Trump descreve Putin como "louco", Kremlin vê "sobrecarga emocional" na Casa Branca

Num raro exercício de crítica à atuação do Kremlin, o presidente dos Estados Unidos afirma na sua rede social que o homólogo russo, Vladimir Putin, "ficou absolutamente louco". Donald Trump adverte mesmo que que quaisquer planos para ocupar a totalidade do território da Ucrânia acabará por resultar na "queda" da Rússia. E deixa também críticas ao presidente ucraniano, ao clamar que "tudo o que sai da sua boca causa problemas". O Kremlin já reagiu: diagnosticou "sobrecarga emocional" à Casa Branca.

Carlos Santos Neves - RTP /
Putin e Trump fotografados em junho de 2019 durante uma reunião bilateral à margem da cimeira do G20 em Osaka, no Japão Kevin Lamarque - Reuters

"Sempre tive uma boa relação com Vladimir Putin da Rússia, mas algo aconteceu com ele. Ele ficou absolutamente louco! Está a matar desnecessaramente muitas pessoas e não não estou apenas a falar de soldados. Mísseis e drones estão a ser disparados contra cidades na Ucrânia sem qualquer razão", escreveu o presidente norte-americano na Truth Social.

"Disse sempre que ele quer toda a Ucrânia, não apenas uma parte dela, e talvez isto esteja a revelar-se verdade, mas, se ele o fizer, isso levará à queda da Rússia", prossegue Trump.



O presidente dos Estados Unidos aponta também críticas a Volodymyr Zelensky: "Da mesma forma, o presidente Zelensky não está fazer quaisquer favores ao seu país ao falar da forma como fala. Tudo o que sai da sua boca causa problemas, não gosto disso e é melhor parar".

"Esta é uma guerra que nunca teria começado se eu fosse presidente. Esta é a guerra de Zelensky, Putin e Biden, não de Trump. Estou apenas a ajudar a apagar os grandes e feios incêndios que começaram por grosseira incompetência e ódio", insiste.

Segundo as estruturas militares ucranianas, o país foi alvo, na madrugada de domingo, de uma vaga de bombardeamentos da Rússia com recurso a pelo menos 367 projéteis, dos quais 298 drones e 69 mísseis - na sequência de outros ataques em massa na noite anterior. O balanço de Kiev aponta para 12 vítimas mortais.

O presidente ucraniano exortou, no domingo, a comunidade internacional, em particular os aliados ocidentais, a exercerem pressão sobre Moscovo."O silêncio dos Estados Unidos e de outros países apenas encoraja Putin", vincou Volodymyr Zelensky após os últimos bombardeamentos russos.


A Administração Trump tem vindo a multiplicar, desde fevereiro, os apelos a um cessar-fogo, sem que os contactos entre a Casa Branca e o Kremlin tenham produzido, até ao momento, resultados concretos nesse sentido.

Na semana passada, os presidente russo e norte-americano estiveram durante duas horas ao telefone para discutir possíveis fórmulas para um cessar-fogo. Trump dizia então creditar que a conversa havia corrido "muito bem" e que Kiev e Moscovo encetariam "imediatamente" negociações para pôr "fim à guerra".

O presidente ucraniano já anuiu publicamente a uma trégua de 30 dias. Já o chefe de Estado russo não foi além da disponibilidade para trabalhar num "memorando" tendo em vista uma "possível paz futura".

As primeiras conversações diretas entre russos e ucranianos desde 2022 tiveram lugar a 16 de maio em Istambul, na Turquia. O único resultado visível desde então, todavia, foi uma troca de prisioneiros.
"Sobrecarga emocional"
Em resposta ao texto de Trump, a Presidência russa afirma que ter-se-á tratado de "uma sobrecarga emocional".

Moscovo coloca, por outro lado, a ênfase no agradecimento à ajuda do presidente norte-americano no lançamento das negociações de paz para a Ucrânia.
Bombardeamentos prosseguem

As sirenes de aviso para ataques com drones e mísseis voltaram já na manhã desta segunda-feira a ecoar em diferentes regiões ucranianas.

Em Kharkiv, no nordeste do país, pelo menos três pessoas, incluindo uma criança, ficaram feridas, de acordo com o presidente da câmara local, Ihor Terekhov. Em Zaporizhia, a sul, outras duas pessoas sofreram também ferimentos, indicaram as autoridades locais.

Na Rússia, o presidente da câmara de Moscovo, Sergei Sobyanin, adiantou que foram abatidos dois drones ucranianos apontados à capital, sem notícia de vítimas.

A Rússia controla atualmente perto de 20 por cento do território ucraniano, incluindo a península da Crimeia, anexada em 2014.

c/ agências
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