Teerão a ferro e fogo após reeleição de Ahmadinejad

O líder supremo do Irão, Ali Khamenei, declarou Mahmoud Ahmadinejad vencedor das eleições e novo Presidente do Irão. A juventude iraniana, apoiante do candidato derrotado, Hussein Mousavi, não se conforma e pelo segundo dia ouviram-se milhares de vozes de discórdia contra uma alegada fraude eleitoral.

RTP /
Juventude iraniana apoiante de Mousavi mantém protestos nas ruas de Teerão exigindo anulação das eleições EPA

Com gritos de "morte ao traidor", a juventude apoiante de Mousavi veio para a rua protestar contra a eleição de Ahmedinejad incendiando as ruas de Teerão com muitos pneus e caixotes do lixo.

O protesto subiu de tom e a polícia anti-motim interveio com determinação e uso de todos os meios ao seu alcance. Como resultado, foram detidas 170 pessoas, 60 das quais acusadas de serem as organizadoras dos protestos.

Mas Teerão foi palco de outra manifestação, desta feita de milhares de apoiantes do Presidente reeleito que fez o seu discurso de vitória e garantiu que a "reeleição foi verdadeira e livre", refutando assim as acusações do seu opositor de fraude eleitoral e invocando a alta percentagem de votantes - 84% de votos expressos - para rejeitar a possibilidade de se questionar a sua vitória.

Mousavi formulou, entretanto, ao Conselho de Guardiões da Constituição um pedido para a anulação dos resultados eleitorais.

Mas enquanto nas estruturas políticas se discute a legitimação, ou não, dos resultados eleitorais, os apoiantes de Mousavi não desistem, e esta noite viveu-se mais uma jornada de protestos e confrontos de que resultaram vários feridos e detenções.

Hussein Mousavi agendou para esta segunda-feira uma grande manifestação dos seus apoiantes que pretendia pacífica, mas o Governo iraniano antecipou-se às intenções do candidato derrotado e proibiu o protesto.

O Ministério do Interior garantia à France Press que "nenhuma autorização para uma marcha ou concentração foi emitida, e qualquer tipo de manifestação ou de concentração está proibida".

Apesar dos apelos do candidato à calma dos seus apoiantes , muitos não colocam de lado a hipótese de se reunirem espontaneamente em vários locais da capital iraniana.

O Estado exerce por outro lado um forte controlo nos meios de comunicação social de forma a evitar notícias contrárias à posição do Presidente agora eleito. Enquanto o jornal de Mousavi "Kalameh Sabz" foi suspenso no domingo, em todas as redacções os representantes da autoridade vigiam o que os jornais querem publicar e chegam ao ponto de eliminar títulos, artigos ou partes de artigos, segundo denuncia, sob anonimato, um especialista da Comunicação Social iraniana.

Familiares exigiram libertação dos detidosMais de 200 familiares dos 170 manifestantes detidos pela polícia anti-motim manifestaram-se frente ao Tribunal revolucionário de Teerão exigindo a libertação imediata dos detidos.

Uma força policial constituída por oito membros da polícia anti-motim reforçada por seis polícias impedia a multidão de se chegar às instalações do Tribunal.

Os familiares dos detidos foram convencidos pelos agentes policiais a afastarem-se do imóvel da justiça iraniana. Se numa primeira fase os argumentos foram verbais, rapidamente a polícia mudou de táctica havendo testemunhos de agressões a um pai de família e ao uso de uma matraca numa mulher que ali protestava contra a detenção do filho.

Um oficial da polícia chegou e conseguiu evitar que a confrontação tomasse outros rumos assegurando aos familiares dos detidos que estes seriam libertados no máximo em quinze dias e que entrariam em contacto com as famílias dentro de dois ou três dias.

Os detidos foram transportados para a prisão de Evine, no norte do país. "Disseram-me que o meu filho foi levado para Evine, mas não tenho a certeza. Eu sei que o meu filho não era um dos manifestantes, estava apenas a observar", disse um pai que se manifestava frente ao Tribunal Revolucionário.

PUB