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Guerra na Ucrânia
UE pronta para acordo comercial com os EUA. "Todas as opções em cima da mesa"
A presidente da Comissão Europeia afirma que a União Europeia "defenderá os interesses europeus na medida do necessário", enquanto os EUA ameaçam impor 50 por cento de direitos aduaneiros sobre o aço. Ursula von der Leyen, acrescenta que a Europa está pronta para um acordo comercial com Donald Trump, mas que "todas as opções continuam em cima da mesa".
Ursula von der Leyen afirmou que estava a analisar o último documento de negociação dos EUA que recebeu na quinta-feira. “A nossa mensagem hoje é clara, estamos prontos para um acordo”, disse aos jornalistas, depois de informar os líderes da União Europeia numa cimeira em Bruxelas. "
“Ao mesmo tempo, estamos a preparar-nos para a possibilidade de não se chegar a um acordo satisfatório... e defenderemos os interesses europeus na medida do necessário. Em suma, todas as opções permanecem em cima da mesa".
Von der Leyen também falou também sobre o “início de uma nova conceção” da Organização Mundial do Comércio, devido à preocupação de que o sistema comercial global esteja a ser prejudicado por guerras comerciais e acordos bilaterais.
A presidente da Comissão Europeia explicou que o bloco Ásia-Pacífico CPTPP, que também inclui o Reino Unido, está interessado numa “colaboração estruturada” com a UE, que pretende o mesmo.
“Podemos pensar nisto como o início da reformulação da OMC para mostrar ao mundo que o comércio livre com um grande número de países é possível com base em regras”, realçou.
A Comissão é responsável pelo comércio em nome dos 27 Estados-Membros da União Europeia, mas queria uma orientação sobre como abordar as negociações economicamente críticas com a Casa Branca. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, que também esteve presente na conferencia de imprensa de Ursula von der Leyen, defendeu que "um acordo é sempre melhor do que um conflito, e zero direitos aduaneiros é sempre melhor do que um direito aduaneiro".
"A incerteza é a pior coisa para a nossa economia e temos de avançar para dar certezas aos nossos investidores, aos nossos trabalhadores, às nossas empresas, o mais rapidamente possível", apelou.
António Costa defendeu ainda, como abordado no Conselho Europeu, o "reforço da posição da Europa no palco mundial", e que para tal contribuirão "as próximas cimeiras com o Japão, a China e os países da América Latina, das Caraíbas e da União Africana, na segunda metade deste ano".
Divergências entre Paris e Berlim
À medida que o prazo de Trump se aproxima, começam a surgir divergências entre a Alemanha e a França sobre a forma de lidar com as negociações com os EUA.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que um acordo comercial rápido e simples é melhor do que “lento e complicado”.
O novo chanceler de centro-direita está sob forte pressão dos fabricantes de automóveis alemães e de outros exportadores, alguns dos quais argumentam que um acordo assimétrico - ou seja, tarifas mais elevadas dos EUA sobre os produtos europeus - pode ser melhor do que nenhum acordo.
Merz afirmou também que os líderes europeus estão “basicamente unidos” na conclusão do acordo comercial do Mercosul com o bloco comercial sul-americano.
Já o presidente francês argumentou que aceitar uma relação comercial desigual seria prejudicial para a competitividade da Europa a longo prazo.
Emmanuel Macron, que também deseja um acordo comercial rápido e pragmático, afirmou que o seu país não aceitará condições que não sejam equilibradas. Se a taxa de base dos EUA de 10 por cento se mantiver, a resposta da Europa terá de ter um impacto equivalente, sublinhou.
Os responsáveis franceses defenderam que a Comissão deveria adotar uma posição mais firme, nomeadamente visando os serviços americanos. “A nossa boa vontade não deve ser vista como uma fraqueza”, acrescentou Macron.
Para o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, “conseguir um acordo é importante para termos certezas, para conhecermos o cenário que nos espera e para que a indústria conheça o cenário que a espera, para podermos proteger o emprego, que é a nossa prioridade número um”.
O primeiro-ministro espanhol considera que a ameaça tarifária de Trump era “duplamente injusta”, porque o seu país tem um défice comercial com os EUA.
Pedro Sánchez respondeu depois de Trump ter dito que a Espanha “pagaria o dobro”, após Madrid se ter recusado a comprometer-se com o objetivo de 5% de despesas com a NATO.
