Trump põe em marcha plano de ataque ao novo coronavírus

por Paulo Alexandre Amaral - RTP
Yuri Gripas, Reuters

Com os números a tomarem proporções preocupantes para as autoridades sanitárias, os Estados Unidos tomam cada vez mais consciência da capacidade letal da Covid-19. O Presidente Donald Trump parece neste momento empenhado em recuperar o tempo que perdeu em diatribes com a verdade e com os jornalistas nas primeiras abordagens à ameaça pandémica mais séria do último século. Na lista de prioridades do governo federal estão agora questões práticas como a necessidade de colmatar o défice de equipamento médico, camas hospitalares e locais para levar a cabo os testes ao novo coronavírus.

Os Estados Unidos estão a debater-se com uma acelerada progressão do novo coronavírus no país, em particular na cidade de Nova Iorque, onde o balanço chega agora aos 15 mil casos positivos. No total nacional, o novo coronavírus já custou a vida a 417 pessoas em mais de 33 mil infetados.

Sob pressão dos Estados mais afetados pela pandemia, Donald Trump começa agora a tomar medidas concretas para pôr em andamento a ajuda do Governo Federal.Números nos Estados Unidos: Nova Iorque (16.900 infetados, 150 mortos); Washington (1996/95); Califórnia (1802/35).

Os alertas mais sérios chegaram da cidade de Nova Iorque, com o mayor Bill de Blasio e o governador do Estado, Andrew Cuomo, a apontarem as escassas capacidades hospitalares num momento em que o novo coronavírus se tornou uma ameaça real para 80 por cento dos 20 milhões de habitantes do Estado.

De Blasio avisa para a iminente rotura no que respeita aos ventiladores, máscaras e luvas disponíveis: “É como se estivéssemos entregues a nós próprios. Não nos chegou nada do governo federal até agora”, lamentou o mayor de Nova Iorque em declarações este domingo à CNN.

“O tempo é crucial, os minutos contam e isto é literalmente uma questão de vida ou morte”, sublinhou Cuomo.

Numa reação invulgar, Trump elogiou a atitude de Cuomo, um governador democrata, assegurando que quatro hospitais de campanha com um milhar de camas e um navio-hospital em breve estariam à disposição dos nova-iorquinos.

A resposta da Casa Branca chegou numa conferência de imprensa durante a noite de ontem. Com os Estados de Nova Iorque, Washington e Califórnia à cabeça das preocupações, Trump anunciou ainda a disponibilização de equipamento médico para fazer face à crise sanitária. O presidente garantiu ainda que assumiria a fatura da mobilização da Guarda Nacional na operação.

Além de aprovar declarações de calamidade para Nova Iorque e Washington, o presidente colocou o corpo da engenharia militar dos Estados Unidos ao serviço da construção de hospitais de campanha que deverão acrescentar milhares de camas à capacidade médica do país.

“O que estes Estados puderem ter, eles vão tê-lo. Há uma espécie de apoio para os Estados e alguns estão a sair-se muito bem, outros não tão bem. Os que não estão tão bem precisam de mais ajuda. Mas estes são três Estados [Nova Iorque, Washington e Califórnia] que realmente precisam de ajuda, porque estão a ser atingidos com muita força”, declarou o Presidente.
A dimensão económica do novo coronavírus

Uma das variáveis a ter em conta no combate à Covid-19 será sempre a questão económica. O governador Cuomo manifestou a sua preocupação face ao processo de aquisição de máscaras e material médico e cirúrgico, que se processa ainda segundo os moldes tradicionais, o que leva os diferentes Estados a competirem pelos mesmos produtos.A Lei de Produção de Defesa, da altura da Guerra da Coreia, dá ao presidente o poder de colocar a iniciativa privada ao serviço das necessidades do país, em termos de produção, para fazer face a uma ameaça externa. Este mecanismo foi também acionado após os ataques do 11 de Setembro.

Andrew Cuomo lamentou que os preços estivessem a disparar num momento de emergência nacional, com as máscaras, por exemplo, a irem dos habituais 85 cêntimos para os sete dólares a unidade. Nesse sentido, o governador pediu ao presidente para invocar os poderes da Lei de Produção de Defesa (Defense Production Act), legislação que permitiria ao governo federal assumir a aquisição centralizada dessas necessidades – colocando as empresas privadas a produzir máscaras e ventiladores – debelando desde logo o cenário de disputa entre os diversos Estados.

O Presidente rejeitou desde logo esta possibilidade, manifestando confiança nos moldes em que a aquisição de equipamento está a decorrer: “Fazê-lo da maneira que estamos a fazer é muito melhor”.

Entretanto, os democratas acabam de bloquear no Senado uma injeção de 1 trilião de dólares na economia americana, acusando os republicanos de procurarem mais uma vez beneficiar as grandes empresas em detrimento dos hospitais, do pessoal médico, dos Estados e das cidades.

Apesar de o secretário do Tesouro, Steve Mnuchin, ter propalado a ideia de um estímulo a cada família norte-americana de 3 mil dólares, a líder democrata e presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, já veio dizer que não é esse o caminho e que é necessário trabalhar um outro plano de ajuda.
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