Trump-Putin. A cimeira de baixas expetativas

por RTP
Cimeira foi precedida de manifestações em Helsínquia Leonhard Foeger - Reuters

É a primeira vez que Donald Trump e Vladimir Putin se encontram para uma cimeira, mas é o terceiro encontro entre os dois líderes. O encontro em Helsínquia é visto com baixas expetativas tanto pelos EUA como pela Rússia. A incerteza sobre o que pode acontecer permanece, depois de uma semana em que Trump lançou inesperados ataques aos aliados da NATO e até à primeira-ministra britânica.

Bruxelas, Londres e agora Helsínquia, onde a cimeira entre Trump e Putin vai ter lugar. É o último ponto da agenda de uma semana de trabalho do presidente norte-americano na Europa.
O encontro entre os dois líderes decorrerá a sós num primeiro momento, antes de abrir a reunião às respetivas delegações. Os trabalhos terminam com uma conferência de imprensa conjunta.
As expetativas para a cimeira são assumidas publicamente como baixas.

Numa entrevista durante o fim de semana à CBS, o próprio Donald Trump expressou esse sentimento. 

“Não vai sair nada de mau e talvez resulte em algo de bom. Mas vou entrar [na cimeira] com baixas expetativas”, disse Trump, além de afirmar que Rússia, China e União Europeia são inimigos dos EUA, já que são seus concorrentes.

Já esta segunda-feira o Presidente norte-americano atribuiu as más relações entre EUA e Rússia a “muitos anos de patetice dos EUA e estupidez e agora pela caça às bruxas, referindo-se às investigações sobre a alegada interferência russa nas eleições americanas. “A nossa relação com a Rússia NUNCA foi tão má”, enfatizou o Presidente.


“O estado das relações bilaterais é muito mau”, apenas avançou o conselheiro de Vladimir Putin Yuri Ushakov. “Devemos começar a restabelecê-las”, afirmou.

Vladimir Putin nada disse sobre as suas expetativas para o encontro. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, por seu lado, afirmou à televisão russa que a cimeira será “o primeiro passo” para ultrapassar a crise nas relações entre os dois países. “Os presidentes Trump e Putin respeitam-se e dão-se bem. Não há uma agenda clara. Vai ser determinada pelos chefes de Estado à medida que o encontro ocorre”.

O ministro russo dos Negócios Estrangeiros confessou à televisão estatal ter “baixas expetativas”, dizendo que a cimeira já será um sucesso que se houver um mero acordo para reabrir linhas de comunicação.

Os analistas não esperam grandes avanços práticos, sobretudo porque há assuntos sensíveis entre os dois países. Mas, tanto como as palavras, o mundo está de olhos postos nos gestos dos dois líderes e no que significam.

Antes da cimeira, Trump esteve com o Presidente finlandês. Quando questionado sobre o que iria dizer a Putin, o presidente americano disse apenas: “Nós vamos estar bem, obrigado”.
Os prováveis temas na agenda
Para alguns analistas, a Rússia é já uma vencedora desta cimeira. Aos olhos do analista Alexeï Malachenko, este encontro significa “o reconhecimento informal como uma grande potência”.Para Trump, pode significar a quebra do legado de Obama. Alina Poliakova, da Brookings Institution, diz que Trump pode reclamar uma vitória dizendo que “na prática, foi Obama que deteriorou a relações e eu melhorei-as”.

O próprio Trump antecipa, no Twitter que qualquer que seja o resultado da cimeira, ele será sempre alvo de críticas de que não foi suficiente.


Quanto a temas concretos, a Rússia deverá um dos pontos em cima da mesa. “Claro que a Síria vai ser discutida pelos dois presidentes”, disse Peskov. “Todos sabemos o que Washington pensa do Irão. Mas, ao mesmo tempo, o Irão é um bom parceiro para nós em termos de comércio, cooperação económica e diálogo político. Por isso, penso que esta não será uma troca fácil de pontos de vista”, admitiu o porta-voz do Kremlin. O apoio russo ao regime de Bashar al-Assad colocam EUA e Rússia em lados diferentes no conflito.

A anexação da Crimeia em 2014 não deverá faltar como tema de conversa, até porque foi na sequência desta anexação que EUA e a União Europeia impuseram sanções económicas à Rússia e a uma estratégia de isolamento da Rússia. Há ainda o caso do envenenamento do ex-espião russo Sergei Skripal, em território britânico, que suscitou trocas de acusações da Rússia com o Ocidente e a retirada de diplomatas de solo russo.

Na sexta-feira, 12 agentes dos serviços secretos russos foram indiciados por interferências nas eleições americanas de 2016, que deram a vitória a Trump. Este dado novo levou democratas a exigirem ao presidente americano que cancelasse o encontro com Putin, o que o Trump recusou. O caso não deve ficar de fora das conversações e talvez aquele que gere mais expetativa neste encontro, até porque o tema tem mantido Trump debaixo de fogo.

Vladimir Putin está no poder há 18 anos, como chefe de Estado ou do governo. Passou por quatro presidentes americanos. Não teve boas relações com qualquer um deles. Esta é a quarta-vez que há encontros entre presidentes dos Estados Unidos na capital finlandesa: Gerald Ford e Léonid Brejnev encontraram-se em 1975, Gerge Bush esteve com Mikhaïl Gorbatchev em 1990 e Bill Clinton encontrou-se com Boris Ieltsin em 1997.
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