Três semanas de protesto. Greves por aumento salarial paralisam Universidade da Califórnia

por RTP
"Entrámos numa situação economicamente impossível e não nos foi dado um tratamento justo a nenhum nível", contesta um investigador ouvido por The Guardian. DR

Milhares de académicos da Universidade da Califórnia estão em greve por melhores salários há três semanas. Esta é já a maior paralisação da história do ensino superior nos Estados Unidos.

Desde dia 14 de novembro que mais de 48 mil professores assistentes, doutorados e investigadores paralisam os nove campus da Universidade da Califórnia.

Os profissionais protestam os baixos salários que recebem que, segundo eles, não correspondem ao custo de vida das cidades onde os campus da Universidade estão situados, o que torna "impossível" aos profissionais viver nas cidades onde trabalham.

Alguns destes académicos estarão mesmo obrigados a viver nos seus carros - o Guardian recolheu o testemunho de um destes casos no início da greve -, enquanto que outros tomaram a decisão radical de abandonar estas carreiras que, dizem, os deixavam absolutamente endividados.

O investigador Daniel McKeown, ouvido pelo jornal inglês, é um destes exemplos de precariedade laboral. "Entrámos numa situação economicamente impossível e não nos foi dado um tratamento justo a nenhum nível", lamenta Mckeown, confessando que o aumento salarial é a única hipótese que tem de continuar no meio académico que "ama".   

Rebecca Givan, professora de estudos laborais, faz eco desta ideia dizendo que em causa está o facto de que, para alcançar os seus objectivos, as universidades "dependem cada vez mais de trabalhadores fortemente explorados".

A Universidade da Califórnia contesta as críticas dos académicos declarando que a sua oferta é "justa e generosa" e que coloca os trabalhadores "no topo da tabela salarial entre as principais universidades públicas do país". Acrescenta a universidade que muitos destes académicos trabalham para a instituição em regime de part-time.

Os salários mais altos que a instituição oferece são de 28 mil dólares para os investigadores de pós-graduação. Os manifestantes exigem 54 mil dólares de salário mínimo para todos os trabalhadores

Ximena Anleu Gil, investigadora, afirma que o sistema atual não é sustentável: "Estamos a apresentar à Universidade uma forma muito razoável de ajudar a tirar os trabalhadores de uma situação  terrível".
"Luta vai continuar"
 
Ao longo das três semanas de protestos, estes académicos obtiveram entretanto uma pequena uma vitória: chegaram a um acordo provisório com a universidade que deverá levar a aumentos salariais de até 29% para alguns dos trabalhadores, o que não deverá parar uma luta que aponta mais alto.

A greve na Universidade da Califórnia é também fruto do ressurgimento da reorganização laboral nos Estados Unidos e do fortalecimento do movimento sindical no país, inclusive no ensino superior. Os manifestantes mantêm a esperança de alcançar grandes vitórias que terão implicações para as universidades de todos os Estados. 

"Os trabalhadores do ensino superior em todo o país perceberão neste movimento um exemplo do que se pode ganhar com a ação coletiva. Não se pode criar uma universidade que dependa de trabalhadores que não ganham o suficiente para viver", defendeu Rebecca Givan.


 

Tópicos
pub