Taxa de juros brasileira trava negócios com a China

por Lusa
Carlos Fávaro denunciou as dificuldades que existem para concretizar os negócios entre o Brasil e a China D.R.

O ministro da Agricultura e Pecuária do Brasil, Carlos Fávaro, disse em Pequim, que a taxa de juros no Brasil, de 13,75%, constitui um obstáculo para os empresários aproveitarem as oportunidades geradas pela China.

É frustrante gerar tantas oportunidades aqui na China e os empresários brasileiros depois não conseguirem arrecadar investimentos com os juros nesse patamar”, afirmou Carlos Fávaro, durante um fórum empresarial realizado na capital chinesa.

O Banco Central do Brasil decidiu, na terça-feira, manter a taxa de juros base em 13,75% ao ano - o patamar mais alto desde dezembro de 2016.

O governante brasileiro considerou aquele valor “proibitivo” e defendeu que o país sul-americano tem a inflação e gastos públicos “sob controlo”.

Carlos Fávaro enalteceu ainda a decisão das autoridades chinesas de levantar o embargo às importações de carne bovina brasileira, que estavam suspensas desde fevereiro. O embargo foi suspenso pela China após 29 dias de negociação.

Essa rapidez, não comprometendo de forma alguma a qualidade e a segurança necessária para a relação comercial, mostra a relação afetuosa e profícua entre os dois países”, vincou. “A última vez que aconteceu um caso semelhante, foram precisos mais de 100 dias para o embargo ser levantado”, disse o ministro.

O ministro também comemorou a habilitação de quatro novas plantas frigoríficas brasileiras para exportar para a China, o que não ocorria desde 2019, além da retomada de duas plantas frigoríficas que estavam suspensas.

“Temos hoje mais de 50 plantas frigoríficas cadastradas para serem avaliadas pelo governo chinês. As oportunidades estão postas na mesa e tenho a certeza de que teremos mais produtos comercializados com a China”.

Ele afirmou que houve avanços na negociação de outros produtos como algodão, milho, uva fresca, noz, sorgo e gergelim.

Luiz Inácio Lula da Silva tinha previsto realizar esta semana uma visita à China, que foi entretanto adiada, após o presidente do Brasil ter contraído uma pneumonia.

Uma comitiva com centenas de empresários, além de governadores, senadores, deputados e ministros, encontra-se, no entanto, em Pequim, prosseguindo com a agenda original, que terminou com a realização do fórum empresarial, hoje, num hotel da capital chinesa.

Projetos concretizados

Durante o fórum foram anunciados vários acordos entre empresas dos dois países nas áreas energias renováveis, agricultura ou comercialização de créditos de biodiversidade.

A nível financeiro, foi anunciada a adesão do banco sino-brasileiro BOCOM BBM ao CIPS (China Interbank Payment System), a alternativa chinesa ao Swift, o sistema internacional de pagamentos, visando incrementar o câmbio directo entre as moedas nacionais do Brasil e da China.

Também a sucursal brasileira do banco estatal chinês Industrial and Commercial Bank of China passou a atuar como banco de compensação da moeda chinesa, o yuan, no Brasil, visando “reduzir as restrições” ao uso do yuan e “promover ainda mais o comércio bilateral e facilitar investimentos” com a moeda chinesa.

Em fevereiro, os bancos centrais do Brasil e da China assinaram um memorando de entendimento para o estabelecimento de acordos de compensação do yuan, como parte dos esforços de Pequim para internacionalizar a moeda chinesa.

O estabelecimento desses arranjos “vai beneficiar as transações transfronteiriças e promover ainda mais o comércio bilateral e a facilitação de investimentos”, disse então, em comunicado, o Banco Popular da China (banco central).

A China tem tentado internacionalizar o yuan desde 2009, visando reduzir a dependência do dólar em acordos comerciais e de investimento e desafiar o papel da moeda norte-americana como a principal moeda de reserva do mundo.

Esta questão tornou-se mais urgente à medida que fricções políticas e a prolongada guerra comercial e tecnológica entre Pequim e Washington resultaram na imposição de sanções contra várias entidades chinesas.

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