As tarifas de Trump à União Europeia
Trump ameaçou impor tarifas de 50 por cento sobre todos os produtos da UE a partir de 9 de julho, a menos que as duas partes cheguem a um acordo.
A maioria dos produtos da UE já está sujeita a uma tarifa de 10 por cento, com taxas de 25 por cento sobre automóveis e peças de automóveis e de 50 por cento sobre o aço e o alumínio.
Entre as opções de reequilíbrio da UE figura um imposto sobre a publicidade digital, que afetaria gigantes americanos como a Google, a Meta, a Apple, a X e a Microsoft, e que se repercutiria no excedente comercial de serviços que os EUA têm com a União Europeia.
Outras matérias em cima da mesa
A cimeira da UE tem como ponto de partida uma reunião da NATO realizada esta semana, que acordou um aumento drástico das despesas com a defesa da aliança militar, mas que deixou alguns países europeus com dificuldades em pagar e a Espanha a exigir explicitamente uma cláusula de não participação.
Para além dos direitos aduaneiros, o bloco da União Europeia também tem de abordar uma série de outras questões, incluindo o seu apoio à Ucrânia e a perspetiva de adesão à UE de um país que ainda está em guerra contra a Rússia com armas nucleares. A Hungria opõe-se firmemente.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tinha instado a UE a adotar um novo pacote de sanções contra a Rússia, visando o seu comércio de petróleo e os seus bancos, bem como a dar um sinal claro sobre a adesão do seu país ao bloco europeu.
“O que é necessário agora é uma mensagem política clara - que a Ucrânia está firmemente no caminho europeu e que a Europa mantém as suas promessas”, disse Zelensky aos líderes da UE.
Para o presidente ucraniano, “qualquer atraso da União Europeia nesta altura pode criar um precedente mundial - uma razão para duvidar das palavras e dos compromissos da Europa.”
À margem da cimeira, os dirigentes da UE procuraram igualmente dissipar as preocupações da Eslováquia e da Hungria quanto ao fim do seu acesso ao gás russo, tal como previsto no plano de Bruxelas para eliminar progressivamente todas as importações de gás russo até ao final de 2027.
“Ao mesmo tempo, estamos a preparar-nos para a possibilidade de não se chegar a um acordo satisfatório... e defenderemos os interesses europeus na medida do necessário. Em suma, todas as opções permanecem em cima da mesa".
Von der Leyen também falou também sobre o “início de uma nova conceção” da Organização Mundial do Comércio, devido à preocupação de que o sistema comercial global esteja a ser prejudicado por guerras comerciais e acordos bilaterais.
A presidente da Comissão Europeia explicou que o bloco Ásia-Pacífico CPTPP, que também inclui o Reino Unido, está interessado numa “colaboração estruturada” com a UE, que pretende o mesmo.
“Podemos pensar nisto como o início da reformulação da OMC para mostrar ao mundo que o comércio livre com um grande número de países é possível com base em regras”, realçou.
A Comissão é responsável pelo comércio em nome dos 27 Estados-Membros da União Europeia, mas queria uma orientação sobre como abordar as negociações economicamente críticas com a Casa Branca. O presidente do Conselho Europeu, António Costa, que também esteve presente na conferencia de imprensa de Ursula von der Leyen, defendeu que "um acordo é sempre melhor do que um conflito, e zero direitos aduaneiros é sempre melhor do que um direito aduaneiro".
"A incerteza é a pior coisa para a nossa economia e temos de avançar para dar certezas aos nossos investidores, aos nossos trabalhadores, às nossas empresas, o mais rapidamente possível", apelou.
António Costa defendeu ainda, como abordado no Conselho Europeu, o "reforço da posição da Europa no palco mundial", e que para tal contribuirão "as próximas cimeiras com o Japão, a China e os países da América Latina, das Caraíbas e da União Africana, na segunda metade deste ano".
Divergências entre Paris e Berlim
À medida que o prazo de Trump se aproxima, começam a surgir divergências entre a Alemanha e a França sobre a forma de lidar com as negociações com os EUA.
O chanceler alemão, Friedrich Merz, afirmou que um acordo comercial rápido e simples é melhor do que “lento e complicado”.
O novo chanceler de centro-direita está sob forte pressão dos fabricantes de automóveis alemães e de outros exportadores, alguns dos quais argumentam que um acordo assimétrico - ou seja, tarifas mais elevadas dos EUA sobre os produtos europeus - pode ser melhor do que nenhum acordo.
