Em declarações à margem da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, o Presidente norte-americano veio esta segunda-feira manifestar total apoio a Brett Kavanaugh, candidato ao Supremo Tribunal dos Estados Unidos nomeado por Trump.
“É um homem notável (…) perfeito e com um passado irrepreensível”, disse esta segunda-feira Donald Trump, em referência ao magistrado que apontou como substituto do juiz Anthony Kennedy, em julho último.
O Presidente norte-americano acrescentou que o surgimento “súbito” das acusações contra Kavanaugh comprova o cariz “político” das mesmas, assinalando ainda que estas alegações “altamente infundadas” surgem mais de três décadas depois dos dois presumíveis casos de agressões sexuais.
“Esta é talvez uma das coisas mais injustas que pode acontecer a um candidato. Mas continuo com o juiz Kavanaugh e estou ansioso pela votação”, apontou ainda o Presidente norte-americano.
As palavras de apoio ao juiz nomeado pela presidência ao Supremo Tribunal chegam menos de 24 horas depois de ter surgido na imprensa aquela que é a segunda acusação de agressão sexual contra Kavanaugh no espaço de um mês.
O juiz é acusado de tentativa de violação de uma rapariga, durante uma festa, quando ambos frequentavam o ensino secundário, no início dos anos 80, em que Kavanaugh, na altura com 17 anos, terá empurrado a vítima, então com 15 anos, para uma cama, tentando despi-la.
Christine Blasey Ford, que é atualmente professora universitária, disponibilizou-se a testemunhar contra Kavanaugh perante o Senado na próxima quinta-feira, às 10h00 locais (15h00 em Lisboa), ao que se deverá seguir uma declaração de refutação do magistrado.
“Apesar das atuais ameaças à sua segurança e à sua vida, a Drª Ford acredita que é importante para os senadores ouvirem-na diretamente. (…) Ford acredita que é importante que os senadores oiçam, diretamente por si, sobre a agressão sexual que sofreu”, informava uma mensagem dos advogados de Christine Blasey Ford, citada pela imprensa norte-americana.
No domingo, foi a vez de Deborah Ramirez, atualmente com 53 anos. O incidente desta segunda acusação, reportada pela revista The New Yorker, remonta ao ano letivo de 1983-1984, o primeiro ano de Brett Kavanaugh na Universidade de Yale.
Segundo o depoimento da mulher, que na altura também frequentava o primeiro ano de faculdade, o magistrado agora nomeado para o Supremo Tribunal terá exposto os genitais à sua frente e obrigado a colega a tocá-lo.
Confessou à publicação norte-americana que se sentiu “envergonhada e humilhada” naquela circunstância e que só não avançou antes com a acusação por reconhecer “falhas de memória” daquela noite, uma vez que estava alcoolizada.
Guerra política
Com efeito, as duas acusações – que Kanavaugh desmente com veemência - surgem isoladas e não foram ainda corrobadas por potenciais testemunhas. Por exemplo Leland Keyser, uma mulher identificada por Christine Blasey Ford como uma das pessoas presentes na festa, garantiu que “não conhece o senhor Kavanaugh”.
Da mesma forma, o
New York Times revela esta segunda-feira que
entrevistou “várias pessoas durante a última semana” de forma a tentar
confirmar a história de Deborah Ramirez, mas não conseguiu encontrar
nenhuma testemunha que certifique a denúncia ou que confirme até se foi Kavanaugh quem se expôs perante a alegada vítima.
Certo é que estas duas acusações surgem num momento de grande
tensão política partidária nos Estados Unidos, quando falta pouco mais
de um mês para as eleições intercalares que vão definir a nova
distribuição de poderes no Senado e na Câmara dos Representantes.
Enquanto o Partido Democrático pede o apuramento dos factos e quer adiar
a votação do novo juiz do Supremo Tribunal até que sejam ouvidas as
duas testemunhas, o Partido Republicano acusa o partido adversário de
"conspiração".
O senador republicano Lindsey Graham considera que estas acusações representam “o colapso do processo de confirmação de juízes para o Supremo Tribunal”.
Numa série de tweets publicados esta segunda-feira, o republicano refere que esse processo está a ser substituído “por um jogo de adiamentos, fraudes e assassínio de carácter”.
Já o senador democrata Charles Schumer apelou à Casa Branca para que seja aberta uma investigação sobre Kavanaugh junto do FBI. Também através do Twitter, questionou: “Se o Presidente Trump e os senadores republicanos estão tão convictos de que estas alegações contra o juiz Kavanaugh não são verdadeiras, então porque é que estão a impedir o FBI de verificar antecedentes e investigar? O que é que eles estão a esconder?”.
Nos últimos dias, através de declarações à imprensa, tweets e entrevistas, Donald Trump tem contestado as acusações contra o magistrado que nomeou para o Supremo Tribunal, o órgão de jurisdição de maior relevância nos Estados Unidos.
Para o líder norte-americano, se os alegados abusos “fossem tão graves” como tem sido veiculado, haveria “registo de queixas apresentadas na altura junto das autoridades locais, por ela ou pelos pais”, apontou no Twitter.
Esta segunda-feira, numa entrevista radiofónica citada pelo
Washington Post, Donald Trump define Kavanaugh como “um homem fantástico” e volta a questionar a primeira acusação vinda a público, precisamente por esta ter demorado 36 anos a ser exposta.
As declarações do Presidente norte-americano
motivaram várias respostas no Twitter ao longo dos últimos dias através da
hashtag #WhyIDindtReport, em que milhares de mulheres, figuras públicas ou não, explicam porque não denunciaram de imediato situações de assédio que experienciaram.
Personalidades como Patti Davis, filha do ex-Presidente Ronald Reagan, ou a ativista Alyssa Milano, por exemplo, escreveram artigos de opinião na imprensa norte-americana onde explicam como o trauma e a vergonha associados a este tipo de casos levam à ocultação de abusos durante vários anos.