Suspensão da Rádio Despertar é "inoportuna" e "só vem nublar processo eleitoral" - Repórteres Sem Fronteiras

Luanda, 08 Jul (Lusa) - O representante dos Repórteres sem Fronteiras em Angola, Siona Casimiro, disse hoje à Agência Lusa ser "inoportuna" a suspensão da Rádio Despertar, próxima da UNITA, considerando que "só vem nublar" o processo do período eleitoral.

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"Esta decisão vai no sentido de limitar a pluralidade dos órgãos de comunicação", disse Siona Casimiro, acrescentando que a decisão do Governo "vem desacreditar o processo democrático".

Siona Casimiro sublinha que o país precisa de afirmar a liberdade de imprensa e de expressão neste período, através da presença de órgãos de comunicação social de diversas linhas editoriais.

"Não é com esse tipo de medidas que vamos para essa via, pelo contrário", defendeu.

O Governo angolano comunicou hoje à Rádio Despertar que as emissões vão ser suspensas por um período de 180 dias, alegando que a estação cobre uma área substancialmente superior à autorizada pelo alvará de emissão.

A decisão conjunta dos Ministérios dos Correios e Telecomunicações e da Comunicação Social angolanos foi comunicada à Rádio Despertar através de uma notificação emitida sexta-feira pelo Instituto Angolano das Comunicações (INACOM).

Por sua vez, o analista político Justino Pinto de Andrade, afirmou que a decisão assemelha-se ao que aconteceu no Zimbabué, onde o seu Presidente, Robert Mugabe, prendeu pessoas, nomeadamente jornalistas e "aniquilou" outras.

"A única diferença é que Angola produz dois milhões de barris de petróleo por dia e o Zimbabué não produz. Também Mugabe tentou silenciar as pessoas, mas não conseguiu", salientou o analista político que, actualmente, é mandatário da campanha da Frente para a Democracia, um partido sem representação parlamentar..

O também docente universitário entende ainda que "a primeira ofensiva foi contra os conteúdos da própria rádio, em que se dizia que estava a atacar o MPLA".

Sendo uma emissora próxima da UNITA "não faz sentido elogiar acções do partido no poder", esgrimiu Justino Pinto de Andrade.

"O alcance das emissões de rádio depende muito do clima e a geografia dos lugares. Ninguém dimensiona as suas emissões", frisou.

Na opinião de Justino Pinto de Andrade, "trata-se de uma estupidez porque estão a fazer tudo em cima das eleições", acrescentando que, depois do julgamento de jornalistas apressadamente, o Governo está agora a tentar silenciar uma rádio, o que classificou como uma atitude "mugabeana".

A Lusa tentou, ao longo do dia de hoje, contactar o porta voz do MPLA, Norberto dos Santos "Kwata Kanawa", sem sucesso.

As eleições legislativas em Angola estão marcadas para 05 de Setembro próximo e a campanha eleitoral começa a 05 de Agosto.

NME/HSO.

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