Merz afirmou também que os líderes europeus estão “basicamente unidos” na conclusão do acordo comercial do Mercosul com o bloco comercial sul-americano.
Já o presidente francês argumentou que aceitar uma relação comercial desigual seria prejudicial para a competitividade da Europa a longo prazo.
Emmanuel Macron, que também deseja um acordo comercial rápido e pragmático, afirmou que o seu país não aceitará condições que não sejam equilibradas. Se a taxa de base dos EUA de 10 por cento se mantiver, a resposta da Europa terá de ter um impacto equivalente, sublinhou.
Os responsáveis franceses defenderam que a Comissão deveria adotar uma posição mais firme, nomeadamente visando os serviços americanos. “A nossa boa vontade não deve ser vista como uma fraqueza”, acrescentou Macron.
Para o primeiro-ministro irlandês, Micheál Martin, “conseguir um acordo é importante para termos certezas, para conhecermos o cenário que nos espera e para que a indústria conheça o cenário que a espera, para podermos proteger o emprego, que é a nossa prioridade número um”.
O primeiro-ministro espanhol considera que a ameaça tarifária de Trump era “duplamente injusta”, porque o seu país tem um défice comercial com os EUA.
Pedro Sánchez respondeu depois de Trump ter dito que a Espanha “pagaria o dobro”, após Madrid se ter recusado a comprometer-se com o objetivo de 5% de despesas com a NATO.
As tarifas de Trump à União Europeia
Trump ameaçou impor tarifas de 50 por cento sobre todos os produtos da UE a partir de 9 de julho, a menos que as duas partes cheguem a um acordo.
A maioria dos produtos da UE já está sujeita a uma tarifa de 10 por cento, com taxas de 25 por cento sobre automóveis e peças de automóveis e de 50 por cento sobre o aço e o alumínio.
A União Europeia acordou, mas não impôs, tarifas sobre 21 mil milhões de euros (24,55 mil milhões de dólares) de bens americanos e está a debater um novo pacote de tarifas sobre até 95 mil milhões de euros de importações americanas.
Segundo Bruxelas, está em causa uma taxa média de direitos aduaneiros dos Estados Unidos mais elevada do que na década de 1930.Atualmente, 379 mil milhões de euros em exportações da UE para os Estados Unidos, o equivalente a 70 por cento do total, estão sujeitos às novas tarifas (incluindo as suspensas temporariamente) desde que a nova administração dos Estados Unidos tomou posse, em janeiro passado.
Entre as opções de reequilíbrio da UE figura um imposto sobre a publicidade digital, que afetaria gigantes americanos como a Google, a Meta, a Apple, a X e a Microsoft, e que se repercutiria no excedente comercial de serviços que os EUA têm com a União Europeia.
Outras matérias em cima da mesa
A cimeira da UE tem como ponto de partida uma reunião da NATO realizada esta semana, que acordou um aumento drástico das despesas com a defesa da aliança militar, mas que deixou alguns países europeus com dificuldades em pagar e a Espanha a exigir explicitamente uma cláusula de não participação.
Para além dos direitos aduaneiros, o bloco da União Europeia também tem de abordar uma série de outras questões, incluindo o seu apoio à Ucrânia e a perspetiva de adesão à UE de um país que ainda está em guerra contra a Rússia com armas nucleares. A Hungria opõe-se firmemente.
O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tinha instado a UE a adotar um novo pacote de sanções contra a Rússia, visando o seu comércio de petróleo e os seus bancos, bem como a dar um sinal claro sobre a adesão do seu país ao bloco europeu.
“O que é necessário agora é uma mensagem política clara - que a Ucrânia está firmemente no caminho europeu e que a Europa mantém as suas promessas”, disse Zelensky aos líderes da UE.
Para o presidente ucraniano, “qualquer atraso da União Europeia nesta altura pode criar um precedente mundial - uma razão para duvidar das palavras e dos compromissos da Europa.”
À margem da cimeira, os dirigentes da UE procuraram igualmente dissipar as preocupações da Eslováquia e da Hungria quanto ao fim do seu acesso ao gás russo, tal como previsto no plano de Bruxelas para eliminar progressivamente todas as importações de gás russo até ao final de 2027.
No entanto, antes do início da cimeira, o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, afirmou que iria bloquear a votação do 18.º pacote de sanções europeias contra a Rússia até que as preocupações eslovacas sobre o gás fossem abordadas.
c/ Agências