"Toxic Tour". Áreas contaminadas por petróleo na Amazónia transformadas em rotas turísticas

por Mariana Ribeiro Soares - RTP
Tito Correa - Reuters

De forma a denunciar e a expor a contaminação da Amazónia pelas petrolíferas, uma associação de ativistas indígenas e camponeses organizou uma rota turística pelas zonas mais poluídas por petróleo. O objetivo da “Toxic Tour” é sensibilizar os turistas e expor mundialmente este desastre ambiental, de forma a conseguirem vencer a batalha jurídica frente às petrolíferas.

O desastre ambiental que se vive na Amazónia não é um problema recente. Há décadas que multinacionais e petrolíferas exploram algumas áreas da maior floresta tropical do mundo, o que tem causado danos irreversíveis nos ecossistemas e na população.

As províncias de Sucumbíos e Orellana, no Equador, estão entre as mais afetadas da região pela poluição das petrolíferas. Em 1972, a Texaco (mais tarde Chevron) começou a extrair petróleo em Sucumbíos. Desde então, cerca de 64.000 milhões de litros de água tóxica e 650.000 barris de petróleo bruto foram derramados em rios e florestas na Amazónia, de acordo com El País, que cita a União das Pessoas Afetadas pelas Operações Petrolíferas da Texaco (UDAPT).

Os povos indígenas são os mais afetados pela poluição petrolífera, estando a sua sobrevivência ameaçada. Os derrames de petróleo afetaram os alimentos e danificaram o curso da água, o que resultou em problemas de saúde naqueles cuja sobrevivência depende do rio Aguarico, o principal rio da província de Sucumbíos. Alguns moradores descrevem que chegavam a sair com manchas pretas de petróleo quando tomavam banho neste rio. A pesca e a agricultura também estão ameaçadas.

Para além disso, as áreas florestais estão repletas de vestígios de poluição provocada pelas multinacionais petrolíferas, com grandes poças de petróleo e áreas verdes completamente pintadas de preto.

De forma a expor mundialmente este desastre ambiental e a denunciar os danos causados ao longo dos anos pelas empresas petrolíferas, a UDAPT criou a uma nova forma de turismo: a “Toxic Tour”. Consiste numa visita guiada aos turistas pelas áreas mais poluídas nestas províncias. Segundo El País, já foram realizadas mais de 700 visitas guiadas a estes locais contaminados pelo petróleo.
Longa batalha jurídica
Outro dos objetivos da “Toxic Tour” é proteger a vida e os direitos das comunidades que vivem nas áreas contaminadas do Equador e vencer a batalha legal frente às petrolíferas.

O impasse jurídico prolonga-se há 20 anos. Em 2011, Texaco-Chevron chegou a ser condenada a uma multa de cerca de oito milhões de euros para limpar cerca de 480 mil hectares de área poluída. No entanto, a petrolífera norte-americana recusou-se a pagar a coima e, em setembro de 2018, o Tribunal Permanente de Arbitragem de Haia anulou a sentença contra a multinacional por considerar que o Estado equatoriano violou o Tratado de Investimento Bilateral com os EUA.

Na altura, a Chevron alegou ainda “níveis chocantes de má conduta” por parte de Steven Donziger, o advogado que representou as pessoas afetadas pela poluição provocada pela petrolífera.

A Chevron acusou Donziger de subornar o juiz e de redigir o veredicto final, uma acusação que o advogado nega veementemente. No entanto, em 2016, um juiz dos EUA, Lewis Kaplan, descobriu que Donziger estava envolvido em atividades de extorsão e esta terça-feira o advogado foi considerado culpado de reter provas no caso da Chevron. Donziger enfrenta agora seis meses de prisão. O advogado classificou a decisão como “um dia triste para o Estado de Direito, para a nossa democracia e para o nosso planeta” e anunciou que vai recorrer.

Os ativistas indígenas e camponeses mais afetados pela poluição petrolífera esperam ainda conseguir vencer e receber indemnizações da multinacional.
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