hoje, o exército e as RSF voltaram a acusar-se mutuamente de atacarem as suas posições em Cartum e no centro do país e de não respeitarem a frágil trégua humanitária acordada em Jeddah.

Nenhum dos nove cessar-fogos alcançados desde o início dos combates, em 15 de abril, foi respeitado pelas duas partes.

De acordo com a ONU, o conflito causou a morte de pelo menos 850 pessoas e mais de 5.500 feridos, além de ter provocado a deslocação interna e externa de mais de 1,3 milhões de pessoas.

De acordo com a organização não-governamental de monitorização de conflitos ACLED, a guerra no Sudão já provocou pelo menos 1.800 mortos.

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