Turquia. Desacerto em alegada troca de prisioneiros na origem da crise

por RTP
A conversa entre Donald Trump e Recep Tayyip Erdogan aconteceu à margem da cimeira da NATO Reuters

O Presidente norte-americano terá interpretado mal uma resposta do homólogo turco sobre a troca do pastor Andrew Brunson. A interpretação de Donald Trump e a consequente falta de ação de Erdoğan terão motivado as sanções económicas, com impacto nos mercados internacionais.

Em plena crise económica e política na Turquia, surgem agora mais explicações para o súbito anúncio de Donald Trump, na passada sexta-feira, em duplicar as tarifas de importação de aço e alumínio provenientes da Turquia.

O Presidente dos Estados Unidos terá entendido que ficou combinado com o homólogo turco a troca em simultâneo do pastor americano Andrew Brunson por uma mulher turca, Ebru Özkan, prisioneira em Israel por alegadas ligações ao Hamas.

Escreve o jornal britânico The Guardian com base em “fontes de Ancara”, que a permuta de prisioneiros foi combinada na cimeira da NATO de 11 de julho. Ainda de acordo com o jornal, a mulher foi libertada no dia a seguir à cimeira, por intermédio do Presidente norte-americano, enquanto o pastor foi transferido para prisão domiciliária, na cidade de Izmir, a 25 de julho.

Citando “um observador bem informado e próximo” dos presidentes, o jornal escreve que a conversa foi mal interpretada pelo Presidente dos Estados Unidos. Trump acreditou ter conseguido um acordo com Erdoğan para a libertação imediata do norte-americano Andrew Brunson, depois de ter convencido o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu a pedir a libertação de Özkan.

Já Erdoğan terá concordado com o início do processo de libertação de Brunson, a viver há 23 anos na Turquia. Primeiro, o detido seria levado para prisão domiciliária e numa fase posterior a libertação

De acordo com a fonte, a conversa foi pedida pelo presidente turco à margem da cimeira da NATO. Além dos presidentes, apenas um tradutor estava presente. Erdoğan terá pedido a Trump para interceder pela mulher na prisão, ao que o presidente norte-americano terá respondido: “Preciso de alguma tração relativa ao pastor primeiro”. Ainda segundo a fonte de Ancara, quando o homólogo turco deu o “OK”, estava a referir-se ao início processo de libertação, e que estavam a trabalhar no assunto, embora não significasse a libertação imediata.

Nessa altura, terá chegado o vice-presidente Mike Pence “com considerações sobre as eleições intercalares e baralhou as coisas. Trump confundiu um processo com um acordo”, conta a fonte não identificada.

A comunidade evangélica, uma importante base de apoio de Trump, tem insistido na libertação de Brunson. Esta causa tem sido defendida publicamente pelo vice-presidente que, em julho, ameaçava: “se a Turquia não tomar iniciativas para libertar este inocente homem de fé e mandá-lo de volta para a América, os Estados Unidos vão impor sanções significativas à América”.

Mike Pence e os evangélicos alegam que o pastor foi preso por causa da fé, uma acusação rejeitada por Ancara. O pastor Brunson foi detido em outubro de 2016, três meses após uma tentativa de golpe falhada contra Erdoğan, alegadamente organizada por Fethullah Gülen, clérigo opositor ao regime turco e a viver nos Estados Unidos dos últimos 20 anos.

A rejeição de Ancara em atribuir motivos religiosos à detenção poderá estar também relacionada com eventuais danos no sector do turismo.

Na passada segunda-feira, após a instauração das sanções, a Turquia negava ter em curso a libertação de Andrew Brunson.
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