UE procura posição comum sobre refugiados russos depois de mobilização de Putin
Depois de, na quarta-feira, o presidente da Rússia ter anunciado uma mobilização parcial de militares reservistas para combaterem na Ucrânia, muitos grupos antiguerra deram início a protestos no país e milhares de cidadãos tentaram abandonar território russo. A Comissão Europeia tem de estabelecer, nos próximos dias, uma posição comum sobre os pedidos de entrada de cidadãos russos que procuram fugir da mobilização. Para já, cada país terá de avaliar caso a caso se permite a entrada dessas pessoas, embora os países bálticos tenham fechado as fronteiras para a maioria dos requerentes de asilo russos.
Numa declaração pública, a Comissão Europeia admitiu que a acrescentar ao “imenso sofrimento causado ao povo russo”, agora a Rússia decidiu aumentar o custo da guerra “também para o povo russo através de uma mobilização parcial”.
A Comissão Europeia está, atualmente, a discutir qual a posição comum que vai assumir sobre os refugiados russos que querem evitar a mobilização parcial anunciada por Vladimir Putin.
"E também sentimos simpatia por essas famílias russas que temem pelos seus filhos, irmãos ou pais que estão a ser enviados para morrer numa guerra sem sentido, uma guerra ilegal. Então, percebemos essas pessoas e isso é algo que os ministros da União Europeia também estão a levar em consideração e a debater".
"A conclusão é que estamos cientes da situação. Isso já está a acontecer. Meio milhão de russos deixaram o país desde o início desta invasão. As pessoas mais brilhantes, as pessoas mais talentosas estão a sair, mas também encontraram o seu lugar na Europa ou em todo o mundo. E estamos a lidar com esse problema e a discutir as maneiras de fazer exatamente o melhor para mostrar a nossa solidariedade e também para garantir a segurança dos Estados-membros".
Os países bálticos, integrantes da UE e que fazem fronteira com a Polónia, proibiram a emissão de vistos a cidadão russos.
Numa conferência de imprensa, na quarta-feira, o ministro do Interior da Estónia, Lauri Laanemets, assumiu a invasão da Ucrânia como uma “responsabilidade coletiva dos cidadãos russos” e que, por essa razão, permitira a entrada dos que agora evitam um possível serviço militar seria uma violação das sanções de Bruxelas contra Moscovo.
“O último anúncio de Putin reforça de certa forma as sanções que impomos até ao momento, porque esperamos aumentar o descontentamento entre a população”, disse Laanemets. “Já não são apenas soldados profissionais, pessoas de regiões remotas ou condenados que estão a ser enviados para a linha da frente, mas o desejo é que todos sejam relegados a carne para canhão”.
A recusa em cumprir o dever cívico na Rússia, continuou, “não constitui motivo suficiente para receber asilo noutro país”.
Através do Twitter, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Letónia, Edgars Rinkevics, citou preocupações de segurança para a recusa do país.
“Muitos dos russos que agora fogem da Rússia por causa da mobilização estavam bem a matar ucranianos, não protestaram antrs, não é certo considerá-los como objetores conscientes”, escreveu na rede social. “Há riscos de segurança consideráveis se os aceitarmos e muitos países fora da UE para onde podem ir”.
Many of Russians who now flee Russia because of mobilisation were fine with killing Ukrainians, they did not protest then, it is not right to consider them as conscious objectors. There are considerable security risks admitting them and plenty of countries outside EU to go
— Edgars Rinkēvičs (@edgarsrinkevics) September 22, 2022
Já o Ministério do Interior da Lituânia disse que cada caso de asilo será ponderado separadamente, mas acrescentou que o país "não tem o objetivo e a capacidade de emitir vistos por motivos humanitários para todos os cidadãos russos que os solicitarem". E o ministro da Defesa da Lituânia, Arvydas Anusauskas, disse que “ser convocado para o exército não é suficiente” como motivo para os russos obterem asilo no país, que faz fronteira com o enclave russo de Kaliningrado.
"Compreendo que os russos estejam a fugir de decisões cada vez mais desesperadas de Putin. Mas quem foge do seu país porque não quer cumprir um dever imposto pelo seu próprio Estado não cumpre os critérios para receber um visto humanitário", afirmou Jan Lipavsky, chefe da diplomacia da República Checa, país que detém a presidência rotativa da União Europeia.
A República Checa parou de emitir vistos para russos após a invasão, mas depois abriu uma exceção para casos humanitários.