Em direto
Portugal comemora 50 anos da Revolução dos Cravos. Acompanhe ao minuto

Suspeito de papel importante no genocídio no Ruanda fica em prisão preventiva na África do Sul

por Lusa

Fulgence Kayishema, suspeito de ter desempenhado um papel importante no genocídio no Ruanda e detido esta semana na África do Sul, após 22 anos de fuga, foi colocado hoje em prisão preventiva enquanto aguarda a extradição.

Kayishema, 62 anos, que até à sua detenção, na quarta-feira, era um dos últimos quatro fugitivos procurados pelo seu papel no genocídio de 800.000 ruandeses, na sua maioria tutsis, por extremistas hutus, apresentou-se impassível no banco dos réus, segurando um livro de orações.

O homem, corpulento, calvo e de óculos finos e ladeado por agentes armados com coletes à prova de bala, admitiu que era ele um dos procurados pela justiça internacional. Mestre em assumir identidades falsas, segundo os investigadores, usava recentemente o nome de Donatien Nibashumba.

Ainda não se sabe ao certo o que andou a fazer durante todos estes anos nem como escapou à justiça. Mas, de acordo com o Ministério Público sul-africano, constituiu família e pediu asilo em 2000, depois o estatuto de refugiado em 2004, ainda sob um nome falso.

Finalmente desmascarado e visto numa quinta em Paarl, a cerca de 60 quilómetros da Cidade do Cabo, foi detido com a ajuda da Interpol, anunciaram os procuradores das Nações Unidas na quinta-feira.

"Uma mensagem poderosa que mostra que os suspeitos de cometerem tais crimes não podem escapar à justiça", afirmou o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric.

Kayishema foi objeto de um mandado de captura emitido pelo Mecanismo Internacional (MICT), responsável desde 2015 pela conclusão do trabalho do Tribunal Penal Internacional para o Ruanda (ICTR), criado pela ONU após o genocídio.

Para encobrir o seu rasto, terá contado com a ajuda de familiares e membros das antigas Forças Armadas Ruandesas e das Forças Democráticas de Libertação do Ruanda, bem como de pessoas que aderiram à ideologia genocida do poder hutu.

O acusado foi colocado em prisão preventiva num estabelecimento prisional de alta segurança na Cidade do Cabo antes de uma nova audiência marcada para a 2 de junho. A questão da sua extradição não foi levantada durante a sua breve comparência perante o Tribunal na África do Sul.

Mas, de acordo com o Ministério da Justiça contactado pela agência de notícias francesa AFP, o arguido deverá ser extraditado sem demora para ser julgado por um tribunal internacional, em Haia ou em Arusha, na Tanzânia.

Fulgence Kayishema foi inspetor da polícia judiciária durante o genocídio no Ruanda e "um dos fugitivos mais procurados do mundo" pela prática daquele crime, segundo a justiça internacional.

Participou "diretamente no planeamento e na execução" do massacre de mais de 2.000 refugiados tutsis na igreja de Nyange, na comuna de Kivumu (nordeste), "nomeadamente através da aquisição e distribuição de gasolina para incendiar a igreja com os refugiados lá dentro", segundo os procuradores da ONU.

"Quando isso falhou, Kayishema e outros utilizaram um bulldozer para fazer desmoronar a igreja, enterrando e matando os refugiados que se encontravam no seu interior", relataram os procuradores.

Tópicos
pub