Teerão também responde à ofensiva alargada de Donald Trump

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Reuters

Se nos recordarmos da chamada guerra contra o terror lançada no início do século por George W. Bush lembrar-nos-emos da expressão “eixo do mal” que legitimou o desencadear do conflito no Iraque. Por "eixo do mal" a liderança americana entendia “Iraque, Irão e Coreia do Norte”. Arrumado que está o dossier Iraque, o discurso do presidente Trump nas Nações Unidas foi o suficiente para desencadear para já uma troca de argumentos beligerantes com a Coreia do Norte e o Irão.

Presidente iraniano sobre Trump: “Seria uma pena se o acordo fosse destruído por novos bandidos na política internacional”.Depois das ameaças e contra-ameaças trocadas entre Washington e Pyongyang, é agora a vez de Teerão responder ao discurso “provocatório” que Donald Trump fez na última terça-feira em Nova Iorque por ocasião da 72ª Assembleia Geral das Nações Unidas, nomeadamente em relação ao acordo de 2015 que permitiu interromper o programa nuclear que estava a ser desenvolvido pelo Irão.

“Seria uma pena se o acordo fosse destruído por novos bandidos na política internacional”, declarara ontem o presidente Hassan Rohani, referindo-se a Donald Trump, que passou com um cilindro sobre o acordo lavrado com Teerão.

O presidente norte-americano nunca escondeu a insatisfação face ao acordo assinado pelo seu antecessor, Barack Obama, uma negociação que envolveu a comunidade internacional e exigiu dos iranianos garantias sólidas em respeito ao programa nuclear que na altura o regime garantia ter unicamente fins civis.Acordo de 2015

O acordo foi assinado a 14 de julho, em Viena, pelo Irão e seis grandes potências (Estados Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, China, França e Alemanha). Após 12 anos de negociações ficou estabelecido o levantamento progressivo das sanções internacionais contra o Irão. Em troca, Teerão comprometeu-se a limitar o seu programa nuclear ao uso civil.


Donald Trump não aceita os termos do documento, não escondendo a suspeita de que os iranianos mantêm um programa de armamento que constitui uma ameaça mundial.

Mas não foi apenas o programa nuclear que ocupou as linhas do discurso levado pelo presidente americano à Assembleia Geral das Nações Unidas. Pelo meio, Trump provocou os iranianos com acusações de corrupção, de fomento da guerra regional, nomeadamente no Iémen e na Síria.

“O governo iraniano oculta uma ditadura corrupta sob a capa de uma falsa democracia. Transformou um país rico, com história e cultura ricas, num Estado vilão e economicamente falido, cujas principais exportações são a violência, o derramamento de sangue e o caos”, acusou o líder americano, para deixar o aviso: “Não podemos deixar que um regime de assassinos prossiga estas actividades desestabilizadoras enquanto constrói mísseis perigosos e não podemos aceitar um acordo se este der cobertura à eventual construção de um programa nuclear”.

Esta sexta-feira, já depois de um encontro entre os chefes das diplomacias dos dois países, Rex Tillerson e Javad Zarif, o Irão fez saber que vai reforçar o seu arsenal de mísseis. Num claro gesto de desprezo pela ameaça de Trump, o presidente Rohani fez questão de explicar que o programa de rearmamento será posto em marcha sem que seja solicitada qualquer autorização à comunidade internacional.

Para abrir as hostilidades, a agência de notícias Tasnim anunciou o desenvolvimento de um míssil balístico com alcance de 2000 quilómetros e capacidade para transportar várias ogivas nucleares. A fonte da notícia é o chefe da divisão aérea dos Guardas da Revolução, Amirali Hajizadeh.

O anúncio aconteceu por altura de uma parad militar na capital do país, altura aproveitada pelo presidente Rohani para deixar esse recado a Donald Trump: “Quer queiram quer não, vamos reforçar as nossas capacidades militares, necessárias em termos de dissuasão. Vamos desenvolver os nossos mísseis e também as nossas forças: aérea, terrestre e marítima. Para defender a nossa pátria não vamos pedir autorização a ninguém”.
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