Tiananmen. Pompeo lembra protestos, Pequim acusa-o de "afronta"

O Governo chinês acusou esta terça-feira o secretário de Estado norte-americano de interferir "grosseiramente" em questões políticas internas de Pequim. Isto depois de Mike Pompeo ter assinalado os 30 anos da repressão das manifestações pró-reformas democráticas de Tiananmen.

Carlos Santos Neves - RTP /
Um polícia chinês integrado no dispositivo de segurança da Praça Tiananmen, em Pequim Thomas Peter - Reuters

Ao referir-se aos acontecimentos de 4 de junho de 1989, quando o exército chinês esmagou o movimento de protesto pacífico na Praça Tinanmen – a Praça da Paz Celestial -, Mike Pompeo referiu-se aos manifestantes como “heróis do povo chinês que corajosamente se ergueram há 30 anos”.As autoridades chinesas argumentam que, sem a ação militar de há 30 anos contra “um motim contrarrevolucionário”, o país “mergulharia no caos”.

“Nas décadas que se seguiram, os Estados Unidos esperavam que a integração da China na comunidade internacional conduzisse a uma sociedade mais aberta e tolerante. Essas esperanças desapareceram”, lançou o secretário de Estado norte-americano, que instou ainda as autoridades chinesas a tornarem público um número de vítimas mortais da repressão.

Num contexto de rápido agravamento das tensões entre as duas maiores economias do mundo, com a guerra comercial desencadeada pelas políticas protecionistas da Administração Trump, Pompeo não hesitou em afirmar que “o Estado chinês de um partido único não tolera qualquer dissidência”.

“E viola os Direitos Humanos sempre que é do seu interesse”, acentuou.

A resposta de Pequim surgiu na forma de uma nota divulgada pela embaixada da China em Washington: as palavras de Mike Pompeo, lê-se no texto, constituem “uma afronta ao povo chinês e uma grave violação do Direito Internacional”.
Vigilância redobrada
O movimento pró-democrático de Tiananmen, formado essencialmente por estudantes da Universidade de Pequim, foi silenciado a 4 de junho de 1989 pela brutal intervenção do exército, que avançou para a praça com tanques.

Para trás ficavam sete semanas de protestos largamente pacíficos, durante os quais se ouviu a denúncia da corrupção e da inflação e a reivindicação de reformas democráticas.



O número exato de mortes é ainda agora matéria de segredo de Estado. A organização não-governamental Mães de Tiananmen conseguiu já identificar mais de duas centenas de vítimas. O Governo mantém um balanço vago de “perto de 300 mortos”, incluindo militares.

Decorridas exatamente três décadas, o Governo chinês reforçou a lei da rolha. As agências internacionais noticiam detenções de ativistas dos Direitos Humanos e censura de conteúdos online, além de uma “imprensa amordaçada”, como escreve a France Presse.

As medidas de segurança foram reforçadas para esta terça-feira. Em redor da praça, são verificados os documentos de identificação de todos os turistas. O mesmo acontece à saída do metro.



Além do habitual bloqueio do acesso às redes sociais Facebook e Twitter e ao Google, o Governo chinês terá imposto aos operadores locais a remoção de todos os conteúdos com referências à data.

No passado domingo, o ministro chinês da Defesa, Wei Fenghe, veio a público para propugnar que o envio de tanques para a Praça Tiananmen foi uma opção “correta” que garantiu “a estabilidade e o desenvolvimento”. E na véspera do 30.º aniversário da repressão o jornal Global Times, publicação em inglês conotada com o regime, defendeu em editorial que foi assim possível “imunizar” a sociedade.

c/ agências
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