Teorias da conspiração do movimento QAnon chegam ao Congresso dos EUA

Uma candidata pró-Trump, associada ao movimento de teorias da conspiração QAnon, foi eleita para a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, onde representará um bastião republicano no Estado da Geórgia. A eleita congressista Marjorie Taylor Greene assume uma espécie de cruzada racista, antissemita, islamofóbica e pró-armamento e pode abrir as portas do Capitólio à extrema-direita.

RTP /
Elijah Nouvelage - Reuters

A eleição de Marjorie Taylor Greene para a câmara baixa do Congresso norte-americano era dada quase como certa, após a sua vitória nas primárias republicanas em agosto. Mas vai ser a primeira vez que o Congresso dos Estados Unidos vai ter uma cadeira para uma representante do grupo de conspiração QAnon.

Durante a sua campanha para as primárias, Taylor Greene afirmou fazer parte do movimento pró-Trump QAnon que se tem vindo a espalhar nas redes sociais desde 2017 - movimento de extrema-direita que defende a ideia de que Donald Trump está a travar uma guerra secreta contra uma seita mundial de pedófilos e canibais.

Para a republicana Marjorie Taylor Greene, os eleitores afro-americanos são "escravos do Partido Democrático", há uma "invasão islâmica contra o Governo" e, há quatro anos, Barack Obama contratou dois indíviduos do "gangue MS-13" para assassinar um colega da Comissão Nacional Democrata, segundo o El País.

De facto, mais de uma dezena de candidatos republicanos que concorreram às eleições legislativas de agosto assumiram apoiar o movimento QAnon. Mas só Greene ganhou agora um lugar no Congresso norte-americano com as suas ideias.

O primeiro anúncio de que era candidata foi através de um vídeo onde se via um veículo militar blindado de onde Greene sai com uma arma nas mãos e na mira vários alvos rotulados com "fronteiras abertas" e "socialismo".

Marjorie Taylor Greene, de 46 anos, chegou a ser conhecida por "candidata QAnon" pelo seu assumido gosto pelas teorias da conspiração de extrema-direita, mas acabou por retroceder para uma campanha mais cordata com o eleitorado da Geórgia, com receio de perder os habituais eleitores republicanos. Greene acabou por apagar parte das suas ligações ao grupo ou às teorias da conspiração, incluindo nas redes socias, deixando de defender as armas de fogo como elemento dinâmico do debate social, por exemplo.

A população da Geórgia votou na candidata republicana e ex-candidara QAnon, mas Greene assume que continua a seguir uma espécie de cruzada racista, antissemita, islamofóbica e pró-armamento. A eleição de Greene pode ser um novo impulso para a crescente tendência da extrema-direita no país.
O que é o movimento QAnon?
O movimento QAnon surgiu em outubro de 2017, na Internet, alimentando a ideia de que Donald Trump é o salvador do mundo e está fazer uma campanha secreta com o objetivo de combater uma cabala de pedófilos e canibais, que, alegadamente, dirigem um círculo de tráfico sexual infantil. Segundo o grupo de teorias de conspiração, estão incluídos vários democratas, celebridades de Hollywood, o milionário George Soros – que, juntamente com Barack Obama e Hillary Clinton, planearia um golpe de Estado – e Angela Merkel – que segundo esta teoria é neta de Adolf Hitler -, por exemplo.

O movimento afirma ainda que o FBI é um incitador do terrorismo interno, sendo que, no ano passado, a própria agência definiu este movimento como uma potencial ameaça extremista doméstica.

Por detrás desta teoria da conspiração de extrema-direita e pró-Trump, está um utilizador anónimo, que utiliza sempre a letra Q para se identificar, autointitulando-se como um "oficial norte-americano". Este utilizador publica, há três anos, mensagens em código que revelam alegadas informações confidenciais sobre a suposta campanha secreta liderada pelo presidente dos EUA.

As primeiras mensagens crípticas apareceram em 2017, escritas por um misterioso "Q".

"Q é um patriota"
, disse Marjorie Taylor Greene em 2017. "Esta é a oportunidade de uma vida inteira para eliminar esta cabala global de pedófilos satânicos e penso que temos o presidente certo para isso", afirmou, na altura.

Greene também disse que os homens brancos eram o grupo mais alvo de abusos nos Estados Unidos atualmente e negou que os afro-americanos fossem vítimas de racismo no país.

"Sabe que mais? O racismo acabou", disse, num vídeo publicado pela Politico. "Os negros têm os mesmos direitos".

A agora a congressista eleita também denunciou "uma invasão islâmica", referindo-se à eleição de duas mulheres muçulmanas para a Câmara dos Representantes em 2018.


A questão é que o QAnon está a ganhar cada vez mais apoiantes por todo o território norte-americano e começa a chegar à Europa. De acordo com um estudo realizado pelo Institute for Strategic Dialogue, em Londres, a Covid-19 deu um grande impulso a este movimento, sendo que, entre março e junho deste ano, houve um crescimento enorme de publicações de apoio ao QAnon: quase 175 por cento no Facebook, 77,1 por cento no Instagram e 63,7 por cento no Twitter.

Contudo, o Facebook e o Youtube anunciaram que estão a remover os conteúdos ligados a esse movimento, já que incitam à violência e ao ódio.

Embora Donald Trump garanta que não tem qualquer ligação ou mesmo informação sobre este movimento, chegou a admitir que vários apoiantes do QAnon estiveram presentes em alguns dos seus comícios e que até concordava com algumas das suas ideias, incluindo o facto de serem completamente contra a pedofilia. Na verdade, desde o início da campanha que vários apoiantes de Donald Trump foram vistos com bandeiras e camisolas com o símbolo QAnon.

A verdade é que, durante a campanha, Trump mostrou forte apoio à campanha de Greene, a ponto de considerá-la "a futura estrela republicana".  Já em agosto, o ainda presidente dos EUA felicitou-a calorosamente pela sua vitória nas primárias, no Twitter: "Marjorie é forte em todos os sentidos e nunca desiste - uma verdadeira VENCEDORA!"
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