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Trump vê acusações contra Kavanaugh como "totalmente políticas"

por Andreia Martins - RTP
“É um homem notável (...) com um passado irrepreensível”, refere Trump sobre o juiz nomeado para o Supremo Tribunal Jim Bourg - Reuters

O Presidente norte-americano considera que as acusações de violação e assédio sexual que incidem sobre Brett Kavanaugh têm motivações políticas e que o juiz nomeado por Donald Trump para o Supremo Tribunal dos Estados Unidos é um "homem notável" com um passado "irrepreensível". As declarações surgem um dia depois de a revista The New Yorker ter revelado uma nova acusação de assédio contra o magistrado.

Em declarações à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, o Presidente norte-americano veio esta segunda-feira manifestar total apoio a Brett Kavanaugh, candidato ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos nomeado por Trump.

“É um homem notável (…) perfeito e com um passado irrepreensível”, disse esta segunda-feira Donald Trump, em referência ao magistrado que apontou como substituto do juiz Anthony Kennedy, em julho último.  

O Presidente norte-americano acrescentou que o surgimento “súbito” das acusações contra Kavanaugh comprova o cariz “político” das mesmas, assinalando ainda que estas alegações “altamente infundadas” surgem mais de três décadas depois dos dois presumíveis casos de agressões sexuais.

“Esta é talvez uma das coisas mais injustas que pode acontecer a um candidato. Mas continuo com o juiz Kavanaugh e estou ansioso pela votação”, apontou ainda o Presidente norte-americano.  

As palavras de apoio ao juiz nomeado pela presidência ao Supremo Tribunal chegam menos de 24 horas depois de ter surgido na imprensa aquela que é a segunda acusação de agressão sexual contra Kavanaugh no espaço de um mês.  

O juiz é acusado de tentativa de violação de uma rapariga, durante uma festa, quando ambos frequentavam o ensino secundário, no início dos anos 80, em que Kavanaugh, na altura com 17 anos, terá empurrado a vítima, então com 15 anos, para uma cama, tentando despi-la.  

Christine Blasey Ford, que é atualmente professora universitária, disponibilizou-se a testemunhar contra Kavanaugh perante o Senado na próxima quinta-feira, às 10h00 locais (15h00 em Lisboa), ao que se deverá seguir uma declaração de refutação do magistrado.  

“Apesar das atuais ameaças à sua segurança e à sua vida, a Drª Ford acredita que é importante para os senadores ouvirem-na diretamente. (…) Ford acredita que é importante que os senadores oiçam, diretamente por si, sobre a agressão sexual que sofreu”, informava uma mensagem dos advogados de Christine Blasey Ford, citada pela imprensa norte-americana. 

No domingo, foi a vez de Deborah Ramirez, atualmente com 53 anos. O incidente desta segunda acusação, reportada pela revista The New Yorker, remonta ao ano letivo de 1983-1984, o primeiro ano de Brett Kavanaugh na Universidade de Yale.  

Segundo o depoimento da mulher, que na altura também frequentava o primeiro ano de faculdade, o magistrado agora nomeado para o Supremo Tribunal terá exposto os genitais à sua frente e obrigado a colega a tocá-lo.  

Confessou à publicação norte-americana que se sentiu “envergonhada e humilhada” naquela circunstância e que só não avançou antes com a acusação por reconhecer “falhas de memória” daquela noite, uma vez que estava alcoolizada.  
Guerra política

Com efeito, as duas acusações – que Kanavaugh desmente com veemência - surgem isoladas e não foram ainda corrobadas por potenciais testemunhas. Por exemplo Leland Keyser, uma mulher identificada por Christine Blasey Ford como uma das pessoas presentes na festa, garantiu que “não conhece o senhor Kavanaugh”.

Da mesma forma, o New York Times revela esta segunda-feira que entrevistou “várias pessoas durante a última semana” de forma a tentar confirmar a história de Deborah Ramirez, mas não conseguiu encontrar nenhuma testemunha que certifique a denúncia ou que confirme até se foi Kavanaugh quem se expôs perante a alegada vítima. 

Certo é que estas duas acusações surgem num momento de grande tensão política partidária nos Estados Unidos, quando falta pouco mais de um mês para as eleições intercalares que vão definir a nova distribuição de poderes no Senado e na Câmara dos Representantes.

Enquanto o Partido Democrático pede o apuramento dos factos e quer adiar a votação do novo juiz do Supremo Tribunal até que sejam ouvidas as duas testemunhas, o Partido Republicano acusa o partido adversário de "conspiração".

O senador republicano Lindsey Graham considera que estas acusações representam “o colapso do processo de confirmação de juízes para o Supremo Tribunal”.


Numa série de tweets publicados esta segunda-feira, o republicano refere que esse processo está a ser substituído “por um jogo de adiamentos, fraudes e assassínio de carácter”.  

Já o senador democrata Charles Schumer apelou à Casa Branca para que seja aberta uma investigação sobre Kavanaugh junto do FBI. Também através do Twitter, questionou: “Se o Presidente Trump e os senadores republicanos estão tão convictos de que estas alegações contra o juiz Kavanaugh não são verdadeiras, então porque é que estão a impedir o FBI de verificar antecedentes e investigar? O que é que eles estão a esconder?”.



Nos últimos dias, através de declarações à imprensa, tweets e entrevistas, Donald Trump tem contestado as acusações contra o magistrado que nomeou para o Supremo Tribunal, o órgão de jurisdição de maior relevância nos Estados Unidos.

Para o líder norte-americano, se os alegados abusos “fossem tão graves” como tem sido veiculado, haveria “registo de queixas apresentadas na altura junto das autoridades locais, por ela ou pelos pais”, apontou no Twitter.


Esta segunda-feira, numa entrevista radiofónica citada pelo Washington Post, Donald Trump define Kavanaugh como “um homem fantástico” e volta a questionar a primeira acusação vinda a público, precisamente por esta ter demorado 36 anos a ser exposta.  

As declarações do Presidente norte-americano motivaram várias respostas no Twitter ao longo dos últimos dias através da hashtag #WhyIDindtReport, em que milhares de mulheres, figuras públicas ou não, explicam porque não denunciaram de imediato situações de assédio que experienciaram.

Personalidades como Patti Davis, filha do ex-Presidente Ronald Reagan, ou a ativista Alyssa Milano, por exemplo, escreveram artigos de opinião na imprensa norte-americana onde explicam como o trauma e a vergonha associados a este tipo de casos levam à ocultação de abusos durante vários anos.
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