Tensão aumenta no Brasil após nomeação de Lula da Silva

Cerca das 19h30 em Lisboa, pelo menos 1.500 pessoas, de acordo com a Polícia Militar (2.500 de acordo com os organizadores), manifestavam-se frente ao Palácio do Planalto, em Brasília, contra a nomeação de Lula da Silva, interrompendo a circulação no Eixo Monumental.

RTP /
Fernando Bizerra Jr. - Lusa

Os protestos começaram pelas 17h00 locais e às 18h30 incluíam cerca de 300 pessoas. A essa hora a Polícia Militar do Distrito Federal interveio com gás pimenta, para separar o grupo da oposição de outro menor de apoiantes de Lula, que tinham chegado entretanto.

Um homem foi preso por suspeita de querer fazer explodir uma bomba caseira próximo da sede do Executivo, relata o jornal Globo.

Cerca de 100 agentes da Polícia Militar estão no local para controlar os manifestantes, tendo formado um cordão, dividindo os dois grupos.

O Batalhão da Guarda Presidencial reforçou a vigilância do Palácio e evitou ainda que este fosse invadido pelos opositores de Dilma.

Vários deputados participam da manifestação. Entre eles, João Gualberto (PSDB-BA), Daniel Coelho (PSDB-PE), Darsício Perondi (PMDB-RS) e Ricardo Tripoli (PSDB-SP). Além disso, estão presentes os líderes dos movimentos Vem pra Rua, Brasil Livre e Diferença Brasil.

Com o final do expediente, milhares de pessoas juntaram-se à manifestação contra o Governo.

Gritam palavras de ordem como "Lula ladrão, seu lugar é na prisão", e abriram uma faixa a chamar mentirosa a Dilma Rouseff e outra a dizer "O Brasil não é do PT".



Outra faixa convida os condutores que passam no local a juntar-se ao protesto. "Lula na cadeia. Buzine" diz. Muitos aceitam o convite, ocasionando um buzinão de protesto.

"É muito importante a manifestação porque, depois de tantos milhões de pessoas terem ido à rua hoje, nós vemos praticamente um golpe no Brasil", afirmou ao jornal Globo a funcionária pública Joelma Alves, que disse ter ido ao protesto após sair da academia.

"Este país é feito com a dignidade de cada cidadão. Se o povo não se revoltar num momento desses, quando se revoltará? O ex-presidente Lula tornou-se ministro e é investigado. Será que a Presidente contrataria um empregado que fosse investigado pela polícia?", disse outro manifestante, Helton Barros.

"Vim protestar contra essa sacanagem que está sendo feita com o povo. A gente trouxe 6 milhões às ruas do Brasil no domingo para, três dias depois, a persistente indicar para a Casa Civil um investigado por corrupção", afirmou por seu lado Rafael Dezan.
Protestos em São Paulo
De acordo com o jornal Estadão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou de carro, a sede do Instituto Lula, no Ipiranga, na zona sul de São Paulo, sem falar com a imprensa.

Cerca de dez manifestantes protestam frente ao Instituto, batendo palmas e gritando ofensas ao ex-presidente, como "ladrão" e "vagabundo", além de "fora, PT", continua o jornal.

Ao início da noite, três das quatro faixas da Avenida Paulista junto ao MASP estavam cortadas por um protesto contra a nomeação de Lula da Silva e a polícia estava no local a regular o trânsito e a manifestação.

A manifestação começou pelas 17h00 locais apenas com um reformado que brandia um cartaz tosco e incentivava a um buzinão contra o ex-Presidente, com algum sucesso.

"Saí da zona norte, peguei metrô e estou aqui fazendo a minha parte. Lula não pode ser ministro", explicou Lorival Andrade de 57 anos ao Estadão.

O grupo cresceu também sobretudo depois do encerramento dos escritórios.

Os participantes denunciavam a nomeação de Lula da Silva para ministro da Casa Civil como um "golpe petista" que era necessário travar.

Um casal de namorados queixa-se de ter sido agredido pelos manifestantes.  "Eu estava voltando do trabalho com a minha namorada. Algum dos caras gritou que Lula tinha de ser preso. Ela não aguentou e respondeu a ele. Ele a agrediu e outros foram para cima para agredi-la," disse Lucas, o namorado, citado pelo jornal Estadão. 
Escutas reveladas
Além dos protestos provocados pela nomeação de Lula da Silva, o Governo brasileiro tem ainda de lidar com a divulgação de uma conversa telefónica entre Lula da Silva e a Presidente Dilma Rousseff, que, alegadamente, pode implicar tentaiva de ingerência no Ministério Público.

Dilma estará reunida no Palácio da Alvorada, em Brasília, para avaliar com os ministros Ricardo Berzoini, da Secretaria do Governo, e José Eduardo Cardozo, da Advocacia-geral da União, para avaliar i impacto da revelação das escutas.

Nelas, a Presidente telefona a Lula para lhe dizer que vai enviar o subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, Jorge Rodrigo Araújo Messias, com o o termo de posse do ex-Presidente como ministro para ser usado em caso de necessidade.

"Seguinte, eu estou mandando o `Messias` [Jorge Rodrigo Araújo Messias, subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil] junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?", diz Dilma, ao que Lula responde: "Está bom, eu estou aqui, fico aguardando".

As conversas, divulgadas pelo canal de televisão Globo News, foram gravadas pela Polícia Federal, com autorização judicial, antes de Dilma Roussef anunciar publicamente que Lula seria ministro chefe da Casa Civil.

Terá sido o juiz brasileiro Sérgio Moro, responsável pelas investigações de corrupção da Petrobras, a divulgar as gravações. Moro afirma que Lula estaria a tentar influenciar o Ministério Público e ainda que o ex-Presidente sabia que estava a ser escuatdo, o que afetou a credibilidade da conversa.

Nas gravações, Lula também fez duras críticas ao juiz Moro e aos investigadores da Lava Jato, referindo-se "uma suprema corte totalmente acovardada e um parlamento totalmente acovardado." 
Mais protestos durante a noite
Durante o fim de semana 438 cidades brasileiras foram palco de gigantescas manifestações contra a corrupção e contra o atual Governo, pedindo a impugnação da Presidente.

Dilma Rousseff conseguiu contudo uma vitória institucional esta quarta-feira, com o Supremo Tribunal a decidir que o Senado tem poderes para rever uma decisão da câmara baixa que leve à suspensão de Dilma em caso de processo de impugnação.

O presidente da Câmara dos Deputados, o deputado Eduardo Cunha, reuniu-se entretanto com os líderes do Congresso para definir quem serão os membros da comissão do impugnação.

Também esta quarta-feira, os grupos que convocaram os protestos do fim de semana apelaram a novas manifestações, após a nomeação de Lula da Silva.

O movimento Vem Pra Rua e o Movimento Brasil Livre convocaram um protesto durante o Jornal Nacional, esta noite, contra a nomeação de Lula da Silva para a Casa Civil.
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