Timorenses em Serpa com promessas de trabalho goradas

por Lusa
Muitos timorenses que estão em Serpa mantêm o sonho de construir uma vida e recusam voltar a Timor-Leste Nuno Veiga-Lusa

Promessas de uma vida melhor atraíram-nos a Portugal, mas, apesar da realidade sem trabalho e alojamentos lotados, muitos timorenses que estão em Serpa mantêm o sonho e recusam voltar a Timor-Leste.

"Quero ficar em Portugal. Bendita não volta para Timor-Leste", afiança à agência Lusa Bendita Belo, uma das quatro mulheres de um grupo de 26 timorenses que mora no anexo de uma casa, no centro de Serpa, no distrito de Beja.

Bendita e o grupo com que coabita são uma pequena parte dos muitos imigrantes timorenses chegados, nos últimos meses, à cidade alentejana. Após lhes terem prometido, no seu país, uma vida melhor em Portugal, acabaram por ver-se em terras portuguesas sem trabalho e sem dinheiro.

Com o portão que dá acesso ao anexo da casa quase sempre aberto, o entra-e-sai é uma constante, já que só três elementos deste grupo conseguiram arranjar trabalho.

Os que não trabalham passam o tempo como podem, entre a rua e a casa, quase sempre com telemóveis na mão ou simplesmente sentados.

Tal como Bendita, também Mariano Silva explica que, agora que está em Portugal, quer ficar para procurar trabalho, depois de ter pedido "cinco mil dólares" a "outros", no seu país, para, através de "uma agência", sem indicar qual, comprar o bilhete para a viagem.

Atento aos problemas dos timorenses em Serpa, Alberto Matos, dirigente da associação Solidariedade Imigrante, acompanha quase diariamente estas pessoas e ajuda-as a tratar da documentação para que possam encontrar trabalho em Portugal.

Estes imigrantes timorenses estão a ser "forçados a pagar as dívidas" que contraíram para viajar para Portugal e as famílias que ficaram em Timor-Leste também "estão reféns", diz.

Sem dinheiro para a alimentação, o grupo sobrevive com a ajuda da população da cidade alentejana, que fornece arroz, carne e peixe, mas a comida, como reconhece esta mulher timorense, é sempre pouca.

Autarca de Serpa aguarda uma solução

A afluência de timorenses a Serpa, no distrito de Beja, está a diminuir e no pavilhão de feiras, onde foram realojados de emergência quase 40, já só restam 14, revelou o presidente da câmara municipal.

Em declarações à agência Lusa, o autarca de Serpa, João Efigénio Palma, indicou que no pavilhão municipal de exposições da cidade alentejana, onde começaram a ser realojados imigrantes timorenses em agosto deste ano, ainda "continuam 14".

"Estamos a aguardar que as entidades competentes, nomeadamente a Segurança Social, resolvam o problema e há como que um compromisso assumido de, até ao dia 1 de novembro, conseguirem tirar as pessoas do pavilhão", adiantou.

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