Tribunal britânico culpa imigrante ilegal por agressão sexual que gerou protestos

Um imigrante ilegal no Reino Unido foi esta quinta-feira considerado culpado de agressão sexual a uma mulher e duas menores, um caso que gerou tumultos este verão em hotéis que acolhem requerentes de asilo.

Lusa /

O etíope Hadush Gerberslasie Kebatu, de 38 anos, negou as acusações durante o julgamento no Tribunal da Coroa de Chelmsford, no nordeste de Londres, mas foi considerado culpado de duas acusações de agressão sexual, uma de tentativa de agressão, uma de incitamento à atividade sexual de uma menor de 14 anos e uma de assédio.

O juiz Christopher Williams alertou que Kebatu, cuja detenção em julho, dias depois de ter chegado de barco através do Canal da Mancha, desencadeou os primeiros protestos em frente ao seu local de acolhimento em Epping, deverá aguardar uma sentença de prisão imediata, que será proferida a 23 de setembro.

O juiz considerou que as provas contra o arguido, que acompanhou o processo com um tradutor, eram "claras e consistentes" e que não havia indícios de que os menores tivessem inventado os acontecimentos.

O julgamento revelou que Kebatu fez comentários sexuais inapropriados às raparigas e tocou numa delas na coxa, além de ter tentado beijar uma mulher adulta enquanto esta lhe oferecia ajuda com o seu currículo.

O arguido, que trabalhava como "professor de educação física" no seu país, negou as acusações e disse ao tribunal não ser "um animal".

A detenção do etíope desencadeou protestos em frente ao Bell Hotel, em Epping, no nordeste de Londres, onde estava hospedado com outros requerentes de asilo, e manifestações semelhantes noutras cidades britânicas.

Nalguns casos, os confrontos entre ativistas a favor e contra a imigração resultaram em múltiplas detenções por altercação e danos materiais.

O Conselho Municipal de Epping iniciou uma acção judicial contra a empresa gestora do Bell Hotel para a impedir de acolher migrantes, contando com oposição daesta do governo, que necessita destes estabelecimentos para alojar potenciais refugiados enquanto os seus pedidos são processados.

A 19 de agosto, o Supremo Tribunal de Inglaterra e do País de Gales decidiu a favor da autarquia de Epping (norte de Londres) e ordenou o despejo, até 12 de setembro, do Bell Hotel, na cidade, onde estão alojados mais de uma centena de requerentes de asilo e tem sido o centro dos protestos depois de um dos inquilinos ter sido acusado de uma alegada agressão sexual.

No entanto, esta decisão judicial, que podia ter causado um efeito semelhante em outras cidades do país, foi anulada na sexta-feira passada, depois de o Ministério do Interior britânico ter ganhado um recurso no Tribunal de Recurso da Inglaterra e do País de Gales que paralisou o despejo do hotel de Epping.

O primeiro-ministro britânico afirmou esta semana que quer fechar "o mais rapidamente possível" todos os hotéis para requerentes de asilo no Reino Unido, perante disputas legais e protestos.

"Entendo por que as pessoas querem fechar os hotéis [com requerentes de asilo]. Quero fechá-los também. Vou trabalhar com a minha equipa para os fechar o mais rapidamente possível", disse Keir Starmer, em declarações exclusivas à BBC Radio 5 Live e citadas pela agência de notícias EFE.

Para Starmer, a única forma "de esvaziar" os hotéis é fazê-lo de "forma ordenada e sistemática e trabalhando nos casos o mais rápido possível" e, em seguida, deportando os migrantes sem direito a estar no Reino Unido.

Questionado sobre uma data provisória para cumprir este objetivo, o primeiro-ministro britânico manifestou a intenção "de antecipar" os prazos atualmente estabelecidos, que previam o encerramento dos hotéis de acolhimento de migrantes antes de 2029, com o final da atual legislatura.

A imigração irregular e a luta contra gangues de traficantes de migrantes no canal da Mancha é um dos pontos centrais do roteiro do governo trabalhista, que, apontou Starmer, iniciou hoje "a segunda fase".

O primeiro-ministro britânico considerou que a migração é "um problema realmente sério" e reiterou o objetivo de "controlar as fronteiras" do país, lidando com pessoas que cruzam para o Reino Unido ilegalmente, com hotéis para requerentes de asilo ou com deportações, que sob o governo de Starmer chegaram a 35.000.

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