Donald Trump responsabiliza a “indecisão” e “fraqueza” de Barack Obama pelo ataque químico que acredita ter sido levado a cabo por Damasco. O Presidente norte-americano recorda que, ao contrário do prometido, Obama não agiu quando se soube que Damasco tinha usado armas químicas contra civis. Esqueceu-se só que ele próprio tinha pedido a Barack Obama para que não interviesse no país.
“O Presidente Obama disse em 2012 que iria estabelecer uma linha vermelha contra o uso de armas químicas e não fez nada”, explica Trump em comunicado. O Presidente norte-americano refere-se às declarações do seu antecessor, feitas em agosto de 2012.
Barack Obama tinha apresentado o recurso a armas químicas por Bashar al-Assad como a linha vermelha que levaria os Estados Unidos a intervir no país. Assad ultrapassou-a várias vezes, nomeadamente em Damasco, num ataque que matou cerca de 1500 pessoas. Obama nada fez.
“Estas ações hediondas do regime de Bashar al-Assad são uma consequência da fraqueza e indecisão da anterior administração”, acusa agora Donald Trump. O ex-Presidente Barack Obama não reagiu a estas declarações.
"Não é um problema nosso"
Apesar de não ser frequente atacar anteriores administrações em matéria de conflitos globais, nem é isso o mais estranho nas declarações de Donald Trump. A imprensa norte-americana nota sim a contradição em relação a posições assumidas pelo agora Presidente no passado.
Em mais de uma dezena de tweets, publicados em 2013 e 2014, Donald Trump pede especificamente a Barack Obama que não haja na Síria, insistindo que “não é um problema nosso”.
Em setembro de 2013, quando a investigação concluiu que Bashar al-Assad tinha mesmo usado armas químicas na Síria, Trump não deixou margem para dúvidas quanto à sua posição.
“O único motivo pelo qual o Presidente Obama quer atacar a Síria é para salvar a sua face depois da sua declaração estúpida da LINHA VERMELHA. NÃO ataque a Síria, repare os EUA”, pedia o agora inquilino da Casa Branca.
The only reason President Obama wants to attack Syria is to save face over his very dumb RED LINE statement. Do NOT attack Syria,fix U.S.A.
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 5 de setembro de 2013
Mesmo durante a campanha presidencial, Donald Trump criticou sempre as intervenções norte-americanas na Síria. O então candidato republicano até elogiou a posição de Moscovo em relação ao conflito.
O New York Times assinala mesmo que Donald Trump chegou a ir contra o seu candidato a vice-presidente para apoiar Bashar al-Assad. Mike Pence tinha apoiado os ataques contra o regime de Damasco no debate dos candidatos a vice-presidente, em outubro de 2016. “Discordo”, deixou depois claro Donald Trump.
O ataque de terça-feira na província de Idlib terá provocado mais de uma centena de mortos. As potências ocidentais culpam o regime sírio pelo ataque mas Damasco nega qualquer intervenção.
Por sua vez, a Rússia responsabiliza os rebeldes, afirmando que os agentes químicos se encontravam num depósito rebelde que foi atacado pela aviação síria precisamente na terça-feira. Os rebeldes negam as acusações.