O relatório de Robert Mueller foi entregue no último mês de março após uma investigação de quase dois anos. Na quarta-feira o procurador especial falou publicamente sobre as conclusões: não é clara a inocência, quer em respeito ao conluio da equipa de Donald Trump com o Kremlin, quer na acusação de tentativa de obstrução da justiça. O Presidente dos Estados Unidos começou por reagir vagamente com um “acabou-se”, mas voltou entretanto à carga com outra determinação.
Russia, Russia, Russia! That’s all you heard at the beginning of this Witch Hunt Hoax...And now Russia has disappeared because I had nothing to do with Russia helping me to get elected. It was a crime that didn’t exist. So now the Dems and their partner, the Fake News Media,.....
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 30 de maio de 2019
....say he fought back against this phony crime that didn’t exist, this horrendous false accusation, and he shouldn’t fight back, he should just sit back and take it. Could this be Obstruction? No, Mueller didn’t find Obstruction either. Presidential Harassment!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 30 de maio de 2019
“Rússia, Rússia, Rússia. Era tudo o que se ouvia no início desta caça às bruxas”, disparava no primeiro tweet, para seguir com uma declaração aos repórteres: “Não, a Rússia não me ajudou. Sabem quem me fez eleger? Sabe quem me elegeu? Eu fui eleito. A Rússia não me ajudou. A Rússia, se fez alguma coisa, foi ajudar o outro lado”.
Uma chuva de tweets para acabar com o habitual e elementar ataque ao carácter do visado, neste caso o procurador especial.
Robert Mueller came to the Oval Office (along with other potential candidates) seeking to be named the Director of the FBI. He had already been in that position for 12 years, I told him NO. The next day he was named Special Counsel - A total Conflict of Interest. NICE!
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) 30 de maio de 2019
“Robert Mueller veio à Sala Oval (junto com outros potenciais candidatos) à procura de ser nomeado diretor do FBI. Uma posição em que já esteve por 12 anos, e eu disse-lhe que não. No dia seguinte, foi nomeado procurador especial - um conflito de interesses total. BOA!”, pode ler-se.
Mueller e o rasto da dúvida
Há dois anos sob suspeita do mais grave dos crimes que poderiam ser atribuídos a um Presidente, o de traição, Donald Trump sempre se disse alvo de uma perseguição sem fundamento, uma espécie de “caça às bruxas”. Desde que entrou na Casa Branca, o caminho de Trump tem sido marcado pelo atrito, não só nas relações com os democratas como também com os elementos da sua própria equipa, com um entra e sai da Administração como nunca foi registado em mandatos presidenciais anteriores.
O resumo do relatório de Mueller alinhavado pelo procurador-geral Bill Barr – nomeado em fevereiro para substituir Jeff Sessions, que começava a criar pruridos no Presidente – chegou no final de março em auxílio de Trump, para deixar na altura a ideia de que ficavam dissipadas todas as suspeitas de contacto com elementos que estariam ligados a Vladimir Putin aquando da corrida às Presidenciais de 2016.
Bill Barr foi o procurador-geral talhado para libertar – na medida exacta – o Relatório Mueller. Quatro páginas foi a decisão. Duas conclusões fatídicas para os democratas: não houve conluio e Donald Trump não obstruiu a Justiça, uma manobra apontada à estratégia democrata que ainda apostava num eventual impeachment do Presidente, numa altura em que acabava de garantir o domínio da câmara dos representantes.
Foi a seguinte declaração de Barr que provocou na altura o júbilo do Trump: “A investigação não estabeleceu que os membros da campanha Trump tenham conspirado ou se tenham coordenado com o governo russo durante a campanha eleitoral”.
“Um ataque ilegal que falhou (An ilegal take-down that failed – numa referência a uma placagem no futebol americano) e espero que agora comecem a olhar para o outro lado [os democratas]”, foi desta forma que Trump resumiu o processo desencadeado em 2017, assim que tomou posse em Washington. Um processo que paralelamente levou a múltiplas demissões, substituições de procuradores e condenações mais ou menos graves dos colaboradores mais próximos, como foi o caso de Paul Manafort e Michael Cohen.
Um dos visados nas investigações foi o primogénito de Trump no referido episódio com a advogada russa na Trump Tower, um caso que seria comentado pelo ideólogo da campanha de Trump. Steve Bannon falou de traição e trapalhada de Donald Trump Jr., o que levaria ao afastamento definitivo entre Trump e Bannon, com ataques e acusações mútuas de loucura e insanidade que chegaram a animar a imprensa no início de 2018.