Suécia. Idosos são os mais afetados com ausência de restrições antipandémicas

por RTP
Reuters

A maioria dos países europeus tem aplicado, nas últimas semanas, diversas medidas restritivas para combater a propagação da Covid-19. A Suécia destaca-se pelas medidas mais "relaxadas" que tem imposto e pelos resultados que têm suscitado algumas críticas.

Na Suécia as escolas continuam em funcionamento, os bares e os restaurantes continuam abertos e, embora já se supere as mil mortes devido à Covid-19, poucas foram as medidas impostas face à progação do vírus no país.

Até agora, o Governo sueco recomendava apenas que as pessoas mantivessem distância umas das outras, que evitassem ajuntamentos e reuniões com muitas pessoas, que os idosos permanecessem em casa e que as visitas aos lares de idosos fossem evitadas. Mas não eram medidas obrigatórias, eram recomendações.

O Governo apelou ainda ao civismo da população, pedindo a todos para "assumirem as suas responsabilidades" e para seguirem as recomendações das autoridades de saúde.

Mas os resultados desta estratégia não têm sido considerados os mais animadores, uma vez que os números de infetados e de mortos devido à doenças não param de aumentar. Num país com pouco mais de 10 milhões de habitantes - à semelhança de Portugal - foram registados, até esta terça-feira, 15.322 casos de infeção e 1.765 mortes - um valor muito superior aos óbitos em Portugal.

Mas muita da população sueca tem expressado o seu descontentamento contra a estratégia adotada pelo Governo, nomeadamente depois de se confirmar que estava a haver uma grande propagação da doença em lares de idosos - quando a única medida do Governo era apelar ao distanciamento destas instituições.

Anders Tegnell, o epidemiologista que definiu a estratégia da Suécia, assumiu na semana passada que "infelizmente houve uma grande disseminação de contágio em lares de idosos, algo que não se viu nos outros países nórdicos", como a Noruega ou a Dinamarca, por exemplo. No entanto, recusa classificar a estratégia como um "falhanço".

Contudo, os relatos do aumento de casos em lares tem aumentado.

Magnus Bondesson relatou ao Guardian que, desde que o Governo apelou a que se evitassem as visitas aos lares, tem mantido contacto com a mãe - institucionalizada num lar em Uppsala - através de chamadas de vídeo e que a instituição não segue as medidas de prevenção da propagação do vírus.

Numa dessas chamadas, Bondesson afirma que apareceram dois funcionários sem qualquer equipamento de proteção. "Não vi máscaras e não usavam luvas", garante.

"Quando liguei novamente alguns dias depois, questionei a pessoa que estava a ajudar, e perguntei por que razão não usavam máscaras. Respondeu dizendo que estava apenas a seguir as orientações".

Desde que começaram a aumentar os casos em idosos e os relatos sobre as condições dos lares, num contexto pandémico, o Governo tem sido pressionado para explicar como é que, apesar de o objetivo ser proteger os idosos dos riscos da Covid-19, um terço das mortes registadas são de pessoas que vivem em lares.

"Esta é a nossa grande área problemática", assumiu entretanto Tegnell.

O primeiro-ministro Stefan Löfven afirmou que o país enfrentava uma "situação séria" nos lares de idosos e anunciou esforços para aumentar as proteções, exigindo uma inspeção sanitária para investigar esta questão.

No entanto, a Agência Pública de Saúde da Suécia recomendou aos profissionais de saúde que não usassem máscara ou qualquer tipo de proteção, a não ser que alguma das pessoas institucionalizadas seja um caso suspeito de infeção.

São os próprios profissionais de saúde que relatam à imprensa que não há máscaras, nem sequer gel desinfetante nos lares. O problema, assumem, é que são estes funcionários - médicos, enfermeiros, auxiliares - que, sem saber, levam o vírus para o interior destas instituições e não têm como proteger os mais idosos por falta de equipamentos e orientações institucionais.
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