Trump contraria Pence e decide manter task force de combate à Covid-19

por Joana Raposo Santos - RTP
Os especialistas Anthony Fauci (à esquerda) e Deborah Birx (ao seu lado) vão permanecer como conselheiros depois de a task force ser desmantelada. Foto: Jonathan Ernst - Reuters

Donald Trump avançou esta quarta-feira que a task force da Casa Branca que tem prestado auxílio no combate à pandemia de Covid-19 vai manter-se por tempo indefinido, mas que poderão ser retirados ou adicionados membros ao seu corpo. As declarações surgem um dia depois de o vice-presidente Mike Pence ter declarado que essa task force iria ser gradualmente eliminada, apontando para fim de maio como data da sua extinção.

“A task force da Casa Branca, liderada pelo vice-presidente Mike Pence, tem feito um fantástico trabalho em unir recursos altamente complexos que estabeleceram um padrão a seguir por outros no futuro”, afirmou Trump no Twitter.

“Devido a este sucesso, a task force vai continuar por tempo indefinido, focada na segurança e na reabertura do nosso país. Poderemos acrescentar ou retirar alguns dos seus membros, caso seja apropriado. A task force vai também estar muito focada em vacinas e medicamentos”, elucidou o Presidente.


Trump aproveitou para elogiar os esforços da sua Administração no combate à pandemia, para os quais terá também contribuído a equipa de especialistas da Casa Branca. “Ventiladores, que eram poucos e estavam em mau estado, estão agora a ser produzidos aos milhares, e temos muitos de sobra. Estamos a ajudar outros países que estão desesperados por esses ventiladores”.

“Estamos agora a fazer mais testes do que todos os outros países em conjunto, e com melhores testes. Máscaras e viseiras, luvas, batas, entre outros, são agora imensos. As últimas quatro teleconferências entre governadores foram muito fortes”, afirmou.
Pence apontou para fim de maio extinção da task force
Na terça-feira, o vice-presidente norte-americano, Mike Pence, tinha anunciado em conferência de imprensa que o trabalho da task force deveria ser dado por terminado pelo fim de maio, altura em que a gestão das questões de saúde pública voltaria a estar nas mãos das agências federais.

Pence, que tem liderado a task force da Casa Branca nos últimos dois meses, defendeu que os esforços para conter a propagação do vírus se revelaram tão eficazes que deixou de existir necessidade de manter por completo a equipa de especialistas.

“[Esta decisão] é realmente um reflexo do tremendo progresso que temos feito enquanto país”, declarou o vice-presidente.Em Nova Iorque, que tem sido o epicentro da pandemia, o número de infeções está a diminuir, mas por todos os restantes Estados os casos confirmados não param de crescer.

Outros elementos da Administração Trump referiram ainda que estão a ser feitos planos para que a Casa Branca passe a reunir-se com especialistas numa base mais informal após a extinção da task force. Além disso, Jared Kushner, genro e conselheiro de Donald Trump, vai ajudar a supervisionar um grupo de funcionários cuja função tem sido pressionar a comunidade científica para que esta desenvolva rapidamente uma vacina e tratamentos para a Covid-19.

Estes anúncios foram feitos um dia depois de uma nova estimativa ter sugerido que as mortes por Covid-19 nos EUA, atualmente mais de 70 mil, poderão duplicar até início de agosto, e que o número de infeções pode subir abruptamente conforme continuarem a reabrir os negócios que até agora têm estado parados.
“Iremos apagar a chama”, garante Trump
Questionado na terça-feira sobre por que considerava este o momento certo para eliminar a task force, Donald Trump respondeu que “não podemos manter o país fechado por mais cinco anos”. Em declarações aos jornalistas durante uma visita a uma fábrica de máscaras no Arizona, acrescentou que “passaremos a ter algo num formato diferente”.

O presidente reconheceu, porém, que esta ação não significa que a luta contra a Covid-19 tenha terminado. “Não, de todo. A missão só estará concluída quando [a pandemia] terminar”. Se houver uma nova onda de casos no próximo Outono, “iremos apagar a chama”, garantiu.

Trump aproveitou para acrescentar que os democratas querem vê-lo falhar no combate à pandemia. “Eles querem que a nossa situação seja mal sucedida, o que significa mais mortes, mas a nossa situação vai ser bem sucedida”, declarou, citado pela Al Jazeera. “Querem que falhemos para que possam vencer as eleições, mas não vão vencer”.

O líder, que hoje acabou por se contradizer quanto ao fim da task force, assegurou ainda que Anthony Fauci, principal especialista em doenças infeciosas nos EUA, e Deborah Birx, responsável da Casa Branca para a coordenação da resposta ao surto, vão permanecer como conselheiros depois de a equipa de especialistas ser desmantelada.
“Precisamos de ter um corpo coordenador”
Apesar de alguns dos conselhos que eram dados pela task force, nomeadamente o de não apressar a reabertura da economia, serem ignorados pelos governadores de vários Estados norte-americanos, e de membros da equipa por vezes contrariarem as afirmações de Donald Trump, o conjunto de especialistas era visto por muitos como um sinal de que a Casa Branca estava a levar a sério o combate à pandemia.

“Todos compreendem que a task force é o elemento que coordena, que planeia as políticas a adotar, que fornece as orientações” à Administração Trump, explicou ao New York Times a médica e professora de saúde pública Leana Wen. “Precisamos de ter um corpo coordenador que o presidente escute e que possa dirigir todo o governo federal”.

A redução da presença da task force da Casa Branca tem-se feito sentir há alguns dias. No último sábado o painel não se reuniu, ao contrário do que acontecia até então, e cancelou também uma reunião marcada para segunda-feira.

Além disso, Donald Trump tem deixado de associar as suas declarações nas conferências de imprensa sobre a Covid-19 às conclusões da equipa de especialistas, cuja presença nessas conferências também tem sido escassa.

Nos Estados Unidos há já mais 1,2 milhões de casos de infeção confirmados, dos quais 71 mil resultaram em morte. Mais de 193 mil pessoas conseguiram recuperar da doença.
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