Theresa May deseja um Brexit "o mais cedo possível"

por RTP
Primeira-ministra britânica, Theresa May, à chegada ao Conselho Europeu de emergência que deverá decidir sobre o seu pedido de nova extensão do Brexit. Reuters

O Conselho Europeu já começou em Bruxelas. Antes de se fechar a porta, a primeira-ministra britânica falou com os repórteres e tornou público o seu desejo de que o Reino Unido "possa sair da União Europeia o mais cedo possível".

"O propósito desta cimeira é concordar uma extensão [do prazo para o Brexit], que nos dá mais tempo para chegar a um acordo para deixar a União Europeia dessa forma suave e ordeira, o mais cedo possível", disse May ao chegar ao Conselho Europeu de emergência.

A primeira-minsitra britânica sublinhou que, apesar de estar a pedir à União Europeia uma extensão do Brexit até 30 de junho, o Reino Unido poderá sair do bloco antes mesmo de 22 de maio, para aquilo que chamou um "futuro mais brilhante".

"Sei que muitas pessoas se irão sentir frustradas que seja sequer necessária esta cimeira, porque o Reino Unido já deveria ter deixado a UE e lamento profundamente o facto do Parlamento não tenha aprovado o Acordo que nos teria permitido sair ordeiramente", sublinhou May.

O Conselho Europeu anuncia-se dividido. Embora o cenário mais provável seja os líderes dos 27 concordarem em estender de novo a data do Brexit, a duração dessa mesma extensão não é pacífica.

Também as condições a impor ao Reino Unido durante esse período estão em debate, incluindo a proposta de Paris, de que o Reino Unido deixe a partir de agora de participar nas reuniões do Conselho Europeu.

O primeiro-ministro português, António Costa, defende que se evite a "todo o custo" uma saída sem acordo, referindo que deverá ser dado ao Reino Unido tanto tempo "quanto o necessário para encontrar uma posição clara".

A prioridade é "dar confiança aos cidadãos e às empresas de que evitamos a todo o custo o risco de um não acordo e que temos de conduzir todo este processo tendo em conta que o principal objetivo é termos no futuro a relação o mais próxima possível com o Reino Unido"

O primeiro-ministro da Dinamarca, Lokke Rasmussen, segue também esta opção. "Temos de fazer todo o necessário para conseguir um Brexit ordeiro", disse, ao entrar para o Conselho.
Conselho das incertezas
O primeiro-ministro belga foi sucinto sobre a incerteza que domina o Conselho. "Não é certo que vá haver um prolongamento", referiu Charles Michael. Nem sequer "há certezas sobre o que isso vá significar".

O primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, uma das vozes mais críticas sobre o alongamento do prazo, defendeu acima de tudo a garantia do bom funcionamento da UE e a "cooperação leal" entre todos os seus membros. E, à entrada para o Conselho, manifestou algum otimismo. "Muito possivelmente, esta noite iremos decidir prevenir um Brexit sem acordo", afirmou Rutte. "Teremos várias discussões importantes, quanto tempo irá durar a extensão e que condições implicará... há opiniões diferentes sobre isso", acrescentou.

Krišjānis Kariņš, o primeiro-ministro da Lituânia, lembrou por seu lado as várias opções em cima da mesa - uma saída sem acordo, uma saída com o Acordo já negociado, ou a revogação do Artigo 50 - mas sublinhou que a decisão última cabe ao Reino Unido.

"Hoje iremos falar disso mas a decisão não é nossa. Já temos uma proposta em cima da mesa em termos do acordo de saída. Cabe aos britânicos decidir o que querem. Se precisam de mais algum tempo, considero razoável debater isso", referiu.
Agendas de França, Alemanha e Irlanda
"Neste momento, naquilo que me diz respeito, nada está garantido", afirmou o Presidente francês, Emmanuel Macron, à entrada para o Conselho.

Considerado o maior anglo-cetico dos líderes europeus, Macron sublinhou que já se passaram 36 meses desde o referendo que decidiu pelo Brexit.

"Temos um renascimento da Europa para administrar e não quero o Brexit a bloquear-nos. O tempo para decisões é agora... vou ouvir a Theresa May com muita impaciência. Nada está decidido", afirmou.

"Para mim é muito importante que o Reino Unido diga que se irá preparar para as eleições europeias. Isto garante o funcionamento das instituições europeias", sublinhou por seu lado a chanceler alemã. Angela Merkel disse que um Brexit ordeiro é no interesse de todos e lembrou que "devemos ser abertos e construtivos".

Um dos mais interessados num Brexit ordeiro, o primeiro-ministro da Irlanda, Leo Varadkar, recusou-se a traçar cenários. "Até ouvirmos oo que a May tem para dizer, é difícil tomar uma decisão", explicou.

"Todos queremos evitar um não acordo, mas não queremos uma situação na qual este nível de incerteza se prolongue infinitamente poruqe não é justo para os nossos cidadãos, não é justo para os negócios", acrescentou.

Uma saída sem acordo iria significar o regresso de uma fronteira física entre a Irlanda e a Irlanda do Norte. A proposta para evitar esta situação, negociada entre May e Bruxelas, tem sido o maior obstáculo à aprovação do Acordo de Saída por parte dos deputados britânicos.

"É evidente que o Reino Unido está numa posição muito difícil", reconheceu Varadkar, recomendando "flexibilidade" aos líderes dos 27 de forma a "lhes dar mais tempo para chegar a uma conclusão", garantindo ao mesmo tempo que a extensão não seria apenas um prolongamento do impasse.

O negociador da UE para o Brexit, Michel Barnier, lembrou esta quarta-feira que, se o Reino Unido optar por uma união alfandegária com a União Europeia após o Brexit, a questão da fronteira entre as Irlandas ficaria resolvida.

"Seria sempre necessário fiscalizar o cumprimento dos regulamentos das indústrias", acrescentou Barnier.
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