Trotsky - 65 anos depois do assassínio, a sua memória continua viva no México

por Camilo Ramos, Agência LUSA

Uma controvérsia sobre a propriedade da arma do crime e a difusão de documentos sobre a sua vida marcam hoje a comemoração dos 65 anos do assassínio, no México, de Léon Trotsky, o revolucionário soviético que desafiou José Estaline.

Trotsky foi mortalmente atacado com uma picareta de alpinista em 20 de Agosto de 1940 pelo agente estalinista espanhol Ramón Mercader, e morreu um dia depois, num hospital anexo ao quartel- general da polícia, no centro da capital mexicana.

A casa em que viveu o ideólogo da Revolução de Outubro, no bairro colonial de Coyoacan, no sul da Cidade do México, foi transformada num museu em que estão guardados vários documentos sobre a sua vida e obra, mas que está ainda a avaliar a possibilidade de adquirir a arma mortal.

O director da Casa-Museu, Carlos Ramirez, afirmou hoje que foi pedido à mulher que afirma ter herdado a picareta do seu pai, um antigo polícia, que a doasse ao estabelecimento, em vez de a vender, como pretende.

"Não temos dinheiro para a comprar e consideramos que essa arma, se for autêntica, pertenceu à Polícia da Cidade do México, e portanto ao Estado, e não a um agente em particular", sublinhou Ramirez.

A mexicana Ana Salas, filha de um agente da polícia secreta que supostamente apreendeu a picareta, disse à imprensa que a arma que guarda em sua casa é a mesma que Mercader usou para golpear mortalmente Trotsky na cabeça.

Salas declarou que a sua picareta de alpinista tem manchas de sangue do revolucionário soviético.

Um dos herdeiros de Trotsky, o seu neto septuagenário Esteban Volkow, que vive na Cidade do México, manifestou-se disposto a submeter-se a um exame de ADN para comparar o seu sangue com o da mancha da arma, mas na condição de Ana Salas a doar ao museu.

Mercader, que se fez passar pelo marxista belga Jacques Mornard, chegou à residência de Trotsky, em Coyoacan, com o pretexto de este rever um texto que havia escrito, mas soube-se depois que se tratava de um mercenário contratado por Estaline para o matar.

Volkow participa hoje, na capital mexicana, numa "mesa testemunhal" sobre a vida e obra do seu avô, juntamente com o nonagenário mexicano Carlos Fernandez, único sobrevivente da guarda pessoal de Trotsky, e Luís Evaraert Dubernard, tido como um dos cronistas mais bem documentados do bairro colonial de Coyoacan.

Será também projectado o filme "Assaltar os céus", dos espanhóis José Lopez Linares e Javier Royo, sobre a vida e a morte daquele que é tido como um dos principais ideólogos da revolução russa de Outubro de 1917.

No domingo, será realizada uma guarda de honra no túmulo de Trotsky, situado na Casa-Museu de Coyoacan.

A comemoração dos 65 anos da morte do revolucionário soviético serve também para analisar a história e as perspectivas das esquerdas na América Latina, à luz da aplicação das teorias de Trotsky e Estaline.

"Estaline expulsou da União Soviética Trotsky, que, ameaçado e caluniado, viajou ou tentou fazê-lo para diversos países, vários dos quais lhe negaram asilo", sublinhou o director da Casa-Museu.

Trotsky, um dos homens mais influentes do governo soviético até à morte de Vardimir Ilich Ulianov (Lenine) em 1924, chegou ao México a 01 de Janeiro de 1937, após ter estado sucessivamente na Turquia, França e Noruega.

O adversário de Estaline chegou ao México pelo porto de Tampico, no Estado de Tamaulipas (noroeste), onde foi recebido por dois dos seus maiores amigos comunistas da época, o casal de pintores Frida Kahlo e Diego Rivera.

Rivera, que acolheu Trotsky na sua casa de Coyoacan, intercedeu junto do presidente progressista mexicano Lazaro Cardenas (1934-40) para que concedesse asilo ao fugitivo, ao que o chefe de Estado acedeu, mas na condição de Trotsky não intervir na política interna mexicana.


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