Trump admite ter perguntado a diretor do FBI se estava a ser investigado

Na primeira entrevista depois de ter demitido o diretor do FBI, o Presidente dos Estados Unidos admite que perguntou a James Comey se estava a ser investigado na alegada interferência dos russos nas eleições de 8 de novembro passado. À NBC News, Donald Trump garante que o então diretor lhe assegurou que não estava a ser investigado. O presidente norte-americano tenta afastar a ideia de que a investigação foi a razão do afastamento do diretor do FBI e sublinha que a demissão se deve à atuação de Comey.

Ana Sofia Rodrigues - RTP /
Carlos Barria - Reuters

“He’s a showboat. He’s a grandstander”, disse Trump à NBC. Entre as acusações de “exibicionismo”, o Presidente americano garante que o “FBI estava em tumulto. Você sabe isso, eu sei isso, toda a gente sabe isso”. 

Na entrevista desta quinta-feira, Trump garante que a decisão estava tomada, mesmo antes da recomendação do vice procurador-geral Rod Rosenstein. 

“Ia despedir Comey. A decisão é minha”, disse Trump, garantido que ia despedir o diretor do FBI, independentemente das recomendações. “Eu apenas quero alguém que seja competente. Sou um grande fã do FBI”, acrescentou.



Esta justificação vem contrariar justificações que tinham sido entretanto apresentadas para a demissão do diretor do FBI. Como a do vice-presidente Mike Pence que terá dito que a decisão de Trump teria sido tomado na sequência das recomendações do Procurador-geral Jeff Sessions e do número dois do departamento de Justiça, Rod Rosenstein.

Trump revela ainda que quando tomou a decisão de despedir Comey disse para si próprio: “Esta coisa da Rússia e Trump é uma história inventada, uma desculpa dos democratas por terem perdido uma eleição que deveriam ter ganho”. Ao demitir o diretor do FBI, Trump admite que sabia correr o risco de confundir as pessoas e fazer aumentar a duração da investigação.
"Não está a ser investigado"
O presidente norte-americano revelou ainda que Comey lhe terá garantido por três vezes que ele não estava sob investigação pelo alegado envolvimento da Rússia nas eleições presidenciais de novembro. Garantias alegadamente dadas num jantar e em dois telefonemas na sequência de perguntas diretas de Trump. 


“Eu realmente perguntei-lhe se estava sob investigação”, revelou o Presidente. “Eu disse-lhe: se é possível que me deixe saber, estou sob investigação?”. À pergunta, Comey terá respondido: “Não está sob investigação”. Trump reforçou que sabe que não está a ser investigado neste caso, garantindo que apoia totalmente uma investigação aprofundada sobre a alegada interferência russa nas eleições.

"Se a Rússia fez alguma coisa, eu quero saber”, garantiu. 

A NBC diz ter questionado vários peritos legais, que garantiram que as perguntas de Trump a Comey sobre o processo eram inapropriadas. 

Donald Trump enfrenta acusações dos Democratas de que Comey foi despedido para dificultar a investigação do FBI às alegações dos serviços secretos de que a Rússia se intrometeu nas eleições americanas de 2016 para beneficiar Trump. A administração Trump já veio desmentir que tenha tido qualquer ligação entre elementos da campanha e o Kremlin. O próprio disse à NBC que “os russos não afetaram o voto”.

O Presidente tenta afastar o foco de atenção, lançando acusações à competência do antigo diretor do FBI. Alegações que esbarram em declarações públicas de várias figuras, entre elas o representante republicano no comité do Senado que investiga o caso, Richard Burr e o democrata Mark Warner. Ambos elogiaram a atuação de Comey à frente do FBI.

Warner disse mesmo que se sentia ofendido pela descrição feita por Trump, enquanto garantia que o comité vai levar a investigação até às últimas consequências. 

O diretor interino do FBI, Andrew McCabe, veio contestar as alegações de Trump sobre um tumulto no FBI, garantindo que Comey tinha “um amplo apoio” dentro do FBI e que a investigação sobre a Rússia é “muito significativa” e não vai ser travada.

Na audição desta quinta-feira no Senado, o diretor interino do FBI garantiu que a investigação vai continuar. “É a minha opinião e crença que o FBI vai continuar esta investigação com vigor e até ao fim”, garantiu McCabe. “Nada impedirá os homens e mulheres do FBI de cumprir a sua missão, que é proteger o povo americano e a sua constituição”, assegurou.

O comité de serviços secretos do Senado que investiga o caso intimou entretanto o antigo conselheiro de segurança de Trump a entregar toda a documentação relacionada com a alegada ligação aos russos, depois de Michael Flynn ter demonstrado renitência em entregar informação.
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