Ucranianos escolhem entre Ianukovitch e Timochenko em segunda volta tensa
Perto de 37 milhões de eleitores são hoje chamados a escolher o próximo Presidente da Ucrânia. Viktor Ianukovitch, partidário de uma aproximação à esfera de influência da Rússia, parte como favorito para a segunda volta das eleições. A actual primeira-ministra Iulia Timochenko promete construir uma “Ucrânia europeia”, se conseguir bater o adversário.
Mais de cinco anos depois da Revolução Laranja, que impediu Ianukovitch de ascender à Presidência mercê de um processo eleitoral eivado de fraudes, o candidato pró-russo surge agora reabilitado aos olhos de grande parte do eleitorado. Iulia Timochenko, que insiste em apresentar-se como herdeira e figura de proa dos acontecimentos de Novembro de 2004, espera frustrar o favoritismo atribuído ao líder da Oposição. Mas a actual primeira-ministra aparece fragilizada por cinco anos de sucessivas crises políticas, a começar pelo afastamento face a Viktor Iuchtchenko, o homem de rosto castigado que a vertigem da Revolução Laranja conduziu à Chefia do Estado.
Ao votar na sua cidade natal, Dnipropetrovsk, no Leste do país, Timochenko arriscou um discurso de campanha, afirmando pugnar "por uma nova Ucrânia, uma Ucrânia bela e europeia onde as pessoas viverão felizes". Na véspera, o mentor da campanha de Viktor Ianukovitch deixou claro que o Partido das Regiões estará preparado para contestar nas ruas uma inesperada vitória da primeira-ministra, acusando o campo laranja de manipular boletins susceptíveis de subverter resultados em Donetsk.
É este o clima predominante em Kiev: se o campo pró-russo fala de fraudes cometidas pela herdeira da Revolução Laranja, o braço-direito de Timochenko, Olexander Turtchinov, queixa-se da "inacção da Procuradoria face a violações da lei nas comissões eleitorais" de Donetsk, Lugansk e Zaporijia.
Tensão nas ruas da capital
As acusações mútuas de fraude constituíram, assim, o prato forte da campanha nas últimas semanas. No sábado, o vice-ministro do Interior, Iuri Lutsenko, tido como próximo da primeira-ministra, alegava que o Partido das Regiões estaria a tentar transportar dois mil antigos operacionais do Exército e das forças de segurança para Kiev com o objectivo de "organizar várias manifestações e paralisar algumas estruturas administrativas". Iulia Timochenko promete também chamar os seus apoiantes para as ruas da capital, caso se verifique uma repetição das fraudes de 2004.
Foi com ironia que o semanário ucraniano Korrespondent descreveu, há dois dias, o momento político do país: "Escolhamos juntos entre uma estagnação permanente e uma revolução crónica".
Numa tentativa quase desesperada de reconquistar os dez pontos que a separam do candidato pró-russo, a primeira-ministra começou, nos últimos dias, a preconizar a melhoria das relações com Moscovo. Da mesma forma, o líder do Partido das Regiões tratou de fazer a apologia de um reforço da cooperação política e económica com a União Europeia.
"Marioneta" contra "laranjas"
Na assembleia de voto número 73, em Kiev, a agência France Presse ouviu o testemunho da sexagenária Elena Poliakova, que confiou o seu voto a Iulia Timochenko: "Confio nela. Ianukovitch faz parte dos oligarcas, é uma marioneta que nem sabe falar".
Iuri, de 30 anos, que votou no candidato pró-russo, explicou à agência de notícias por que razão é "contra os laranjas": "Eles estiveram no poder e não fizeram nada. Timochenko promete a desordem, mas eu já não acredito nela".
As primeiras projecções à boca das urnas são publicadas a partir das 18h00 deste domingo.