Trump vê China e Rússia como ameaças à segurança dos EUA

por Andreia Martins - RTP
Segundo excertos do documento, os dois países estão “determinados a tornar as economias menos livres e menos justas" Jonathan Ernst - Reuters

O primeiro documento de estratégia nacional da Administração Trump, a ser apresentado esta segunda-feira, declara a China e a Rússia como potências “revisionistas” que desafiam o poder, a segurança e a prosperidade dos Estados Unidos. A nova estratégia deixa cair as alterações climáticas da lista de potenciais “ameaças” ao país.

“Depois de ter sido considerado um fenómeno do século anterior, a grande competição pelo poder voltou”. No primeiro documento de estratégia de Segurança Nacional da era Trump, os Estados Unidos passam a olhar para a China e a Rússia como os grandes concorrentes e desafiadores do status quo da ordem internacional.

Segundo excertos do documento disponibilizados pela Casa Branca, os dois países em causa estão “determinados a tornar as economias menos livres e menos justas, desenvolver o poder militar, controlar informação e dados, reprimir as respetivas sociedades e expandir a sua influência”.

“Estes concorrentes exigem aos Estados Unidos que repensem a política seguida nas últimas duas décadas – políticas baseadas na suposição que a cooperação com países rivais e a sua inclusão nas instituições internacionais de comércio global os transformaria em atores benignos e em parceiros fiáveis. Em grande parte, esta premissa viria a revelar-se falsa”, acrescenta.

Segundo o The New York Times, o documento de Trump delineia um plano detalhado para fazer face às ambições económicas da China, mas deixa por esclarecer como será feito o combate a ataques informáticos, semelhantes aos que terão sido usados por Moscovo para interferir nas eleições presidenciais norte-americanas.

Não obstante a posição amigável adotada pelo Presidente norte-americano nas relações com os dois líderes, Xi Jinping e Vladimir Putin, o documento assinala os perigos das incursões militares de tropas russas na Ucrânia e na Geórgia, bem como as agressões de Pequim no Mar do Sul da China, movimentações que destabilizam os dois diferentes espaços geográficos.

Esta nova estratégia que irá passar a reger a atuação dos Estados Unidos nos palcos internacionais foi delineada nos últimos meses pelo próprio Presidente e os seus principais conselheiros, inspirada na postura “America First” adotada por Donald Trump chegou à Casa Branca, em janeiro.

O jornal The New York Times revela ainda que a estratégia a ser apresentada esta segunda-feira foi inspirada pelos discursos de Donald Trump durante a campanha presidencial, em 2016, mas também por outros discursos já como Presidente, proferidos na Europa, Ásia e nas Nações Unidas.
E as alterações climáticas?
Ainda no mesmo documento, Donald Trump define como grandes ameaças aos interesses norte-americanos a atuação da Coreia do Norte, Irão e de grupos de terrorismo islâmico. No caso de Pyongyang, a nova estratégia de Segurança Nacional assinala os perigos de uma guerra biológica.

“À medida que os mísseis crescem em números, tipos e eficácia (…) estes são os meios mais prováveis para Estados como a Coreia do Norte usarem uma bomba nuclear contra os Estados Unidos. A Coreia do Norte está a tentar desenvolver armas químicas e biológicas que também poderiam ser incorporadas em mísseis”, pode ler-se no documento.

Nesta longa lista de ameaças a nível global não consta, no entanto, qualquer alínea dedicada às alterações climáticas, em contraste com o último documento de Estratégia de Segurança Nacional da Administração Obama, que havia definido o combate ao aquecimento global como “uma prioridade de segurança nacional”.
 
“Os Estados Unidos vão continuar a avançar com uma abordagem equilibrada entre a segurança energética, o desenvolvimento económico e a proteção ambiental”, lê-se num dos excertos citados pela imprensa norte-americana.

Os discursos e a posição do Presidente norte-americano na questão ambiental deixavam antever esta nova ideologia expressa no documento estratégico. Em junho último, Donald Trump anunciou a retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris, alegando que algumas das medidas seriam prejudiciais para a economia norte-americana.

Esta posição omissa em relação às alterações climáticas assume contornos polémicos a nível global - os Estados Unidos são, neste momento, o único país que rejeitou o Acordo de Paris, assinado em 2015 - mas também a nível interno, uma vez que o próprio secretário norte-americano da Defesa, James Mattis, reconheceu no passado que a problemática ambiental é "um problema de segurança nacional".

Um responsável da Administração Trump citado pelo The Guardian refere que as questões climáticas "não são identificadas como uma ameaça à segurança nacional, mas o clima e a importância do ambiente e da gestão ambiental são discutidas" no documento.

Outro conselheiro próximo de Trump ouvido pelo mesmo jornal destaca, no entanto, que a grande diferença entre o primeiro documento estratégico de Segurança Nacional e os anteriores é mesmo a ênfase na segurança ao nível fronteiriço e a vertente económica.

"A parte económica recebe muito mais atenção. Há a insistência que as questões de segurança económica são também questões de segurança nacional", refere.
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